Enquanto crianças e adolescentes mantêm o hábito da leitura com facilidade, adultos enfrentam desafios
Desde a infância, os livros acompanham o ser humano em todas as fases da vida. Eles ajudam na alfabetização, a aprofundar conhecimentos e oferecem momentos de descanso e reflexão.
Dos clássicos às histórias em quadrinhos, a leitura é um hábito que vale a pena cultivar ao longo da vida. Ainda assim, é possível perceber que o apreço por livros tende a diminuir conforme as pessoas envelhecem.
Tem idade para ser leitor?
No Brasil, crianças e adolescentes são os leitores mais ativos. De acordo com a recente pesquisa Retratos da Leitura no Brasil – considerada a principal referência de dados sobre o hábito de leitura no país desde 2007 –, os adolescentes entre 11 e 13 anos lideram, com 81% de leitores. Logo atrás, aparecem as crianças de 5 a 10 anos, com 61%, empatadas com a faixa etária de 14 a 17.
Entre os adultos, no entanto, a situação é diferente. Não é novidade que a leitura esbarra em obstáculos como a falta de tempo, o custo dos livros e, até mesmo, o acesso limitado a espaços literários. Essas são queixas comuns presentes em conversas do cotidiano sobre livros – seja entre amigos, família ou debates em instituições de ensino.
A pesquisa também aponta que houve uma queda significativa no interesse pela leitura quando comparada com a edição de 2019, especialmente entre aqueles com menor escolaridade e renda. A maioria dos entrevistados relataram dificuldades em conciliar o hábito de ler com o dia a dia e a vida profissional.
Apesar dos dados serem recentes, a ausência da leitura na vida do brasileiro não é. Em entrevista para a Folha de São Paulo em 2007, a escritora Lygia Fagundes Telles já demonstrava preocupação sobre o assunto. Segundo ela:
O Paulo Emílio dizia que o Brasil nega o seu passado de miséria, e que deveríamos fazer o oposto. Eu concordo. […] Quem está em processo de extinção é o leitor, que lê pouco ou não entende o que lê. Já o escritor anda aparecendo por toda parte. Ainda bem, estão aí todos lutando, escrevendo, as prostitutas fazendo suas memórias. Que façam, que escrevam, tudo é válido. Mas leiam!
A leitura é um direito

Crédito: Reprodução
Lygia Fagundes Telles é reconhecida por suas inúmeras obras, além de ter sido a terceira mulher integrante da ABL (Academia Brasileira de Letras). Sua herança literária é rica, de modo que sua dedicação à política literária permanecem imortais.
Sua contribuição, no entanto, não parava somente nas páginas. Lygia, por exemplo, era conhecida por viajar até cidades do interior, para visitar escolas e centros culturais. “Algumas vezes eu ia sozinha, pois era jovem e tinha disponibilidade […] para falar não sobre minha obra, mas sobre literatura. Minha tônica nessas falações eram a poética e a necessidade das escolas, algo em que eu insistia muito antes de haver esse flagelo de hoje, com os pais dormindo nas calçadas para conseguir para seus filhos uma vaga na escola pública.”, ressaltou a autora em entrevista à revista Cult.
Apesar de vozes como a da Lygia estarem presentes ao redor do Brasil há décadas, as políticas públicas demonstram que a luta pelo direito à leitura é contínua e antiga. A Constituição Federal de 1988 já garantia a educação como direito de todos e dever do Estado. Contudo, foi apenas em 2018 que o Congresso Nacional reconheceu oficialmente a leitura e a escrita como direitos do cidadão.
A Lei 13.696/2018, que instituiu a Política Nacional de Leitura e Escrita, estabelece em seu artigo 2º:
I – a universalização do direito ao acesso ao livro, à leitura, à escrita, à literatura e às bibliotecas;
II – o reconhecimento da leitura e da escrita como um direito, a fim de possibilitar a todos, inclusive por meio de políticas de estímulo à leitura, as condições para exercer plenamente a cidadania, para viver uma vida digna e para contribuir com a construção de uma sociedade mais justa.
