Fada de Saturno, formada em publicidade e escritora best-seller. Natalia Avila tem 30 anos e lançou recentemente o livro “Era de Sombras e Lembranças”, que esteve em primeiro lugar entre os mais vendidos na seção Fantasia, no site Amazon. Iniciou na internet como influencer, trazendo ao ambiente virtual os trabalhos como mentora criativa, conquistando pessoas que a acompanham pela rede social Instagram. Atualmente, com os cursos online que ministra, está chegando a marca de 2000 alunas. Nesse bate papo descontraído, Natalia fala sobre a experiência como escritora, processos criativos e o lançamento do primeiro livro romance-fantasia, como narrativa mais longa.
Primeiramente, nos conte um pouco sobre você. Tudo o que achar necessário para começarmos a falar sobre seu trabalho.
Bom, eu fiquei muito feliz com o convite. Porque eu estava louca para fazer uma entrevista falando justamente sobre meu livro. Eu pensei “gente, eu quero tanto falar sobre essa história, falar do processo criativo, falar como é que foi criar esse livro”. Porque as pessoas normalmente fazem muitas perguntas operacionais, do tipo “quanto foi que custou? Qual gráfica você imprimiu? ”. Mas então, me formei em publicidade quando eu tinha 20 anos de idade e com 21 eu fiz pós-graduação em administração na Fundação Getúlio Vargas. Estudei também na ESPM alguns assuntos do tipo: direção de arte, neuromarketing, neurocomunicação. Então eu sempre me interessei muito sobre a estrutura a qual você passa uma mensagem e a forma que o usuário vai receber. Para mim, a experiência do usuário é uma coisa extremamente importante, então qualquer coisa que eu vou fazer, qualquer projeto que eu vou lançar, qualquer livro que eu vou escrever, eu penso muito assim “como que o receptor vai receber? Como é que o leitor vai entender essa história? Como é que ele vai raciocinar e montar o quebra cabeça dentro da mente deles? ”. Eu sempre fui fascinada por estudar esse tipo de coisa, a psique humana etc.
Como você define a questão de ser escritora?
Eu acho muito importante a gente definir que a pessoa que é escritora, não necessariamente ela é uma novelista, não necessariamente ela vai viver de venda de livros. Na verdade, ela é uma pessoa que vive escrevendo. Dentro da faculdade de publicidade eu queria ser redatora. Eu gostava de escrever slogan, eu gostava de escrever roteiro para vídeos, que era muito mais difícil fazer há dez anos atrás. A gente não tinha isso tudo de aplicativo, de tecnologia. Mas eu gostava muito de escrever, então eu já trabalhava como escritora desde quando eu saí da faculdade. Hoje em dia, por mais que vídeo seja uma coisa que viralize, que tenha mais alcance, todos eles têm que ser legendados. Então tem que ter um bom roteiro para o teu vídeo. Você tem que ter alguma coisa que a pessoa vai querer ler, você tem que saber provocar um interesse e tudo isso está na escrita. Por mais que as pessoas digam “eu não gosto de ler”. Okay, ela vai passar o dia todo lendo o whatsapp dela, o feed.
O seu número de seguidores teve um aumento considerável de um ano para cá. Você acredita que isso tem influência com a sua forma de se posicionar no meio virtual?
Eu acredito que no meu caso, particularmente, eu consegui aumentar bastante o meu número de seguidores porque eu sempre mostrava na prática aquilo que eu ensinava. Então eu não falava só “faz isso que dá certo”, eu falava “ eu fiz isso aqui e deu certo”. Eu acho que tem uma diferença você mostrar a sua experiência, ao invés de simplesmente dar dicas. Então eu sempre tive a cultura de compartilhar aquilo que dava certo e aquilo que dava errado. Sempre fui muito solícitapara todo mundo que falava comigo. É uma coisa que eu gosto, eu faço com o maior coração, com toda mensagem que eu vou responder. Realmente eu levo muito a sério a pessoa que está ali do outro lado. Acho que também é um dos motivos dos meus seguidores serem tão legais. E uma coisa que também me ajudou bastante foi a questão do tráfego pago, porque eu anuncio os meus cursos para poder chegar a mais alunos. Só que a forma que eu anuncio, eu acho que faz toda diferença. Porque eu também anuncio com essa mesma conexão, com esse coração. Eu já vi “curso do escritor milionário”. Eu não vou prometer isso, se não é isso que eu posso entregar. Eu acho que essa sinceridade, essa verdade acabou atraindo muita gente. Acho que ninguém gosta de comprar promessas falsas. É tipo o João Pé de Feijão. Você compra os feijãozinhos mágicos e não sabe se vai dar certo. Então eu prefiro fazer uma coisa assim que é bem sincera.
