De Hollywood às plataformas de streaming, uma linha do tempo mostra como o talento nacional cruzou fronteiras e marcou presença nas telas do mundo

Já parou para pensar quando os atores brasileiros começaram a aparecer em produções internacionais? Ou até mesmo quais artistas já estrelaram uma produção feita fora do Brasil? Antes mesmo da Bossa Nova ecoar no exterior, uma brasileira já levava o ritmo e o gingado do país para o mundo.

Atualmente, com a tecnologia e as plataformas de streaming, fica mais fácil ter a presença de atores brasileiros em diversas produções. Confira uma ordem cronológica dos acontecimentos para ter uma ideia do poder dos artistas nacionais nas produções estrangeiras:

Década de 1940: O início de tudo

A história do Brasil em produções internacionais começa em 1940. Apesar de não ter nascido no nosso país, Carmen Miranda (1909-1955) cresceu em terras brasileiras e levava nossa cultura mundo afora. Na década de 40, ela estreava em Serenata Tropical (“Down Argentine Way“), da 20th Century Fox, tornando-se a primeira artista brasileira a brilhar em uma produção de Hollywood. Vestida de frutas tropicais e dona de um carisma arrebatador, transformou-se em um ícone cultural, abrindo portas que, por décadas, permaneceriam entreabertas para quem viesse depois.

Carmen foi mais do que uma atriz: tornou-se um fenômeno de identidade nacional exportado, misto de orgulho e estereótipo. Seu sucesso provou que havia espaço – ainda que restrito – para vozes e rostos vindos do sul do continente.
Poucos anos depois, sua irmã Aurora Miranda (1915-2005) também se aventurou em uma produção fora do país, participando da animação Você Já foi à Bahia? (1944), da Disney, representando o nosso país ao lado de Pato Donald e Zé Carioca.

Carmen Miranda em Serenata Musical
Carmen Miranda em “Serenata Musical”. Crédito: Reprodução

Os anos de 1950 e 1960

Na década de 1950, o cinema nacional começou a atrair atenção internacional. Filmes nacionais estavam ganhando destaque no exterior. Artistas como Linda Batista (1919-1988) e Emilinha Borba (1923-2005) participaram de filmes musicais rodados entre Cuba, Argentina e México. Um intercâmbio que fortalecia a presença brasileira fora de casa. Inclusive, Emilinha participou das gravações do filme inacabado de Orson Welles, “É Tudo Verdade” (1942).

No entanto, foi apenas nos anos 1960 que uma atriz brasileira estabeleceu, de fato, uma carreira internacional duradoura. Florinda Bolkan (1941-), nascida no interior do Ceará, estreava no cinema italiano no longa Momentos Eróticos (“Una ragazza piuttosto complicata”) (1969). Daquele momento em diante, ela se tornou uma das atrizes mais requisitadas do cinema europeu.

Ela trabalhou com mestres como Luchino Visconti e Elio Petri, interpretou papéis complexos e falava várias línguas. Passou a representar uma nova imagem da mulher brasileira: elegante, cosmopolita e autônoma.

Na mesma década, Norma Bengell (1935-2013) participou de produções francesas e norte-americanas, quebrando tabus em cena e conquistando respeito em uma época em que o cinema ainda era terreno masculino. Ela esteve no filme italiano O Planta dos Vampiros (”Terrore nello spazio“) (1965) e em um episódio da série americana T.H.E Cat (1966-1967).

Essas mulheres, cada uma à sua maneira, pavimentaram um caminho de emancipação artística que ecoaria nas décadas seguintes.

Omar Sharif, Betty Beckers, and Florinda Bolkan em O Direito de Amar (1972)
Omar Sharif, Betty Beckers, and Florinda Bolkan em “O Direito de Amar” (1972). Crédito: IMDb

Anos 1970 e 1980: exportação cultural e reconhecimento mundial

Nos anos 1970, o Brasil vivia um período de efervescência cultural e censura política. Enquanto a produção nacional sofria restrições devido à Ditadura Militar, artistas começaram a buscar espaço fora do país. Entre eles, Sônia Braga (1950-), que, após o sucesso de Gabriela, Cravo e Canela (1983), chamou a atenção internacional e se lançou no exterior.

A consagração da carreira internacional veio com O Beijo da Mulher-Aranha (“Kiss of the Spider Woman“), de 1985. O filme que rendeu indicações ao Oscar e abriu caminho para uma carreira sólida em Hollywood. Ela já recebeu indicação aos prêmios Golden Globes, BAFTA, e Emmy.

O saudoso ator José Wilker (1946-2014) também esteve em produções estrangeiras. Ele foi um dos protagonistas do longa argentino Los Crápulas (1981). Dira Paes (1968-) e outros atores brasileiros marcaram presença em Floresta das Esmeraldas (1985), de John Boorman. Sendo assim, esse era o início da “exportação cultural” do Brasil, um movimento que levava o sotaque e o tempero nacional para telas estrangeiras, ainda que em papéis esporádicos.

