Publicado no Brasil pela Panini, Decadência é uma narrativa breve e devastadora sobre esgotamento. Em pouco mais de 200 páginas, Inio Asano, conhecido por obras como Boa Noite Punpun e Solanin, expõe um protagonista que parece mais uma extensão de si mesmo: um autor de mangás, em meio a uma crise criativa, afetiva e existencial.
Decadência
A história começa com Fukazawa, um quadrinista de meia-idade que acaba de encerrar sua série mais popular. Sem um novo projeto, sem motivação, e afastado da esposa, também editora de mangás, ele vaga entre cafés, estúdios vazios e quartos de hotel baratos. O mundo ao seu redor não desmorona de forma abrupta. Ele apenas apodrece aos poucos. Como uma fruta que cai madura demais.

Reprodução: imagem de arquivo pessoal
A narrativa é carregada de silêncios e olhares perdidos. O texto é direto, seco, por vezes desconfortável — como se o autor quisesse que o leitor sentisse o mesmo peso do tédio e da frustração. Não há espaço para grandes reviravoltas ou ilusões. Decadência não busca soluções, apenas compartilha o colapso.
Na arte, Inio Asano por Inio Asano
A arte de Asano, conhecida por sua precisão quase fotográfica, aqui é ainda mais crua. Há detalhes hiper-realistas dos cenários urbanos, mas os rostos muitas vezes permanecem estáticos, inexpressivos, sufocados por um cansaço que as palavras sozinhas não dariam conta de explicar.

Reprodução: imagem de arquivo pessoal
O traço elegante e limpo contrasta com o tema duro e incômodo. E esse contraste é parte do impacto: a beleza do desenho não suaviza o desconforto da narrativa, apenas o realça. A melancolia se constrói no ordinário — no cigarro aceso, no silêncio do trem, nas conversas banais que escondem abismos emocionais.
No final…
Decadência é, antes de tudo, um retrato honesto sobre estar à deriva. Não se trata apenas de crise artística, mas de um sentimento mais profundo: o de perder o propósito, mesmo após ter conquistado o que se desejava. O mangá também expõe o desgaste das relações, a pressão por produtividade e a sensação de não pertencer mais a lugar nenhum.
Apesar da frieza aparente, há um fundo de humanidade latente. Em uma das passagens mais delicadas, Fukazawa se aproxima de uma jovem que trabalha com conteúdo adulto que, ao contrário dele, ainda busca algo. Mesmo no fundo do poço, ela ainda quer viver. Essa tensão entre desistência e esperança permeia toda a obra.

Reprodução: imagem de arquivo pessoal
Longe de oferecer conforto, Decadência escancara as rachaduras da alma com uma sinceridade que incomoda. E é justamente nesse desconforto que reside sua força. O mangá não é uma queda livre. É uma descida lenta, consciente, onde o que importa não é o impacto final, mas o vazio no meio do caminho.
Para quem conhece Inio Asano, não é surpresa. Para quem não conhece, talvez seja um início brutal — mas real. Porque há momentos em que não esperamos redenção. Apenas compreensão.
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