A professora e escritora Talita Franceschini estreou na literatura com o livro de poemas “Instruções de uma Equilibrista”. A obra explora a complexidade dos sentimentos humanos, abordando rejeição, luto e busca por equilíbrio, uma vez que a vida é cheia de contradições.  

Desse modo, a autora reflete sobre a necessidade, assim como a teimosia, de permanecer de pé, mesmo diante das quedas inevitáveis da vida. Além disso, busca levar a compreensão de que esses momentos são importantes para uma reinvenção pessoal. Principalmente em um contexto que invalida as emoções femininas.

Talita Franceschini é formada em Biblioteconomia e Ciência da Informação pela Universidade de São Paulo (USP). Também concluiu uma segunda graduação em licenciatura. Desde o início de sua carreira, atua em projetos de incentivo à educação e à preservação do patrimônio.

Atualmente, é professora da rede pública de ensino. Talita Franceschini falou com o GeekPop News sobre “Instruções de uma Equilibrista”, assim como deu detalhes de sua carreira como escritora e profissional da cultura e educação.

Confira a entrevista

Apresente-se com as suas próprias palavras

Sou a Talita Franceschini, bibliotecária e professora, tenho 39 anos, nasci e moro no interior de São Paulo, na cidade de Descalvado. Sempre gostei muito de literatura, o que me levou a ser mediadora e curadora do coletivo de leitura Leia Mais Mulheres, por alguns anos, despertando também meu interesse pela escrita.

A partir de 2020 comecei a me inscrever em diversas oficinas de escrita, uma delas resultou na publicação de duas crônicas na antologia “Crônicas de ir, vir e permanecer”, publicada pela Editora Txai com a organização da Helena Silvestre. No ano passado, publiquei meu primeiro livro de poemas, “Instruções de uma equilibrista” pela Editora Patuá.

Hoje me considero uma leitora simples, apaixonada pela literatura contemporânea, e encontrei na escrita meu refúgio para sobreviver ao luto, ao caos, aos vazios, às dores e alegrias da vida.

Você é professora e já realizou vários projetos de incentivo à cultura. Como essa experiência auxilia no seu trabalho como escritora?

Minha experiência como professora, bibliotecária e com projetos de incentivo à cultura enriquece minha atuação como escritora, pois me permite estar em contato com diversas histórias, perspectivas e expressões culturais. Essa experiência contribui para minha criatividade, amplia meu repertório e aprofunda minha sensibilidade com a escrita.

De onde veio a ideia do título do livro “Instruções de uma Equilibrista”?

A ideia do título “Instruções de uma Equilibrista” surgiu após a leitura crítica do original, feita pela escritora Lilian Sais. Durante o processo de análise e revisão do livro, percebemos que muitos poemas abordavam a coragem de se reconhecer no desequilíbrio e a vontade de continuar vivendo, mesmo que por um triz, diante dos reveses da vida. 

Por que você decidiu abordar temas como rejeição, luto e equilíbrio em poemas e não em outra forma de texto?

Capa do livro Instruções de uma equilibrista.
Crédito: Editora Patuá

Decidi abordar temas como rejeição, luto e equilíbrio em forma de poemas, porque eles sempre foram parte da minha vida. Desde criança, folheava e lia os livros de poemas da minha mãe. E hoje sou uma mulher completamente apaixonada por poemas, gosto de ler esses temas e tantos outros através de poemas. Então, não teria como ser diferente, precisava me expressar através da poesia. Além disso, é na poesia que me encontro, me expresso com mais verdade, e me enxergo metaforicamente.

Você aborda não apenas o luto pela perda de pessoas, mas também outras formas de ruptura e fim de ciclos. Por que é importante falar desses lutos?

De fato, minha abordagem vai além do luto pela perda de pessoas, falo também sobre os lutos que surgem com as rupturas, o fim de rotinas, a perda de convivências, de espaços e tantas outras coisas que acompanham o final de ciclos.

Quando me vi perdida, imersa no desespero desses lutos que pareciam intermináveis, senti a necessidade de buscar compreensão e fui procurar ajuda através de estudos, além da terapia. Foi por meio da psicanálise que entendi que todo luto precisa ser reelaborado, e acredito que falar sobre eles é uma forma poderosa de reelaborá-los. Dar voz a essas experiências não apenas ajuda a compreendê-las, mas também a legitimá-las e assim não desistir da vida.

Você acredita que as pessoas têm dificuldade em falar sobre os temas do livro?

Olha, eu não sei se as pessoas têm dificuldade em falar sobre os temas do livro, mas acredito que a maior dificuldade esteja em identificá-los e compreendê-los. Muitas vezes, as pessoas vivenciam rupturas, perdas e rejeições, mas não conseguem perceber claramente o que estão sentindo, nem dar nome a essas vivências. Pode acontecer até mesmo um processo de negação, de não aceitar o que está acontecendo.

Pegando o exemplo da rejeição, é muito difícil se reconhecer como rejeitada. Em vez disso, tendemos a buscar outras explicações para o que aconteceu, porque admitir a rejeição como uma possibilidade é algo profundamente doloroso. Ela toca diretamente em nossa identidade, despertando uma série de questionamentos internos sobre quem somos, nosso valor e o porquê de certas coisas terem acontecido.

No livro, procurei transformar esses questionamentos em poesia, encontrei-me não apenas na minha própria vivência, mas também em outras mulheres que caminham comigo, em outras que eu posso ser e naquelas que vieram antes de mim. A poesia me permitiu tecer esses encontros e essas conexões.

Além disso tudo, vivemos em uma sociedade que valoriza o frenesi da superação e da força de vontade. Há uma pressão constante para “seguir em frente” o mais rápido possível, muitas vezes ignorando ou minimizando o que realmente sentimos. Essa exaltação à resiliência imediata pode dificultar ainda mais o processo de lidar com essas experiências de forma consciente. Entender o luto, a rejeição e o equilíbrio já é, de alguma forma, seguir.

Você acredita que, em algum momento da vida, todos nós passamos por um momento de desequilíbrio?

Sim, o tempo todo (risos).

Como podemos enfim encontrar o equilíbrio de que precisamos para viver de forma saudável? 

Não sei se encontrar o equilíbrio é realmente possível, acredito que seja mais sobre buscar formas de se equilibrar, já que o equilíbrio não é um estado fixo, mas um movimento, como o de uma equilibrista que ajusta seus passos, “pé ante pé”. No meu caso, foi através da família, amigos, exercícios físicos e principalmente através da arte, da literatura e de ajuda profissional.

Para finalizar. Você pode enviar uma mensagem para os nossos leitores?

Quero agradecer a todo mundo que leu essa entrevista. E deixar um poema do livro como mensagem:

todo dia

abraçar aquela

que não desiste

de estender meu coração

ao sol