O novo terror coreano transforma o cotidiano de um apartamento em um pesadelo auditivo.

Ruídos (Noise) é um longa-metragem de estreia da diretora sul-coreana Kim Soo-jin, que também assina parte do roteiro ao lado de Lee Je-hui e Kim Yong-hwan. A produção é da Finecut, distribuída pela By4M Studio, e rapidamente se tornou um dos destaques do cinema de terror por sua ambição técnica e narrativa. Foi selecionado para exibição no festival de Sitges, entre outros, o que já coloca o filme em outro patamar de reconhecimento internacional.

O filme estreou com sucesso na Coreia, atingindo números altos de ocupação nas salas e chamando atenção para o design de som, ambientação urbana e uma proposta de terror psicológico que explora o cotidiano como cenário de medo.

Ruídos se desenrola em um prédio de apartamentos onde barulhos entre andares, vizinhos hostis, e o desaparecimento misterioso de uma irmã misturam-se com elementos sobrenaturais. A protagonista é Ju-young (Lee Sun-bin), que possui limitação auditiva. Isso já cria uma tensão extra por ela não conseguir distinguir bem o que está acontecendo ao redor.

Um filme repleto de tensão

Kim Soo-jin, Lee Je-hui e Kim Yong-hwan costuram com precisão os temos referentes ao isolamento urbano, deficiência auditiva e a paranoia dos moradores. Isso resulta em um suspense que viaja entre o que é real e o que é imaginário. De início, dá para imaginar se o problema é somente com a mulher que está incomodada, se tem alguém fazendo hora com ela ou se realmente tem algo sobrenatural acontecendo.

O primeiro ato do filme é ótimo, entretanto depois disso a narrativa sofre pequenos tropeços. A repetição de cenas de investigação e tensão sonora enfraquece um pouco do avanço dramático. Há momentos em que o roteiro parece indeciso entre mergulhar mais fundo no terror psicológico ou aliviar a tensão com pausas longas demais.

Saindo um pouco do terror, Ruídos traz também uma crítica social referente ao o barulho entre apartamentos. O famoso interfloor noise, problema comum nas grandes cidades coreanas, é uma metáfora para o colapso da convivência moderna. Dessa forma, o filme reflete sobre como o espaço compartilhado, quando invadido, se torna terreno fértil para o medo, o isolamento e a desconfiança.

Sem entregar spoilers, o clímax de Ruídos segue caminhos já familiares ao gênero, o vizinho ameaçador, as revelações, e um toque de sentimentalismo. Nada que destrua a experiência, mas reduz a força da originalidade que o longa vinha mantendo.

Ruídos foto 1
Crédito: Reprodução

O som como protagonista

A montagem do filme foi muito bem feita, trazendo tensão a todo momento. Isso faz com que o espectador fique refém do som, e até a sua ausência causa desconforto em determinados momentos. Com isso, o som é o grande destaque do filme, sendo um dos protagonistas. O design de som amplifica ruídos do cotidiano. Assim, passos, portas rangendo, goteiras e vozes abafadas se misturam com a própria percepção limitada da protagonista e cria uma experiência quase sensorial. Além disso, a deficiência auditiva de Ju-young faz o público dividir sua vulnerabilidade, sentindo o medo através do que se ouve (ou não), trazendo uma claustrofobia sonora.

No elenco, Lee Sun-bin entrega uma atuação impressionante como Ju-young, transmitindo vulnerabilidade, frustração e um crescimento emocional convincente conforme mergulha na busca pela irmã desaparecida. Han Su-ah, como Ju-hee, a irmã sumida, complementa a trama com uma presença fantasmagórica e inquietante. Já Ryu Kyung-soo, seu vizinho ambíguo é uma das figuras mais perturbadoras do filme, equilibrando simpatia e ameaça com uma naturalidade desconcertante.

A fotografia aposta em tons frios e espaços apertados, com muitos corredores, apartamentos sobrepostos e iluminação escassa, reforçando o desconforto urbano que o filme quer explorar.

Ruídos foto 2
Crédito: Reprodução

Vale a pena assistir?

Sim, especialmente se você é fã de terror que joga com o psicológico, com medo vindo não de sustos fáceis, mas do desconforto cotidiano, do que se esconde em paredes finas, vizinhança ruim, ruídos que perturbam. Em sala de cinema, com som potente, Ruídos provavelmente entrega ainda mais. Se gosta de terror sonoro, dramas de tensão e histórias com emoção, esse é um dos destaques recentes do gênero.

Por fim, Ruídos é um filme com atuações competentes, direção promissora, uso de som como força narrativa real, e uma proposta mais refinada de terror psicológico do que muitos outros filmes.

Ruídos está em cartaz nos cinemas.

Crédito da capa: Divulgação/A2 Filmes