O autor John Green já teve muitas de suas obras adaptadas para o cinema e agora chegou a vez do aclamado livro “Tartarugas Até Lá Embaixo”. O longa chegou na MAX no dia 02 de maio e garanto que você vai se surpreender com a história de Aza Holmes.
O livro ‘Tartarugas Até Lá Embaixo’ é um romance do autor Jhon Green, lançado em 2017, sendo a primeira obra do autor a ser lançada após o sucesso de ‘A Culpa é das Estrelas’. Porém, a sua adaptação em filme só chegou em 2024 pela MAX (antiga HBO) e aborda a vida de Aza Holmes (um nome que vai de A a Z). Uma menina de 16 anos que sai em busca de um milionário misteriosamente desaparecido, mas que possui uma recompensa de 100 mil dólares, tudo isso, enquanto ela precisa lidar com o seu transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Adaptação de livro costuma ser um tópico sensível para muitos fãs, pois sempre há o risco da produção não ser fiel à obra. No entanto, em casos raros, a adaptação consegue fazer um bom trabalho em relação à obra e honestamente, Tartarugas Até Lá Embaixo consegue ser uma boa produção e faz ótimas referências ao livro.
Alerta de Spoiler: a seguir haverá spoilers do filme Tartarugas Até Lá Embaixo. Leia por sua conta em risco.
“Não posso escolher meus pensamentos, nem meu nome”
Por incrível que pareça o roteiro do filme é bom. Consegue ser leve mas ao mesmo tempo profundo, justamente por conta dos medos da Aza, que estão relacionados a seu transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Por isso, precisamos destacar as cenas de crises da Aza. A personagem tem um TOC relacionado a bactérias, um crescente medo de ser infectada por alguma delas.
Devido a esse medo, o roteiro nos entrega diálogos bem construídos, mas não diálogos entre Aza (Isabela Merced) e os outros personagens, mas sim uma conversa com ela e seus “pensamentos intrusivo”. Aza vive em uma constante briga consigo mesma sobre quem ela é e o porque que ela merecia estar ali. Em uma das cenas a personagem até dá ênfase que “tem medo de não ser real”, devido às suas questões, que a faz viver em constantes crises relacionadas a bactérias, “pode ser preocupar. A vida é preocupante”.
No entanto, tem um ponto negativo no roteiro, que está ligado aos personagens. Não há uma construção aprofundada em relação à melhor amiga de Aza, a Daisy (Cree Cicchino). A personagem é muito importante para a protagonista, mas às vezes ela aparece só para ser do alívio cômico e que após ter o dinheiro “some” da vida da Aza. Tudo bem que o foco é o romance, mas em algumas produções é necessário o aprofundamento de outros personagens, para a construção de cenas.
Química no elenco
Puxando o gancho dos personagens, o elenco do filme possui uma sinergia muito boa, parece que a atriz Isabela Merced tem uma química com todos do elenco. E essa química não me refiro apenas a parte romântica e amigável, mas sim nas cenas pesadas. Como por exemplo a briga entre Aza e Daisy no carro, você consegue sentir a tensão entre as atrizes. Como também a relação entre Aza e sua mãe (Judy Reyes), com destaque em um episódio de surto da Aza, ao qual quem a encontra no episódio psicótico é a sua mãe ou a briga entre as duas.
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Aza e Davis
Agora focando no casal, Aza e Davis (Felix Mallard), ambos têm química e se combinam. Os dois tem uma ligação de infância devido a perda de algum familiar, que faz com que eles passem um tempo juntos em um “acampamento para depressão” – nas palavras da personagem. Deisy enfatiza ao longo do filme “você é memorável, Aza” e de fato ela torna-se isso para ele.
Então, o filme busca construir uma relação leve entre os dois, sem envolver o dinheiro ou a busca pelo pai do Devis e isso acaba construindo cenas interessantes entre os personagens. Como por exemplo a conversa que eles tem no avião, em que Aza explica para ele o seu transtorno e Davis compreende. Mas isso não é o suficiente para a protagonista, pois como sempre: seus pensamentos a fazem acreditar que ela não merece tudo aquilo, que qualquer contato humano a fará ficar doente. Aceitar a condição do outro vai muito além da palavra de afirmação, vem muito do gesto, do cuidado e do não julgamento.
“No fundo eu só sou um organismo nessa imensidão. Meu “eu” não está sob meu controle”
A montagem do filme, mostrando a parte microbiológica da bactéria enquanto Aza está com episódios psicóticos é bem interessante, porque você consegue acompanhar o pensamento da personagem, junto com imagens de um microorganismo e ao mesmo tempo consegue sentir a aflição dela. Duas cenas ficaram bem impactantes durante o filme, que capta esse momento: a crise dentro do avião e no hospital. São cenas fortes, que te dão angústia, aflição e que podem despertar gatilhos. Vale destacar que a atuação de Isabela Merced no filme é impecável. Para mim, ela conseguiu captar a essência da personagem que eu imaginava quando lia o livro e passar para as telas. É como se a personagem da sua mente realmente criasse vida.
Vale a pena assisir?
A reposta é sim! Vale a pena assistir “Tartarugas Até Lá Embaixo”, o longa consegue conversar de maneira fluída com o livro. Mais uma adaptação de John Green, sucesso em 2014, que deve cair na graça do público. No entanto, é necessário compreender que em certos momentos o filme pode despertar gatilhos. Você pode encontrar o longa na MAX.