Euzhan Palcy é a primeira diretora negra a ganhar um Oscar honorário. Aos 64 anos a diretora e roteirista fez história ao ganhar o troféu que homenageia os profissionais que tiveram trabalhos excepcionais nas artes e na cinematografia.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood reconheceu Palcy por trabalhos como Sugar Cane Alley (1983). Filme que lhe rendeu o prêmio de Urso de Prata no Festival de Veneza. E ainda mais, a diretora foi a primeira mulher negra a ganhar como melhor filme de estreia no César (O Oscar do cinema Francês) com o longa Sugar Cane Alley. Da mesma forma, longa Assassinato Sob Custódia foi pioneiro como o primeiro filme dirigido por uma mulher negra a ser produzido por uma grande gravadora. Este longa também rendeu uma indicação ao Oscar para o ator Marlon Brando.
No entanto, apesar de todo o prestígio e destaque, em seu discurso na premiação a diretora criticou o fato de acabar sendo a primeira mulher negra a alcançar alguns objetivos, conquistar coisas e ocupar determinados espaços. “Se não fiz filmes por alguns anos, foi porque decidi ficar em silêncio. E fiquei em silêncio porque estava exausta. Estava exausta de ouvir que era pioneira, de ser elogiada por ser a primeira a fazer tantas coisas, mas de me negarem a chance de fazer os filmes que queria”. Em outras palavras, Euzhan continuou falando sobre o motivo seu sumiço das mídias e dos cinemas “E por que mantive meu silêncio? Porque não consegui mais ouvir as palavras: negros não dão lucro; mulheres não dão lucro; mulheres negras não dão lucro. Olá, pessoal, olhem para a minha irmã aqui”, sobre Viola Davis.
A diretora recebeu o prêmio das mãos de um ícone da atualidade na comunidade negra, Viola Davis. A intérprete do filme de grande sucesso “A Mulher-Rei”. Na entrega do prêmio a atriz disse sobre a diretora “Foi com seu trabalho que ela deixou sua marca, lutando pelo que era certo, abrindo a cortina para mostrar o que estava escondido para muita gente, dividindo com o mundo histórias que precisavam ser contadas.” .
Sobre Euzhan Palcy
A tragetória de Euzhan Palcy até vencer o Oscar honorário foi longa. Nascida numa ilha franco-caribenha de Martinica, filha de um pai ativista que incentivou a filha a desenvolver seu lado artístico. A diretora e roteirista desenvolveu seu interesse pelo cinema por volta de seus 10 ou 11 anos. Então, aprendeu a manusear uma câmera de 16mm e fez o seu primeiro curta-metragem para a estação de TV local.
Cresceu vendo pouquíssima representatividade preta nos filmes americanos de Martinica na época. Sendo assim, Palcy cresceu profissionalmente com a frustração e vestiu-se da missão de contar a história de pessoas como ela de colocar rostos de pessoas das quais ela e muitas outras mulheres pretas pudessem se identificar nas telas.
Euzhan se mudou para Paris com 20 anos, foi onde estudou cinema e literatura. Lá escreveu o roteiro de Sugar Cane Alley, um livro que fala sobre a vida do povo preto de Martinica, sua cidade natal.
Palcy já luta contra o sistema desde seu primeiro trabalho reconhecido, A Dry White Season em 1989. Desde então a diretora abre caminho para a nova geração de diretoras negras no cinema. Se vê que na premiação deste sábado (19), a diretora levou à cerimônia duas estudantes de cinema e disse se sentir “encorajada a falar novamente”.
Outras mulheres negras já ganharam o Oscar honorário anos antes. A primeira a atriz foi Cicely Tyson, em 2018; as cineastas Agnès Varda e Lina Wertmüller venceram respectivamente em 2017 e 2019, seguida de Elaine May e Liv Ullmann no ano de 2021.