Sendo assim, o acesso aos livros não é somente um direito formal, mas também um modo de formar cidadãos que desenvolvam pensamentos críticos. A leitura torna possível que as pessoas sonhem ao mesmo tempo que saibam questionar.
Contudo, nem todos encaram o hábito como prioridade. Com a rotina do dia a dia e outros meios de distração, os livros acabam sendo esquecidos.
Como conciliar a leitura com a vida adulta?
Segundo o sociólogo e crítico literário Antonio Candido, a leitura deve estar alinhada na vida do ser humano junto aos outros direitos básicos, como alimentação, moradia e saúde.
A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos à natureza, à sociedade e ao semelhante.
– Antonio Candido, no ensaio O Direito à Literatura
Isso porque a leitura têm o poder de ensinar, mas também traz grandes benefícios para a saúde mental do leitor. Dessa forma, é importante entender que, ao cultivar o hábito, o indivíduo também está realizando um ato de autocuidado.
Leia também: Setembro Amarelo: quando a literatura infantojuvenil fala sobre saúde mental
Para não deixar que o hábito de ler se perca entre as responsabilidades do dia a dia e outros meios de distração, é possível adotar algumas práticas que podem ajudar:
01- A leitura como parte da rotina
Sabe aqueles minutos ociosos que costumamos usar para rolar a tela no celular e checar as redes sociais?
Ainda que seja antes de dormir, no descanso do almoço ou no transporte público, esse tempo “livre” pode ser aproveitado para algo prazeroso como ler, seja livros físicos, digitais, ou por meio de audiolivros.
02- Audiolivros
Para quem tem uma rotina corrida, outro meio de tornar a leitura presente no cotidiano são os audiolivros.
Embora seja um meio auditivo, são uma forma de leitura tão válida quanto os livros. Além de permitir que o leitor desenvolva imaginação e compreensão, também possibilita que pessoas com deficiência visual ou dificuldades de leitura participem do universo literário.
Segundo a interpretação encontrada em diversos dicionários, o leitor é toda pessoa que lê ou aprecia a leitura. Logo, nesse sentido, ouvir um audiolivro também faz de alguém um leitor.
03- Reserve um espaço do seu dia para a leitura
Ainda que seja eficaz incluir no meio da rotina, também é importante cultivar a leitura como um momento de descanso.
Um ambiente longe de distrações pode ajudar a concentração, além de permitir que o leitor comece a enxergar o hábito como um possível hobby. Em junho de 2025, o ator Selton Mello se uniu ao TikTok para conversar sobre a comunidade literária da rede social – conhecida como BookTok. No vídeo, Selton reforça a importância de enxergar o livro como uma companhia, e não como uma meta ou objetivo.
04- Participe de clubes de leitura
Clubes de leitura, presenciais ou online, permitem compartilhar impressões e discutir diferentes pontos de vista. Dessa forma, além de ser um incentivo coletivo, torna a leitura uma experiência social e prazerosa.
Além de ser uma oportunidade para conhecer obras novas e histórias diferentes a partir da indicação de outras pessoas, o que também ajuda a manter o interesse pela leitura.
Leia também: Conheça famosos que têm clubes do livro
05- Doe livros!

Crédito: Reprodução
A leitura é um direito que deve ser acessível a todos, e torná-la democrática é também um ato de cidadania.
Uma forma prática de contribuir é doando livros que você já leu e não pretende mais usar. É possível realizar a doação em sebos, bibliotecas disponíveis na cidade e até para escolas.
Em São Paulo, por exemplo, alguns terminais de ônibus e estações de metrô contam com espaços para doação e empréstimo de livros. Dessa forma, qualquer pessoa pode deixar ou pegar um exemplar gratuitamente.
A literatura é um patrimônio de todos. Muito mais do que um hábito a ser cultivado, é um direito e um passaporte para toda a vida. Assim como Lygia Fagundes Telles já afirmava:
Que façam, que escrevam, tudo é válido. Mas leiam!
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Imagem de capa: Reprodução/Canva