Na década de 1860, a cidade de Porto Alegre sediou uma série de crimes bizarros que abalaram a cena inanimada da região. Na época, o que mais se assemelha a um plot de ficção de terror, um casal local foi responsabilizado por assassinar homens. E não apenas isso: também a moer as carnes e, como se não bastasse, transformar o material em linguiças e distribuí-las por toda a cidade. E foi nesta antiga lenda urbana, de repercussão mundial e que até é citada no livro de anotações do naturalista Charles Darwin, que o roteirista brasileiro Tailor Diniz se baseou para escrever o livro Os canibais da Rua do Arvoredo.
Sobre “Os Canibais da Rua do Alvoredo”, de Tailor Diniz
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No livro, Tailor Diniz revive as histórias protagonizadas por Catarina Palse e José Ramos há mais de um século e meio em uma trama que mescla a ficção com o true crime. Dessa maneira, a trama acompanha José e Catarina, um casal de jovens universitários que se muda para antiga residência do casal assassino.
No entanto, a vivência dos dois na nova moradia começa a ficar bizarra quando eles descobrem um porão. A partir deste momento, o novo casal se vê influenciado pelos espíritos dos antigos moradores do local, criando um novo boato na capital do Rio Grande do Sul. De acordo com a sinopse, o enredo da obra é instigante e assustador, de modo a retratar “até mesmo os desejos mais estranhos do ser humano”. Tudo isso em meio a facas, cutelos, machados, um moedor de carne e um esqueleto humano – cenário este regado ao ardente desejo sexual, o medo e a conexão entre passado e presente.
Narração onipresente e instigante
Nesse sentido, a trama da obra conta com a narração de um observador onipresente um tanto quanto diferenciado. Isso porque ele se apresenta como membro de uma organização internacional, que tem o objetivo de dominar o mundo e transformar a população em comunistas/globalistas.
Partindo desse ponto de vista, o personagem – até então inominado – começa a seguir os passos dos novos moradores da residência na Rua do Alvoredo. No entanto, a confiança no relator é ponto chave para compreender a obra. Além disso, Tailor Diniz também levanta questionamentos na obra sobre quais são os motivos da vingança dos espíritos e da escolha desse casal.
José, então, enfia a mão pelo buraco que se abriu no tórax do outro
(Os canibais da Rua do Arvoredo, pg. 92)
e o revira, no fundo. Depois de algum esforço, puxa algo para fora, ainda pulsante.
É o coração de Alex que ele ergue diante dos olhos e no qual dá uma grande mordida,
tirando-lhe um naco ensanguentado.Seu rosto cobre-se de sangue.
Do sangue de Alex e do seu próprio, expressado sob a transparência da pele
enquanto corre nas suas veias a uma estúpida velocidade de cruzeiro.
Catarina olha-o amedrontada. Mas ali, naquele instante, para José só existe Alex.
Alex e seu coração pulsante, que ele agride com sucessivas mordidas e tapas.
“Os canibais da Rua do Arvoredo” é um livro de publicação da Citadel Grupo Editorial pelo selo Lucens. Com 208 páginas, o livro já está disponível para compra na plataforma da Amazon.