Como funciona o seu processo de criação?
Eu acho que tem várias dificuldades, vários obstáculos, vários desafios enquanto você está escrevendo. Eu sinceramente acho que uma das maiores dificuldades que eu tenho na minha vida é eu conseguir isolar um tempo só para isso. Então você está aqui fazendo alguma coisa, daqui a pouco você lembra que sei lá, você tem que ir no mercado comprar batata palha e o almoço é estrogonofe, e estrogonofe sem batata palha não funciona. E acaba que você tem alguns pensamentos intrusos que te tiram do foco criativo. Eu acho isso muito chato, mas enfim, acontece. Por isso ter o momento de foco que você não vai pensar em mais nada a não ser aquilo ali, para mim, é bastante importante. E quando eu estou trabalhando em narrativas curtas é mais fácil resolver o que vai acontecer justamente porque você não precisa pensar em tantas variáveis. Mas quando se está trabalhando em narrativas longas, o seu pensamento, chega uma hora que para, e você tem que fazer todo o processo de brainstorm, pesquisa, tudo de novo para conseguir dar continuidade. Eu não sou aquela pessoa que baixa o espírito da história cem por cento, com todos os detalhes de uma vez só. Normalmente eu sei como ela vai começar e eu vou ramificando as possibilidades conforme eu vou dando continuidade a escrita. Então é um processo meio que de plantar e colher. Eu acho que eu trabalho um pouquinho assim dessa forma.
Agora vamos falar sobre o livro “Era de Sombras e Lembranças”. Como surgiu a ideia da história, e o processo de criação especialmente para essa narrativa?
Bom, eu sempre gostei de histórias clássicas de contos de fadas. Eu acho que é muito bacana quando a gente bebe da fonte, e eu sempre achei interessante essa ideia clássica do “existe um dragão, existe uma princesa, existe uma guerra, o dragão morreu e acabou”. Eu gosto dessas coisas interdimensionais. Queria contar o que aconteceu depois da guerra do dragão. Ele é um dragão, uma criatura. Você mata ele, fica impune e está tudo certo? É certo matar uma criatura só porque você considera que ela é perversa? Ela é realmente perversa? E eu vi também um prompt na internet e que eu tinha achado muito bacana, que falava alguma coisa sobre alguém ter tido um sonho e estar com um objeto do sonho ainda com ela na hora que ela acordou. Achei isso muito maneiro. E daí eu quis conectar as ideias justamente com a Lunara, que é a protagonista. Dela realmente acordar e estar ali com a pedra e que essa pedra não pertence a essa dimensão. Eu acho bacana você ficar brincando com se o personagem acha que ele está doido, ou se ele realmente está recebendo sinais de uma outra dimensão. E daí para desenvolver, eu não sabia o que eu estava fazendo no início dessa história. Eu fui só escrevendo. Até a página 150, sou eu escrevendo uma história que eu não faço a menor ideia de para onde é que vai. Real, de verdade, do fundo do coração. Eu fui escrevendo sem muito planejamento, até porque, por ser o meu primeiro romance, eu não tinha estudado ainda uma estrutura. Ele não tem uma estrutura de três atos, com incidente inicial, complicação e clímax. O que eu acho muito bacana porque eu inventei uma estrutura, que acabou funcionando em questão de experiência.
Como foi para você essa repercussão de estar em primeiro lugar dos mais vendidos na Amazon? Foi algo que te deixou surpresa? Superou suas expectativas?
