Verônica Yamada é médica e escritora. Vencedora do Prêmio VII Talentos Helvéticos em Genebra, Suíça, pelo livro “Código de vingança” (2022) e também do Prêmio Carioca de Excelência Literária e o Prêmio Destaques Literários na categoria “escritora de romance”.
Agora ela estreia na healing fiction com o livro “Tempos Amarelos” (2025), que fala dos desafios de uma personagem nipo-brasileira em um futuro próximo. No livro, a autora aborda como podemos nos curar emocionalmente em um mundo cada vez mais complexo.
Ela é dona da Editora Yamada, que publica novas versões de livros clássicos em edições de luxo, e também lança autores nacionais contemporâneos. Verônica Yamada falou exclusivamente ao GeekPop News sobre sua trajetória e seu novo livro. Confira:
Você poderia se apresentar para os nossos leitores nas suas próprias palavras?
Sou Veronica Yamada, médica oftalmologista e escritora. Tenho 34 anos, moro em São Paulo, tenho muitos gatos e cachorros, que são a minha vida. Escrevo de tudo um pouco, apesar de gostar mais de distopias e terror.
Você já escreveu vários gêneros: autoficção, fantasia, contos e healing fiction. Como aconteceu sua formação como escritora?
Comecei a escrever mais em 2016 durante meu processo terapêutico e em 2019 passei a escrever profissionalmente. No início, usava a escrita como forma de cura, mas ao longo do tempo percebi que gostava de escrever sobre qualquer coisa, não apenas sobre mim.
Testei vários gêneros e formatos de escrita, mas hoje me identifico mais com histórias distópicas. Gosto de como as distopias nos remetem à realidade e de como nos trazem alguma reflexão. Carne de segunda e Tempos amarelos, que são minhas últimas obras, são assim.
“Tempos Amarelos” se passa em um futuro, através de uma personagem nipo-brasileira que enfrenta uma cultura de trabalho árdua e desumana. De onde veio a inspiração para esse enredo?
Eu vivi um burnout em 2019. Na época, trabalhava apenas como médica, para clínicas que aceitavam pacientes particulares e de convênio. As consultas, que antes eram de vinte minutos, foram reduzidas para quinze.
Comecei a ter metas de atendimentos, indicações de cirurgia, etc. Quando batia a meta, recebia apenas um “parabéns”; quando não batia, recebia ligações e mensagens reclamando. Evitava até ir ao banheiro e beber água para os pacientes não reclamarem. Aos poucos, fui me sentindo cada vez mais objetificada e, conversando com outras pessoas, percebi que era um sentimento comum.
Na obra você fala em “cura emocional” e inclusive garante um final feliz, destoando inclusive de suas outras obras. Por que a cura emocional é importante?
Sim, acredito que os tempos estão mudando. A forma como trabalhamos hoje não será a mesma que trabalharemos amanhã. Se todos pudessem trabalhar com o que gostam, teríamos menos pessoas infelizes e em burnout.
Neste sentido, a cura emocional é importante, porque se não acreditarmos que podemos melhorar, como vamos buscar mudanças? Acho que, atualmente, existem muitas pessoas procurando novos empregos ou empreendendo em algo que realmente acreditam e gostam.
Como você aborda a educação e tradição das famílias asiáticas, em contradição aos nossos costumes? Uma vez que é uma das maiores comunidades estrangeiras no Brasil?
Uma característica das famílias asiáticas é a falta de diálogo. Normalmente, os pais não conversam muito com os filhos e muitas coisas acabam não ditas. Os filhos imaginam o que os pais desejam e tentam agradá-los. Além disso, existe certa frieza. Demonstrações de carinho são raras. Isso faz com que os filhos tentem sempre buscar esse amor dos pais e contradizê-los ou desagradá-los é muito difícil.
Como lidar com as demandas, em um mundo cada vez mais corrido? Na sua opinião, como equilibrar saúde física, mental e responsabilidade?
Uma coisa extremamente importante é impor seus próprios limites. Hoje, eu tento me policiar para não extrapolar meu limite corporal. Abdiquei de muitas coisas em prol da minha saúde mental. Trabalho menos, ganho menos, mas me sinto melhor física e emocionalmente.
Entender seus limites e dizer “não” é fundamental hoje em dia. Pessoas que só aceitam e nunca impõem limites estão sujeitas a serem sobrecarregadas o tempo todo e acabam acumulando mais funções do que o aceitável para uma pessoa.
Em “Tempos Amarelos” as telas se alimentam da consciência das pessoas. Uma abordagem interessante. Como você acha que lidamos com telas e tecnologia atualmente?
Como millennial, eu vivi desde a época em que não tínhamos tantas telas (só a televisão) até agora, onde temos telas o tempo todo. Enquanto em casa era considerado extremamente desrespeitoso ficar com o celular à mesa, hoje em dia, são poucos os que não utilizam o celular na hora de comer.
Fico abismada vendo famílias em restaurantes em que cada um está absorto em seu próprio mundo na tela de um aparelho. Além dos problemas visuais e sociais relacionados às telas para crianças, fico pensando nos aspectos psicológicos.
Tem crianças e adolescentes que ficam grudadas no aparelho desde o momento em que acordam até a hora em que dormem. Isso não seria todo o nosso período consciente? O que essas pessoas estão vivendo de fato? O que acontece quando não estão vidradas em uma tela?
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Quais são seus planos? Está escrevendo algo novo, ou pretende escrever?
Continuo com planos de escrever distopias. Gosto muito do gênero. Normalmente, acabo mesclando com outro gênero literário. Meu próximo livro será um romance romântico, já está escrito. Parece contraditório, mas eu sempre quis escrever um romance fofo.
Você pode mandar uma mensagem para os nossos leitores?
Busquem transformar seus sonhos em realidade! Acho que, com meu histórico, essa seria a mensagem que posso passar para outras pessoas. Eu acredito que todos nós nascemos com uma missão e essa missão está atrelada aos nossos sonhos de vida.
Às vezes, temos sonhos muito grandiosos e difíceis de serem realizados, mas muitas vezes, temos sonhos completamente realizáveis hoje. Por exemplo, quando criança, queria pintar meu cabelo de rosa, escrever um livro, dirigir…
Escrever um livro e dirigir leva algum tempo, mas posso pintar meu cabelo de rosa hoje. Dá uma satisfação interna grande poder realizar nossos próprios sonhos.
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