Do Saci ao Curupira, produções nacionais revisitam mitos e tradições em narrativas que misturam horror, crítica social e valorização cultural
O halloween ainda não é um feriado nacional, mas com um crescimento forte e acelerado da tradição, a data tem tomado espaço para se tornar uma comemoração brasileira. Segundo pesquisa da Globo deste ano, 33% da população diz que comemoram o feriado estrangeiro.
Embora a adesão seja grande atualmente, a tentativa de trazer a data para o calendário brasileiro ocorre há mais de 20 anos. No entanto, ela acontecia sob a perspectiva de ressignificar o feriado para valorização da cultura brasileira.
Em 2003, o deputado federal Chico Alencar e a vereadora Ângela Guadagnin apresentaram a proposta do “Dia do Saci” para o 31 de outubro. O Projeto de Lei Federal n.º 2.762 veio com a intenção de educar a população sobre seus próprios mitos e lendas, valorizando a cultura folclórica brasileira.
No entanto, a princípio, o estado de São Paulo foi o único a oficializar o feriado em seu calendário em 2004. Sendo assim, apenas 10 anos depois a data foi adotada no âmbito nacional.
Para somar na comemoração do Dia do Saci, o GeekPop News separou uma lista de adaptações de terror para telas de lendas folclóricas brasileiras:
“Cidade Invisível” com amplo repertório de figuras folclóricas

O lançamento da série de suspense e mistério em 2021 cravou o top 10 de mais vistas da Netflix em 40 países. “Cidade Invisível” traz no roteiro figuras célebres do imaginário popular brasileiro como Cuca, Saci, Curupira, Boto-Cor-De-Rosa e Iara.
No entanto, apesar do sucesso em audiência e da história que trazia amplitude de lendas folclóricas, a primeira temporada da série gerou polêmica por não ter representatividade indígenas dentro da cadeia produtiva. A crítica se deu principalmente pela contradição da série contar lendas que tem sua origem na cultura indígena.
Além disso, as desaprovações se voltaram também para as distorções feitas nas caracterizações de algumas lendas. Em entrevista para a revista Rolling Stones, a ativista e comunicadora Alice Pataxó conta sobre o choque da figura do Curupira em uma representação de anti-herói. “O Curupira, eu vejo de um jeito muito diferente. Para nós [pataxós] é uma entidade muito de paz.”
Desse modo, para a segunda temporada, os produtores acataram as críticas e trouxeram pessoas indígenas para frente das câmeras e para os bastidores. Além disso, eles também se atentaram em tirar a história de uma perspectiva sudestina e levou a nova narrativa direto para o norte, em Belém do Pará.
Outras representações que também aparecem na série são: Corpo-Seco, Tutu, Matinta Perê, Mula sem cabeça, Boiuna, Zaori e Lobisomen.
“As Fábulas Negras” e a união das figuras mais conhecidas do terror brasileiro

Lançado em 2015, “As Fábulas Negras” reúne quatro grandes nomes do terror nacional: Rodrigo Aragão, Petter Baiestorf, Joel Caetano e José Mojica Marins, o lendário Zé do Caixão. O filme apresenta cinco curtas interligados por uma narrativa que mergulha profundamente no imaginário popular brasileiro.
Cada episódio resgata figuras do folclore e do sobrenatural, como o Saci, a Loira do Banheiro e o Lobisomem. O título transporta cada uma dessas lendas para dentro do contexto de horror contemporâneo, com muito sangue, mistério e crítica social.
O título está disponível de forma gratuita na Pluto.tv.
“O Diabo Mora Aqui” traz lendas folclóricas pouco exploradas

“O Diabo Mora Aqui”, de 2015, tem direção de Rodrigo Gasparini e Dante Vescio. A história coloca em cena um grupo de jovens que aluga um casarão para um fim de semana — e desencadeia forças ligadas à escravidão e ao sobrenatural. A trama se inspira em mitos do folclore nacional como o Negrinho do Pastoreio, em que lenda carrega o tormento de um escravo punido, e o Bebê‑Diabo, associado ao território do ABC paulista.
O filme busca resgatar a força das lendas brasileiras, ao mesmo tempo em que revisita a violência histórica da escravidão como elemento de horror.
“Curupira – O Demônio da Floresta”

Logo no início, o longa traz seis jovens que se aventuram em uma ilha isolada e acabam sendo caçados por uma figura ancestral: o “monstro” Curupira. Dirigido por Erlanes Duarte, o filme estreou como “o primeiro terror maranhense”.
A adaptação da lenda como um “demônio” gerou muitas críticas ao filme antes mesmo do lançamento.
No X (na época Twitter), lideranças indígenas se mobilizaram para acusar o filme como fruto de racismo religioso, que tirava de contexto uma figura que é tida como um ser espiritual de proteção.
Em entrevista para O Globo, Erlanes Duarte afirmou que a intenção real do título era mostrar a preservação ambiental. “Estamos falando de uma obra inteiramente ficcional O filme não tem a intenção de ofender e não ofende nenhuma religião, pessoa ou etnia indígena. Não tocamos nesses assuntos no filme. Mas, tirando a ficção, o que o filme mostra é a discussão sobre a preservação do meio ambiente”, contou o diretor.
“Mata Negra” apresenta folclore do interior

Na narrativa de “A Mata Negra”, leva o espectador para o interior de uma floresta brasileira onde a jovem Clara encontra o misterioso “Livro Perdido de Cipriano”, que prometia ressuscitar quem ama. No entanto, o pacto acaba desencadeando uma maldição ancestral.
O filme de 2018, é mais um dos trabalhos de Rodrigo Aragão. Gravado em Espírito Santo com orçamento mais robusto, a produção une clima de terror clássico com o folclore brasileiro.
Entretanto, “A Mata Negra” não incorpora exatamente uma única lenda folclórica tradicional como protagonista. Mas, ela dialoga com o imaginário popular ao utilizar símbolos como feitiçaria, pacto com o mal e livro mágico. A escolha desse universo remete ao folclore interiorano, onde a mata abriga segredos, entidades e rituais antigos.
“Bacurau” e a resistência cultural como suspense

Desde o primeiro momento, o vilarejo de Bacurau assume o papel de palco para uma resistência baseada na tradição. Apesar de se passar em uma cidade fictícia, a obra como um todo, reincorpora ao sertão nordestino ícones da cultura popular. Exemplo disso são as armas simbólicas de luta, como o bacamarte medieval, e até mesmo personagens como representação de heróis de cordéis.
Dessa forma, traz a resistência do povoado de Bacurau por meio da luta contra um poderio que tenta invadir.
“Bacurau” teve uma boa recepção pela crítica, onde até mesmo ganhou o prêmio do Júri no Festival de Cannes 2019. No agregador Rotten Tomatoes, o filme alcançou uma aprovação de aproximadamente 93 %.
═════════════════════════════════════════════════════════════
🩸 Para mais textos, análises e notícias sombrias sobre o mundo do terror, siga o Geek Sinistro nas redes sociais e não perca nenhuma novidade arrepiante.
Imagem de capa: Divulgação