Olha, eu sabia que eu ia fazer um lançamento legal porque a galera já falava que queria ler. Eu fiz uma enquete para poder saber quantos livros que eu ia vender para poder fazer uma pré-venda, com uma margem de lucro, ao invés de comprar um monte de exemplar e ficar com livro encalhado em casa. Então, a própria pré-venda do livro já teve uma repercussão muito legal, que eu fiquei muito feliz. E daí, um belo dia, de manhã eu pensei “vou gravar um tik tok”. Tik tok não é a minha rede principal, eu não tenho uma comunidade formada. Eu acho que o tik tok ele é meio que terra de ninguém. Você consegue alcançar as pessoas, mas você não consegue necessariamente se conectar com elas. Eu me conecto com as pessoas no Instagram, na Twitch, até mesmo às vezes no Youtube. E aí, o que aconteceu foi que o vídeo viralizou. Realmente está com mais de 100 mil visualizações. E quando eu vi isso eu virei um chihuahua, eu só me tremia. Era tudo que eu conseguia fazer. Eu passei três dias tremendo, sem sacanagem. E daí veio uma outra ansiedade que foi muito boa e muito ruim, porque alcancei primeiro lugar, mas ninguém fica no primeiro lugar para sempre. Então, você precisa manter o primeiro lugar? Você já alcançou, não interessa quanto tempo que vai continuar ali, já é uma baita conquista. Eu não posso me apoiar nisso para poder definir o valor da minha obra. Se alcançou aquilo, ótimo, quer dizer que muita gente se interessa e que eu estou no caminho certo. Mas eu tive que dar uma desconstruída dentro de mim para poder entender que eu estava alcançando pessoas que nem sabiam quem eu era. É diferente de eu vender o meu livro para os meus seguidores que sabem quem eu sou, que acompanharam o processo, que já conhecem um pouco da minha escrita. Eu estava alcançando pessoas totalmente desconhecidas e essa sensação me fez tremer muito. Me deu ansiedade, mas não foi uma ansiedade ruim, foi só “eu não sei como agir”. Eu fiquei curtindo a felicidade e a tremedeira. Eu estava na minha própria rave.
Sabemos que em breve teremos a segunda parte de “Era de Sombras e Lembranças”. O que as pessoas podem esperar da finalização da história da Luna? Não apenas no quesito romance, que é o favorito de muita gente, mas de maneira geral?
Eu adoro história de romance, mas eu adoro principalmente quando a história de romance é bastante presente, mas ela não é o foco. Tem uma coisa maior acontecendo, que é o foco principal, só que tem o romance ali para poder manter a gente cativa. Tem muita coisa que pode acontecer. O que a pessoa pode esperar? Ela não vai poder esperar nada porque vai ser surpreendente as coisas que vão acontecer. Não é de propósito, mas eu estou tentando uma história que não é óbvia. A Luna já deixou claro alguns dos sonhos dela, que pretende alcançar nesse primeiro livro. Você pode esperar muitas cenas de romance. Você pode esperar a Luna com sentimentos ainda mais confusos. Então, o que aconteceu com a vida dela depois do epílogo depois de quem ela viu, vai deixar ela muito em parafuso do que está acontecendo, do que é real e o que não é, quem está aqui nessa dimensão, quem não está. Vai ter muita aventura e momentos muito cômicos vão acontecer, porque ela está chegando numa zona que tem clima de guerra. Então é um lugar muito perigoso. Vocês vão ver muito mais magia também, porque é uma parte que a magia está mais selvagem. Eu pretendo introduzir mais criaturas mágicas, mais desenvolvimento dela com a magia dela. Desenvolver mais os personagens secundários.
Você tem uma previsão para o lançamento?
Eu já tenho várias ideias na cabeça, mas eu ainda não comecei a estruturar os capítulos. Eu quero lançar esse livro, talvez entre abril e junho do ano que vem. Como é uma história que é uma continuação, eu já conheço os personagens, já conheço o mundo, já sei o que deve acontecer, eu acho que eu vou escrever muito mais rápido do quando a gente está tirando uma ideia da cabeça do zero, que a gente precisa descobrir isso tudo.
Tem mais algo importante que gostaria de acrescentar sobre o livro?
Uma coisa muito legal desse livro, bem diferente dos outros livros de fantasia, que é uma coisa que eu queria muito trazer como experiência, é que ele é muito apoiado em flashback. O feedback do que as pessoas estão me falando que acham muito gostoso como que você está em um momento real e no outro momento você está totalmente imersa numa lembrança. Eu queria trazer uma experiência que fosse gostosa nesse sentido, até porque está no título do livro. Também fiquei muito feliz das pessoas falarem que a escrita é fluída, que acharam lindo. Outra coisa também que me deixou muito feliz é que algumas pessoas falaram que no início não estavam necessariamente se conectando tanto com a história, nas cenas iniciais. Só que mesmo assim, elas não conseguiam parar de pensar na história. Então teve gente sonhando com a história e eu achei isso incrível, porque é um sinal, tipo assim “ficou na cabeça, se tornou importante”.
