Dirigido por Shahad Ameen, Hijra acompanha a jornada de três gerações de mulheres rumo a Meca e simboliza a nova fase do cinema saudita

A Arábia Saudita oficializou Hijra, da diretora Shahad Ameen (Scales), como o filme que representará o país na categoria Melhor Filme Internacional do 98º Oscar, anunciou nesta terça-feira (14) a Comissão Saudita de Cinema.

O longa estreou na seção Spotlight do Festival de Veneza em setembro, onde recebeu o Prêmio NETPAC de Melhor Filme Asiático, consolidando sua presença no circuito internacional.

A produção marca um novo capítulo para o cinema saudita, que busca visibilidade global após o fim da proibição de exibições públicas de filmes.

Hijra aprofunda a discussão sobre o papel da mulher na sociedade do país, com uma narrativa que combina tradição, fé e transformação social.

Hijra representará Arábia Saudita no Oscar 2026
O filme acompanha Janna, que parte para Meca com sua avó e sua irmã | Crédito: Iraqi Independent Film Center/Divulgação

Uma jornada de fé e descoberta

O enredo de Hijra acompanha Janna, uma menina de 12 anos que embarca em uma viagem a Meca ao lado da avó Sitti e da irmã Sarah, com o propósito de cumprir o Hajj, a peregrinação sagrada do islamismo. No entanto, o que começa como um ritual de fé logo se transforma em uma jornada repleta de tensões e descobertas.

Durante o trajeto, um acontecimento inesperado altera completamente o rumo da viagem: Sarah desaparece. A partir desse momento, Janna e Sitti iniciam uma busca desesperada por todo o território saudita. Ambas movidas tanto pelo medo da reação do pai das meninas quanto pela necessidade urgente de encontrar respostas.

Com o passar do tempo, a trajetória das personagens deixa de ser apenas física e se converte em um percurso emocional e simbólico, marcado por revelações pessoais e familiares profundas.

Enquanto procura a irmã, Janna é confrontada com segredos do passado da avó, que precisa lidar com antigos dilemas e, consequentemente, com uma oportunidade tardia de redenção. Assim, o desaparecimento de Sarah funciona como catalisador de uma transformação silenciosa e inevitável.

De acordo com a diretora Shahad Ameen, Hijra é uma reflexão sobre “as revoluções silenciosas das mulheres em movimento” e sobre como o significado de liberdade se transforma ao longo do tempo e entre diferentes gerações.

O fortalecimento do cinema saudita

Com Hijra, Shahad Ameen reforça sua posição entre as principais cineastas da Arábia Saudita. A diretora já havia representado o país no Oscar de 2020 com Scales, seu primeiro longa-metragem, que também circulou por diversos festivais internacionais.

Além disso, Ameen faz parte de uma nova geração de cineastas sauditas que surgiu após a reabertura dos cinemas em 2017, evento que marcou o fim de mais de três décadas de proibição no país.

Esse movimento cultural possibilitou o surgimento de novas vozes e narrativas, refletindo uma sociedade em transformação. Nesse contexto, Hijra se insere como símbolo dessa renovação, explorando temas que conectam tradição e mudança social.

O filme foi produzido pelo Iraqi Independent Film Center, em parceria com produtoras sediadas em Jeddah. Isso reforça o caráter regional e colaborativo da obra. Por meio dessas parcerias, o projeto representa não apenas uma conquista individual, mas também um avanço coletivo da indústria cinematográfica árabe.

Desde 2013, quando submeteu Wadjda, de Haifaa al-Mansour, a primeira mulher cineasta da Arábia Saudita, o país vem marcando presença no circuito do Oscar. A partir desse marco, o governo saudita passou a investir de forma mais consistente em produções nacionais e coproduções internacionais.

Dessa forma, Hijra surge como um exemplo do amadurecimento do cinema saudita, resultado direto das políticas de incentivo à produção audiovisual e do fortalecimento das vozes femininas dentro da indústria.

Expectativas para o Oscar 2026

A seleção de Hijra reflete o esforço saudita em consolidar uma identidade cinematográfica própria, marcada por histórias locais contadas sob perspectivas femininas.

Ainda que o país nunca tenha sido indicado oficialmente ao Oscar, o aumento da qualidade técnica e narrativa de suas produções demonstra um avanço consistente.

Além disso, com o reconhecimento obtido em Veneza e o apoio institucional crescente, Hijra se junta à lista de filmes que buscam romper fronteiras culturais e ampliar a presença do Oriente Médio no cenário do cinema mundial. A Academia de Hollywood divulgará a lista oficial dos indicados ao Oscar 2026 no início do ano, e realizará a cerimônia em março.

Imagem de capa: Iraqi Independent Film Center/Divulgação