Criada a mais de dez anos, o projeto reúne poetas surdos e ouvintes
Neste dia 26 de setembro é comemorado o Dia Nacional do Surdo, além disso, no dia 23 foi o Dia Internacional das Línguas de Sinais. Segundo o Censo Demográfico de 2022, realizado pelo IBGE, mais de 10 milhões de brasileiros têm alguma deficiência auditiva. Assim, cerca de 2,3 milhões de pessoas se declaram como “surdas” ou com “grande dificuldade para ouvir”.
O “Slam do Corpo” é a primeira batalha de poesia entre pessoas surdas e ouvintes do mundo e tem revolucionado o cenário cultural. O projeto nasceu há cerca de 11 anos, a partir de um grupo de trabalho do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) chamado de “Corposinalizante”. Eles reúnem, desde 2008, jovens surdos e ouvintes para pesquisa e produção de arte, o que inspirou poetas surdos que buscavam, de algum modo, externalizar sua cultura.
Com isso, o “Slam do Corpo” se consagrou como um espaço de celebração da arte e da linguagem. Os poetas se reúnem em mais do que uma batalha, mas sim um encontro de culturas que proporciona aprendizado e transformação social por todo o país.
Nesta batalha, uma dupla de poetas, um surdo e um ouvinte, são responsáveis pela produção da poesia, feita ao mesmo tempo, em português e na Língua Brasileira de Sinais (Libras). Nas apresentações, pode acontecer das línguas se diferenciarem, pois cada uma acontece em sua gramática própria, ou ainda, se cruzarem. Dessa forma, ocorre o chamado “beijo de língua”, termo usado pelo grupo para descrever o encontro entre as duas línguas.
A batalha foi tema de questão no ENEM de 2020, o que demonstra sua importância para a arte e literatura brasileira. Por outro lado, também evidência como a luta do grupo tem ganhado espaço na sociedade e conscientizado não só a população, mas também as autoridades.
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Libras

No Brasil, a educação dos surdos e o surgimento da Libras se deu a partir de 1855, quando Dom Pedro II, então imperador, convidou o francês Ernest Huet para ensinar essas pessoas. Surdo desde os 12 anos, o professor fundou o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, registrado na Lei nº 839, de 26 de setembro de 1857. A escola existe até hoje como Instituto Nacional de Educação de Surdos ou Ines.
Entretanto, a Língua Brasileira de Sinais só teve reconhecimento como meio legal de comunicação e expressão em 2002, pela Lei nº. 10.436/2002. Esse fato evidencia como a comunidade surda foi, por muito tempo, marginalizada e teve seus direitos negados.
O “Slam do Corpo” utiliza a literatura para lutar pela defesa dos direitos das pessoas surdas, o que se revela de grande importância. Projetos como esse ajudam a conscientizar sobre a necessidade da comunicação, da expressão e da inclusão. Ainda hoje, essa grande parcela da população encontra dificuldades de, simplesmente, conversar com pessoas ouvintes, pois a Libras ainda é algo distante do dia a dia da maioria dos brasileiros. Assim, ainda há muitas mudanças que precisam acontecer para que realmente haja inclusão.
Afinal, o que é slam?
O Slam Poetry, ou simplesmente batalha de poesias, surgiu na década de 80 nos Estados Unidos. Dessa forma, é uma competição de poesia falada, em que cada poeta tem até três minutos para apresentar poemas de autoria própria. Não há regras quanto ao formato do texto, então os poetas podem levar uma obra escrita previamente ou improvisar na hora. As apresentações dos artistas são avaliadas por um júri, geralmente formado por cinco pessoas escolhidas aleatoriamente na plateia, que consideram o conteúdo do poema e a performance do poeta.
Imagem capa: Redes sociais (Instagram/ @slamdocorpo)
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