Anos 1990 e 2000: globalização e novas gerações

Nos anos 1990, a globalização chegou às telas. Produções estrangeiras começaram a filmar no Brasil e a incluir atores locais.
Porém, foi na virada do milênio que o talento brasileiro tomou Hollywood de vez.

A partir do século XXI, tivemos Rodrigo Santoro (1975-) em Simplesmente Amor (2003) e 300 (2006), Alice Braga (1983-) em Eu sou a Lenda (2007) e Morena Baccarin (1979-) em Homeland (2011-2020) e Deadpool (2016). Esses atores mostraram que os brasileiros podiam competir em grandes produções sem perder a identidade. Seu Jorge (1970-), por sua vez, deu um toque de música e melancolia ao filme A Vida Marinha com Steve Zissou (2004).

Morena Baccarin em "Gotham" (2014)
Morena Baccarin em “Gotham” (2014). Crédito: IMDb

Década de 2010: o Brasil na era do streaming

Com a consolidação das plataformas de streaming, a presença brasileira nas telas do mundo se multiplicou. 

Wagner Moura (1976-) conquistou projeção global com Narcos (2015-2017), da Netflix, ao interpretar Pablo Escobar com uma entrega rara. Por sua vez, Alice Braga (1983-) brilhou em A Rainha do Sul (2016–2021). Rodrigo Santoro voltou ao centro das atenções com Westworld (2016-2022), na HBO, enquanto Maria Fernanda Cândido (1974-) se destacou no cinema italiano com O Traidor (2019).

A década também revelou novos rostos, como Henrique Zaga (1993-), que participou de 13 Reasons Why (2017-2020) e Os Novos Mutantes (2020), e Fernanda Andrade (1984-), parte do elenco de O Cavaleiro da Lua (2022), da Marvel no Disney+. Também tivemos Lino Facioli (2000-) e Diogo Sales (1985-) integrando o elenco de Game Of Thrones (2011-2019).

Não podemos deixar de fora os brasileiros que fizeram parte de uma das franquias mais famosas do mundo: Power Rangers. O ator Davi Santos (1990-) interpretou o Gold Dino Charge Ranger em Power Rangers Dino Charge (2015-2016), enquanto Chrysti Ane (1993-) deu vida a Pink Ninja Steel Ranger em Power Rangers Ninja Steel (2017-2018).

Marco Pigossi (1989-) fez sua estreia internacional em Tidelands (2018), série da Netflix. Depois ele fez uma participação na série espanhola Alto Mar (2019-2020), e, recentemente, esteve em Gen V (2023-atualmente), série do Prime Video. Nessa década, o Brasil definitivamente conseguiu ser inserido na lógica global do entretenimento.

De 2020 até agora: uma geração já nascida internacional

A década atual é marcada por uma nova leva de talentos brasileiros que circulam com naturalidade entre produções nacionais e estrangeiras. Bruna Marquezine (1995-) estreou em Hollywood com Besouro Azul (2023), ao lado de Xolo Maridueña, e ganhou destaque pela naturalidade e segurança diante das câmeras.

A atriz Giovanna Grigio (1998-) participou da versão da Netflix de Rebelde (2022), enquanto Gabriel Leone (1993-) viveu o piloto Alfonso de Portago em Ferrari (2023), contracenando com Adam Driver e Penélope Cruz. Também surgem nomes como André Lamoglia (1997-), que integra o elenco da série espanhola Élite (2018-2024); Isis Valverde (1987-), que estreia internacionalmente no filme Código Alarum (2025); e a atriz Bianca Comparato (1985-), que fez participação em Grey’s Anatomy (2005-atualmente).

Fora dos Estados Unidos, a brasileira Jessica May (1993-) estrelou a dizi turca Maria ile Mustafa (2020), dando vida ao papel da protagonista Maria. Portanto, podemos ver que os atores brasileiros estão conquistando vários espaços no mundo.

Isis Valverde em "Código Alarum" (2025)
Isis Valverde em “Código Alarum” (2025). Crédito: Reprodução

Um legado de décadas que vai crescendo com o passar dos anos

Além dos atores que nasceram no nosso país, temos aqueles que carregam o sangue brasileiro nas veias e levam um pouco da nossa cultura para o resto do mundo. Esse é o caso, por exemplo, da atriz Camila Mendes, filha de pais brasileiros.

O percurso de mais de 80 anos de brasileiros em produções internacionais é também uma história sobre reconhecimento, identidade e resistência. Cada nome – dos pioneiros esquecidos às estrelas contemporâneas – contribuiu para construir uma presença simbólica e crescente do país no cinema e na televisão mundial.

Crédito imagem de capa: Reprodução/ IMDb