Lançamento do livro acontece em vasta agenda literária, em São Paulo, com coletivo e rodas de conversa
A escritora e artista visual paulistana Tieko Irii lança o livro “As Ruas Sem Nome”, pela Editora Patuá. Com isso, o lançamento acontece em uma série de eventos culturais em São Paulo, que integram atividades de celebração da literatura e da cultura nipo-brasileira.
Na história, a autora discute sobre racismo, estereótipos e as complexidades de ser uma mulher nipo-brasileira em um país marcado por hierarquias raciais e sociais. Assim, a obra começa com a descoberta da autobiografia secreta de seu pai, Hisashi Irii- um jovem que fugiu de casa no Japão pós-guerra e perambulou pelo país devastado antes de imigrar para o Brasil. “Ao ouvir os relatos dos meus tios, descobri que era cheia de lacunas, eles pouco sabiam sobre meus avós, e assim como eu, evitavam tocar nas feridas; mas ao nos inserir na história do mundo, descobri que fazemos parte de uma história coletiva. Somos frutos disso, mas também sujeitos de nossa própria história”, reflete Tieko.
“Quando meu pai finalmente contou sua história, entendi por que ele a manteve em segredo: era uma narrativa de tragédias, de transgressões e de coragem “.
Cultura japonesa e brasileira
Dessa forma, em “As ruas sem nome”, Tieko cruza sua trajetória com reflexões sobre a herança cultural japonesa e brasileira. A história também trata sobre o mito “perigo amarelo”, da “minoria modelo” e do soft power japonês, contextualizando como esses construtos sociais moldaram sua vivência. “O projeto de branqueamento brasileiro, o mito da democracia racial brasileira, composta por brancos, negros e indígenas, e o racismo estrutural, nos colocou em um lugar paradoxal: nem totalmente aceitos, nem totalmente estrangeiros.”, analisa a autora.
Assim, o livro chega em um momento de crescente discussão sobre representatividade asiática no Brasil, impulsionada por pesquisadores, acadêmicos, artistas e coletivos antirracistas amarelos e asiáticos. Dessa forma, a autora também aborda a exotificação dos corpos amarelos e a solidão de crescer nos anos 1980, quando ser descendente de japoneses significava enfrentar bullying e invisibilidade. “Mas também é uma história de desejos, sonhos, busca de liberdade e um lugar ao sol”, enfatiza.
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Reconstrução de memórias
Além da escrita, Tieko desenvolveu um trabalho de colagem com arquivos familiares, unindo imagem e texto para reconstruir memórias apagadas. “Essa foi minha maneira de costurar afetos e ausências, e outra forma de tocar a experiência de ser nipo-brasileira”, explica.

A obra, estruturada em quatro partes, alterna trechos da autobiografia do pai com relatos pessoais, desde sua infância em São Paulo até sua temporada no Japão no final dos anos 1980, onde buscou, sem sucesso, um senso de pertencimento. “Ao mesmo tempo, foi um resgate étnico-identitário como um ponto de partida, mas não um fim. Percebi que somos feitos de múltiplas identidades. Não somos nem brasileiros, nem japoneses, estamos em um não lugar, que também é um lugar”, relata a escritora.
Segundo Tieko, publicar “As ruas sem nome” é um ato político. “Durante o processo da escrita, achava a minha história banal, como que se contar a própria história fosse uma coisa menor, coisa de ‘mulherzinha’, sobretudo de uma garota nikkei fora dos padrões do que se esperava dela”, relata.
“Perceber que a dificuldade de validar a minha história estava relacionada ao patriarcado, ao machismo e ao racismo estrutural, que silenciou nossas vozes por séculos, nos colocou em caixinhas e nos tirou fora da universalidade, foi libertador. Compreendi que podemos contar a nossa história, a importância de passar isso adiante e o quanto isso é transformador. Muda a nossa vida”, finaliza Tieko.
Agenda de lançamentos
O próximo evento de lançamento acontece no Orgulho Nerd SP 2025, evento gratuito, nos dias 13 e 14 de setembro, no Pavilhão das Culturas Brasileiras. Além disso, também no dia 14, Tieko integra mesa de conversa sobre ancestralidade, identidade e escrita na Casa Abe, às 16h30, na Feirinha Abe Literária. Já no dia 21 de setembro, a autora participa como expositora do coletivo, no Aurora Fest, realizado no Largo da Batata.
Sobre a autora

Tieko Irii é artista visual, diretora de arte e escritora paulistana. Formada em cinema pela FAAP em 1988, trabalhou por 25 anos em publicidade e no audiovisual, com passagens por filmes como “Os Matadores” (1987), “O Menino Maluquinho 2” (1998), “Castelo Rá-Tim-Bum” (1999), e séries como “Retrato Falado” (Rede Globo). Publicou três livros infantis antes de se dedicar a “As ruas sem nome”, sua primeira obra autobiográfica. Viveu no Japão entre 1989 e 1991, experiência que influenciou sua pesquisa sobre memória, diáspora, gênero e raça.
Imagem capa: Divulgação
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