“Silvio Santos Vem Aí” revisita a trajetória do apresentador durante a corrida presidencial de 1989 e entrega um retrato afetivo e convincente de um ícone da TV brasileira

Silvio Santos Vem Aí”, dirigido por Cris D’Amato e roteirizado por Paulo Cursino, chega aos cinemas em 20 de novembro como um misto de biografia, drama e um toque de comédia. A produção propõe um olhar íntimo sobre a vida de um dos maiores comunicadores do país, centrando-se no turbulento período de 1989, quando Silvio Santos decidiu se lançar candidato à presidência da República.

A ideia central do longa é clara: compreender o homem por trás do apresentador. A narrativa alterna entre o brilho do palco e os bastidores da política, sem se perder em caricaturas. O resultado é um filme que cresce junto com seus protagonistas: Manu Gavassi e Leandro Hassum, e que, apesar de um início hesitante, conquista o público ao entregar emoção, humor e um retrato nostálgico de uma época emblemática da televisão brasileira.

Silvio Santos Vem Aí - Leandro Hassum
Hassum como Silvio | Foto: Paris Filmes/Divulgação

Um início morno que ganha força com o tempo

O filme começa de forma contida. A personagem de Manu Gavassi, Marília, uma jovem publicitária contratada para investigar a vida de Silvio, surge inicialmente como um elemento externo, quase deslocado. Sua postura crítica e o tom cético soam artificiais nos primeiros minutos. No entanto, à medida que a trama avança, Manu se transforma junto com sua personagem, a desconfiança dá lugar à curiosidade, e a frieza inicial se converte em empatia.

Essa evolução é um dos pontos mais fortes da narrativa. Manu começa sem convencer completamente, mas encontra o tom à medida que a relação entre Marília e Silvio se aprofunda. O texto lhe dá espaço para se tornar o elo emocional da história e ela o ocupa com naturalidade. A atriz equilibra bem o olhar investigativo com a sensibilidade de quem começa a enxergar a figura humana por trás do mito.

Hassum surpreende e entrega um Silvio convincente

A escolha de Leandro Hassum para interpretar Silvio Santos gerou dúvidas antes da estreia. Conhecido pelo humor escrachado, havia o risco de transformar a atuação em imitação. Mas Hassum surpreende. Ele evita o tom cômico exagerado e entrega um Silvio humano, convincente e, por vezes, comovente.

Os trejeitos, a postura e o ritmo da fala estão lá, mas o ator acerta ao captar algo mais sutil: a energia de um homem apaixonado pelo trabalho e comprometido com a família. Sua interpretação brilha especialmente nas cenas que recriam momentos históricos da televisão.

O “Topa Tudo por Dinheiro”, a abertura do “Show de Calouros” e as gravações no palco do SBT são retratadas com uma precisão visual que emociona. A fotografia é cuidadosa, e a trilha sonora, bem produzida, adiciona ritmo e nostalgia, transportando o espectador diretamente para o universo televisivo dos anos 1980.

Silvio Santos | Foto: Sistema Brasileiro de Televisão

Um retrato afetivo de bastidores

Além da dupla principal, o elenco de apoio reforça a atmosfera afetiva da obra. Regiane Alves interpreta Íris Abravanel com delicadeza e contenção, refletindo a força silenciosa que marca a verdadeira esposa de Silvio. Marcelo Laham entrega uma atuação equilibrada, enquanto Gabriel Godoy, Hugo Bonemer e Vanessa Giacomo completam o elenco com segurança.

Há também escolhas criativas que funcionam bem: o Lombardi sem rosto, apenas reconhecível pela voz. Esse momento é um aceno simbólico à magia da televisão, uma homenagem àqueles personagens que viveram na imaginação do público. Diego Montez, filho de Wagner Montes e Sônia Lima, interpreta o próprio pai no filme. A escolha adiciona um toque de autenticidade e emoção, reforçando a dimensão nostálgica da produção.

O filme, no entanto, não busca competir com “O Rei da TV” (Star+), que é mais preciso em sua abordagem biográfica. “Silvio Santos Vem Aí” prefere recortar um momento específico, focando menos na cronologia e mais na sensibilidade. Ao fazer isso, entrega um retrato honesto e afetivo de um homem dividido entre o palco e os bastidores da política, alguém que, acima de tudo, amava o que fazia.

Vale a pena assistir “Silvio Santos Vem Aí”?

Sim. O filme não é uma cinebiografia completa, mas cumpre com competência o que promete: revisitar um período emblemático da história brasileira e prestar uma homenagem respeitosa a um ícone da TV. Mesmo com um início tímido, “Silvio Santos Vem Aí” cresce a cada cena, sustentado pelas atuações de Leandro Hassum e Manu Gavassi, que evoluem junto com a narrativa.

No fim, a produção convence. É um longa que emociona sem ser melodramático, diverte sem cair na paródia e traz uma boa dose de reflexão sobre o poder da imagem, da comunicação e da memória coletiva. Com boa fotografia, trilha sonora envolvente e um roteiro que se apoia em emoções verdadeiras, o filme entrega uma experiência leve, nostálgica e, acima de tudo, humana.

Silvio Santos Vem Aí” é, portanto, um retrato afetivo, e necessário, de um homem que ajudou a construir o imaginário televisivo do país. E, assim como seu bordão mais famoso, o filme deixa no ar uma certeza: o show, definitivamente, não pode parar.

Imagem de capa: Fernando Pastorelli/Divulgação