Com apenas 28 indicados de diversas origens, queda de 18% em relação ao ano passado reacende debate sobre diversidade no Emmy 2025

Depois de anos celebrando avanços na representatividade, o Emmy 2025 acendeu um alerta: apenas 28 atores e apresentadores de reality shows e talk shows não brancos foram indicados nesta edição, uma queda de 18% em relação aos 34 indicados em 2024.

Este ano, a Academia de Televisão registrou o segundo pior desempenho dos últimos cinco anos, superando apenas 2019, quando reconheceu 26 nomes de origens diversas.

O auge da diversidade aconteceu em 2021, quando 49 profissionais de diferentes etnias foram reconhecidos. O declínio atual, segundo a National Hispanic Media Coalition (NHMC), é preocupante.

Em comunicado, a presidente e CEO Brenda Victoria Castillo destacou:

“Em um momento em que nossa existência está sendo apagada, desafiada e atacada, este é o momento de elevar histórias mais inclusivas e acolhedoras de comunidades sub-representadas – e dos atores que nelas aparecem”. Além disso, ela ainda criticou a Academia por “ficar aquém” em um cenário que exige maior reconhecimento da excelência não branca.

Diversidade no Emmy - Ayo Edebiri
A Academia de Televisão indicou Ayo Edebiri ao Emmy por sua atuação em The Bear | Foto: FX Networks/Divulgação

Avanços pontuais e protagonistas em destaque

Apesar da retração numérica, algumas categorias continuam abrindo espaço para narrativas plurais. A categoria de Atriz Coadjuvante em Série de Comédia foi uma das mais diversas, com quatro atrizes não brancas indicadas: Jessica Williams (Falando a Real), Sheryl Lee Ralph (Abbott Elementary), Janelle James (Abbott Elementary) e Liza Colón-Zayas (The Bear).

Vale lembrar que Zayas entrou para a história em 2023 como a primeira atriz latina a vencer a categoria e volta este ano com sua segunda nomeação.

Na disputa de Atriz Principal em Série de Comédia, o protagonismo feminino negro se destacou com Uzo Aduba (Assassinato na Casa Branca), Ayo Edebiri (The Bear) e Quinta Brunson (Abbott Elementary).

Aliás, Edebiri conquistou um marco importante: tornou-se a primeira mulher negra a receber indicações nas categorias de atuação e direção no mesmo ano. Aos 29 anos, já soma três indicações na carreira e venceu em 2023 como Melhor Atriz Coadjuvante. A direção indicada é pelo episódio “Napkins”, do qual também é roteirista.

Brunson, que estrela, escreve e produz Abbott Elementary, coleciona agora 11 indicações ao Emmy na carreira, com vitórias em 2022 e 2023.

Este ano, tornou-se a primeira mulher negra a receber três indicações de roteiro por uma única série. Com isso, iguala Stefani Robinson (Atlanta, What We Do in the Shadows) no número total de nomeações para mulheres negras na categoria.

Quinta Brunson concorre à premiação mais uma vez
Quinta Brunson tem sido um rosto frequente em premiações | Foto: Gilles Mingasson/ABC

Latinos e asiáticos seguem sub-representados no Emmy 2025

A presença latina, contudo, encolheu de forma alarmante. Pedro Pascal foi o único latino indicado a Melhor Ator em Série Dramática, por seu trabalho em The Last of Us.

Se Diego Luna, de Andor, tivesse sido indicado, teria sido a primeira vez que dois atores latinos disputariam juntos essa categoria. No entanto, apenas Pedro Pascal apareceu entre os indicados e, agora, se junta a Jimmy Smits como o único latino a receber múltiplas nomeações nesse segmento.

Diante desse cenário, a NHMC sentiu a ausência com força e alertou para a persistente falta de visibilidade, mesmo com o crescimento do número de projetos liderados por latinos. Ainda que nomes como Javier Bardem (Monstros: A História de Lyle e Erik Menéndez) e Zoë Kravitz (O Estúdio) tenham recebido reconhecimento, a sensação de apagamento permanece forte diante do histórico recente.

Por outro lado, a representatividade asiático-americana também se manteve tímida. Entre os destaques, apenas Bowen Yang (Saturday Night Live) se destacou na comédia, alcançando sua quarta indicação e tornando-se o ator asiático-americano com mais nomeações na história da premiação.

Kristen Kish recebeu sua segunda indicação por Top Chef. No entanto, atuações de destaque de artistas asiáticos em séries como The White Lotus, O Estúdio e Round 6 foram completamente ignoradas pela Academia.

Pedro Pascal concorre à premiação por The Last Of Us
Pedro Pascal concorre ao Emmy 2025 como Joel, de The Last Of Us | Foto: HBO/Divulgação

Veteranos, estreantes e um recado da indústria

Entre os nomes consagrados, Sterling K. Brown igualou o recorde de Don Cheadle e Andre Braugher ao alcançar 11 indicações ao Emmy, agora por seu papel em Paradise. Ele já acumula três vitórias, incluindo a histórica conquista como Melhor Ator em Drama por This Is Us.

Também há espaço para estreantes: Zach Cherry e Tramell Tillman receberam suas primeiras indicações por Ruptura; Anthony Mackie, por interpretar a si mesmo em O Estúdio; e Cynthia Erivo, por Poker Face. Ruth Negga, indicada ao Oscar em 2017, finalmente aparece no Emmy com Acima de Qualquer Suspeita.

Na categoria de atuação em antologia, destaque para Brian Tyree Henry (Ladrões de Drogas) e Natasha Rothwell (The White Lotus), enquanto Giancarlo Esposito (The Boys), Forest Whitaker (Andor) e Jeffrey Wright (The Last of Us) aparecem como indicados em papéis convidados.

Por fim, RuPaul Charles (RuPaul’s Drag Race) e Daymond John (Shark Tank) seguem como nomes de referência entre os apresentadores de reality, reafirmando a importância da diversidade também fora da ficção roteirizada.

Diversidade no Emmy - Rupaul's Drag Race
Rupaul’s Drag Race é um reality frequente nas premiações | Foto: VH1/Reprodução

Emmy 2025 reacende debate sobre diversidade na TV

O Emmy 2025 expõe uma contradição. Embora continue reconhecendo talentos diversos, como Ayo Edebiri, Quinta Brunson e Sterling K. Brown, os números mostram um recuo nas indicações não brancas.

Isso sugere que, mesmo com esforços contínuos por representatividade, a Academia ainda precisa repensar seus critérios e ampliar o olhar.

Enquanto o público clama por narrativas mais plurais, a premiação mais tradicional da televisão parece oscilar entre avanços e retrocessos.

Em setembro, os vencedores subirão ao palco e o público voltará a debater o impacto real da diversidade, ou a falta dela, nas premiações.

Imagem de capa: Reprodução/IMDB