De histórias orais até quadrinhos de Mauricio de Sousa, o folclore brasileiro sempre esteve presente na formação literária das crianças
Nesta sexta-feira, 22 de agosto, celebramos mundialmente o Dia do Folclore. A data está no calendário brasileiro oficial desde 17 de agosto de 1965, quando o Congresso Nacional estabeleceu, por meio do Decreto n.º 56.747:
“Considerando a importância crescente dos estudos e das pesquisas do Folclore, em seus aspectos antropológico, social e artístico, inclusive como fator legítimo para o maior conhecimento e mais ampla divulgação da cultura popular brasileira. Considerando que a data de 22 de agosto, recordando o lançamento pela primeira vez, em 1846, da palavra Folk-Lore, é consagrada a celebrar esse evento”
Apesar de ser comumente ligado a lendas e festas, outras práticas, como música e linguagem, também fazem parte da identidade folclórica de um povo. De geração para geração, as histórias populares tiveram uma grande participação não só na formação cultural, como também no incentivo ao hábito de leitura das crianças.
O folclore brasileiro
Mesmo que a palavra não seja de origem brasileira, o folclore nacional é considerado um dos mais ricos do mundo. A diversidade cultural e a mistura de diferentes etnias foram os principais pilares que contribuíram para esse enriquecimento.
No século XX, Renato Almeida (1895-1981), Mário de Andrade (1893-1945) e Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) foram os maiores responsáveis pela valorização e exploração das histórias folclóricas brasileiras.

Crédito: Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros – USP
Entre eles, Mário de Andrade se destacou como escritor e pesquisador incansável da cultura popular. O autor viajou por diferentes regiões do país, registrando músicas, danças, lendas e costumes, além disso defendia que o folclore era parte da identidade nacional. Em carta para Luís da Câmara Cascudo, Mário afirmou:
”Misturei completamente o Brasil inteirinho como tem sido minha preocupação desde que intentei me abrasileirar e trabalhar o material brasileiro. Tenho muito medo de ficar regionalista e me exotizar pro resto do Brasil. Assim lendas do Norte botei no Sul, misturo palavras gaúchas com modismos nordestinos, ponho plantas do Sul no Norte e animais do Norte no Sul etc.”
A literatura folclórica
Parte dos primeiros registros escritos do nosso folclore surgiram com a educadora Alexina de Magalhães Pinto. Para usar o material durante suas aulas, a escritora publicou livros como:
- “As nossas histórias”, 1907;
- “Os nossos brinquedos”, 1909;
- “Danças populares”, 1916;
- “Provérbios populares”, 1917.
Em um país onde apenas a elite tinha conhecimento sobre a escrita e a leitura, a oralidade foi importante para despertar o interesse das crianças brasileiras por histórias. Assim, o folclore brasileiro começou a cumprir um papel importante na formação literária das crianças. Além de despertar a imaginação, também aproximou as crianças da leitura.
Mais tarde, os cordéis se tornaram parte da literatura infantil, sendo um modelo acessível de fácil entendimento e baixo custo. Dessa forma, aos poucos surgiram mais livros voltados aos leitores mirins. Muitas dessas histórias remetiam às lendas que outrora se ouvia de seus pais e avós.
Ainda hoje, a tradição de contar histórias folclóricas continua sendo uma ponte que leva as crianças brasileiras ao mundo da leitura, despertando curiosidade e imaginação.
Da oralidade à escrita
Atualmente, figuras folclóricas, como Saci Pererê, Boto Cor de Rosa e Mula Sem Cabeça, estão presentes em famosas obras da literatura infantil. Ou seja, ao introduzir as crianças para o universo folclórico através da oralidade, cria-se uma familiaridade para que ela procure por histórias relacionadas em páginas.
Desde Monteiro Lobato, com o clássico ‘Sítio do Pica-Pau Amarelo’, até as histórias em quadrinho de Mauricio de Sousa, a criança é apresentada para um universo de infinitas histórias e adaptações para explorar.

Crédito: Maurício de Sousa Produções
Em Turma da Mônica, por exemplo, com frequência os gibis mergulham no universo do folclore brasileiro. Chico Bento, por morar no interior, vive histórias em que sua avó conta lendas populares. Do mesmo modo que outros personagens de Mauricio também aparecem em histórias que resgatam o folclore, mostrando festas populares, brincadeiras e personagens típicos dos contos brasileiros, como o Curupira.
Logo, o folclore e a literatura infantil trazem as tradições para o dia a dia e mostram às crianças que ler também é viajar pelo imaginário do nosso país. É por meio do contato com essas histórias que nascem novos leitores, além de ser uma forma de manter a cultura brasileira viva.
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Contudo, vale o lembrete de que o folclore brasileiro não mora somente na literatura infantil, ele vive na imaginação e nas histórias que marcam gerações. Assim como Câmara Cascudo aponta em sua obra, Folclore no Brasil:
“Todos os países do mundo, raças, grupos humanos, famílias, classes profissionais, possuem um patrimônio de tradições que se transmite oralmente e é defendido e conservado pelo costume. Esse patrimônio é milenar e contemporâneo. Cresce com os conhecimentos diários desde que se integrem nos hábitos grupais, domésticos ou nacionais. Esse patrimônio é o FOLCLORE.”
Imagem de capa: Reprodução
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Amei. Explorou muito bem nossa trajetória cultural envolvendo o folclore.