O escritor Thiago Arantes é o autor do livro de contos “A Terceira Margem da Folha”. Além disso, ele também é professor universitário, advogado e celebrante de casamentos. Seu primeiro livro foi “Lágrimas Latinas, Lascívias Linguísticas”, de poesias. “A Terceira Margem da Folha” é o primeiro livro de ficção do mineiro de Patos de Minas. Em entrevista ao GeekPop News Thiago Arantes fala sobre o processo de escrita da obra e de sua trajetória como escritor.

Antes de falar sobre o livro, você poderia contar como você chegou até aqui?

Então, esta pergunta comporta tantas respostas. Somos muitos, todos nós. Entre as respostas possíveis, primeiro sou pai, acho que sobretudo sou pai, porque esta é a melhor parte de mim. Ao nível daquilo que nos propomos aqui, sou Poeta em tempo integral. Toda minha escrita passa por isso, porque a minha vivência cotidiana e humana tem esta lente para tudo. A prosa que escrevo, acredito, seja permeada por esta natureza. Em “tempos” delimitados, sou Professor Universitário, Celebrante de Casamentos e Advogado. Visto a “roupa” deles no exercício de cada atividade.

Comecei a escrever muito cedo, pelos 15 anos – Explico-me: as aulas de redação, a famosa “Minhas Férias”, minhas prediletas. Então, escrevia “redações” fora das aulas pelo prazer de escrever. Mas, enquanto atividade literária, stricto sensu, a Poesia foi a porta de entrada. Infelizmente, tenho pouca coisa guardada desta época.

Como foi seu trabalho de pesquisa para escrever o livro? O que te inspirou?

Vou começar pelo fim: o que me “inspirou” foram todos os livros que li em minha vida. Acho que todo escritor, sobretudo, é um leitor. Concordo integralmente com Jorge Luis Borges, que se definia como um leitor e não um escritor. Somos, todos, uma colcha de retalhos daquilo que compõem nossas experiências. Somos frutos disso. E a escrita ocorre não como forma ou pretensão de repetir nossos ídolos, mas como uma forma plena de gratidão. Minha escrita é um canto de gratidão aos que me fizeram rir e chorar, e espantar e revoltar com suas linhas.

A minha “inspiração” tem muitos pais e muitas mães, embora seja a minha voz e minhas convicções e experiências. Não houve, para o Livro, uma pesquisa. Muitas vezes sentei sem ter a mínima ideia do que viria. Nasceram como quiseram. E que assim seja sempre.

Entre todos os contos, por que escolher “A Terceira Margem da Folha” para nomear a coletânea?

Nunca pensei sobre isso. Inclusive, a excelente pergunta me suscita pensamentos muito íntimos. Refletindo aqui, penso que a capa, que foi concebida por nossa pessoa, veio à mente após tê-lo feito – julgava, como julgo, uma imagem forte e bela. Outra coisa que me ocorre é que tenho três escritos que são os preferidos de minha vida: o conto “A Terceira Margem do Rio” do Rosa, “Menino Jesus Verdadeiro” do Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) e “Nas Águas do Tempo” do Mia Couto.

A pretensão de explicar sentimentos é bastante ineficiente. Mas digo que cada um destes textos, que releio sempre, desperta uma epifania em mim.

Os seus contos são cheios de personagens iguais a todos nós e pessoas que encontramos no nosso dia-a-dia. Existe algum personagem em especial com o qual você se identifica?

O nosso leitor vai se deparar com uma situação bastante característica da minha escrita: a ausência de nomes para os personagens. Isso porque, como os temas são universais, qualquer pessoa pode se colocar naquele lugar ou identificar alguém que conhece vida afora.

Estou concluindo meu primeiro romance e, veja você, é “o velho”, “a criança”, “a mãe”… é a minha mãe, a sua mãe, a mãe do outro… Mas, de outro lado, o único conto em que há uma personagem nominado é “Procura” – “curiosamente” seu nome é SanTHIAGO, uma projeção, portanto, de mim mesmo. Isso porque essa procura da personagem é a procura de minha própria vida: de quem, recordando a criança, que é sábia e pura, desenha seus sonhos para o adulto que quer se tornar. “Minha criança” queria ser escritor – o que mais quero é honrar esse pedido de minha alma.

“A Terceira Margem da Folha” é o seu primeiro livro de ficção e contos. Você também é autor de um livro de poesias. Você pretende se aventurar por outros gêneros literários?

Sim. Estou concluindo meu primeiro romance / novela e um livro de estórias curtas de humor (Luiz Fernando Veríssimo é uma grande referência em minha vida), que, embora esteja na “prateleira” de “Contos” é uma abordagem bem distinta do Realismo Fantástico.

Quem conhece Guimarães Rosa, logo entende a referência ao conto “A Terceira Margem do Rio”. Qual foi seu objetivo ao fazer essa homenagem ao autor?

A palavra é essa: Homenagem. Como escrevi acima, escrevo por causa dele e de tantos outros… Igualmente, como fiz referência, o conto “A Terceira Margem do Rio” está entre meus textos preferidos da vida. A “Prece de Apresentação”, de nossa autoria, que abre o livro, discursa muito sobre este sentimento.

O que você diria para aqueles que sonham em ser escritores? Ou querem começar a escrever?

Leiam! Leiam muito. Como dito, um escritor é sobretudo um leitor. E, outra coisa: observem a vida ao seu lado. Situações, pessoas, estórias… e escreva com verdade, a verdade que lhe cabe. Qualquer pretensão de escrever um “best seller” morrerá se o intuito for exclusivamente esse. Será uma construção sem os pilares mais importantes: A Alma, a crença, o sentimento de quem escreve. Escreva por prazer e tenha método, disciplina.

Escreva, se possível, diariamente. Hemingway dizia que escrevia 10 textos para tirar 1 que considerava bom. É assim: Arte e Ofício. Mais transpiração, menos inspiração – por mais que isso soe contraditório. Recomendo, quanto ao tema, o livro “Cartas a um Jovem Poeta” do Rainer Maria Rilke, que embora trate da poesia, descreve bastante o que pretendemos responder aqui. Recordo-me ainda de breve texto do Bukowski “Então queres ser um escritor”. Vale a conferida.

Gostaria de acrescentar alguma coisa? Sobre o livro ou sobre seu trabalho?

Como outros me causaram, espero que o leitor se surpreenda, chore, sorria, se emocione, fique reflexivo… A arte é para nos causar emoções e nos tirar, momentaneamente, do mundo reto e concreto em que vivemos. A música, a pintura, a dança, todas elas… Parafraseando Nietzsche: a vida, sem a arte, seria um erro. Boa viagem pelas margens desta obra, infinita, como infinita é a vida em suas experiências.