Para finalizar, qual recado você deixa para as pessoas que desejam viver da escrita?
Bom, o recado que eu tenho é que não existe fórmula mágica e que querer fazer e fazer são coisas totalmente diferentes. Então se você realmente quer viver de escrita, você precisa estar disposto a ouvir “não”; você precisa estar disposto a encarar os seus bloqueios criativos; você precisa estar disposto a quebrar a cara; a ouvir críticas e saber que tem alguma história por aí que ela quer ser contada através de você. Que ela escolheu você para ser o portador dela e que a ideia merece uma atenção, ela merece não ser abandonada, ela merece uma boa pesquisa, ela merece dedicação e merece empenho para poder ser lançada. E se você realmente acha que essa sua ideia é tão maneira, vale a pena ter esse esforço. É muito trabalhoso. Não vai ser um dia, não vão ser dois meses de dedicação, vão ser anos de dedicação, mas se esse é o seu sonho, me parece uma coisa boa quanto qualquer outra para você colocar ali a sua energia. Se for para se dedicar para escrever seu livro; ou você vai se dedicar para fazer alguma coisa para uma outra pessoa; ou você vai ficar se distraindo; consumindo conteúdo de outras pessoas. Porque é isso que a gente faz: quando a gente não está criando conteúdo, a gente está consumindo algum tipo de conteúdo. Você pode escolher o que você quer fazer, o que vai te trazer mais satisfação. Tem gente que tem a satisfação só lendo, curtindo, assistindo e poxa, se amarra, prefere gastar energia fazendo outras coisas. É um caminho. Mas se você tem um caminho de que realmente quer escrever, quer criar, tem que entender que você está tocando na energia criadora do universo e materializando, e isso é mágico. E se é mágico, não pode ser fácil.
E a finalização dessa entrevista fica dedicada em memória ao pai da Natalia, que faleceu pouco tempo após o lançamento do livro. Alguém que sempre inspirou muito o caminho da escritora.
Quando eu tinha 10 anos de idade, uma coisa que está até nos agradecimentos do livro, meu pai me levou para ver Senhor dos Anéis. E ele falou: “se você ver Senhor dos Anéis eu te dou o presente que você quiser, se você entender o que é a sociedade do anel”. E quando a gente saiu do filme ele perguntou o que era a sociedade do anel e eu lembro que eu voltei para casa contando o filme inteiro para ele, falando dos personagens. Ele chegou em casa tipo, quinze minutos depois, impressionado com a minha compreensão, de uma menina de 9, 10 anos de idade. E desde então eu sempre fiquei muito no meu imaginário como que seria contar uma história de fantasia, com todos os elementos que eu gostava. Eu sempre gostei muito de princesas, batalhas, sempre fui apaixonada por violino. E é engraçado porque a última coisa que meu pai me falou quando ele estava vivo, meu pai já estava bem debilitado com a doença que ele tinha. Mas eu peguei o meu livro e coloquei na mão dele. Eu falei “pai, escrevi um livro”. Aí ele pegou, ele não conseguiu terminar a palavra por conta das sequelas que ele tinha, mas a última coisa que ele me falou foi “está perfeito”. Isso para mim significa muito. Acho que ele até abençoou o livro, que depois ele virou best-seller. Eu fico muito grata. Minha mãe, está viva, também vale ser mencionada. Ela sempre me incentivou num nível bizarro. Sempre me colocou muita consciência também sobre você tomar suas próprias decisões, sobre você honrar tua palavra e fazer aquilo que você fala que é para você. Então tem muito dela nesse livro, nessa questão de você arcar com a responsabilidade. E acho que acaba que todo livro é meio que uma combinação de tudo o que o autor viveu, tudo que ele gostaria de viver. Todas as possibilidades que passam pela cabeça dele.
Até a data da entrevista, as informações abaixo não haviam sido confirmadas. Portanto é uma nota adicional que ocorreu alguns dias depois, enviada pela autora:
A versão física de “Era de Sombras e Lembranças” está esgotada neste momento e estará disponível para compra novamente ainda essa semana, na quarta-feira, dia 25/08. Por enquanto é possível encontrar a versão em Kindle. A autora tinha um estoque, mas vendeu as 600 unidades, então contratou um serviço de impressão por demanda para poder disponibilizar a mais pessoas. Portanto, em breve ele vai estar disponível na Amazon, Americanas e Submarino na data em questão.
Muito obrigada pelo convite, fiquei feliz demais em participar!