As novas regras do Oscar e a chegada da “atriz virtual” Tilly Norwood reacendem o debate sobre o papel da Inteligência Artificial na criação audiovisual

Cada vez mais, a inteligência artificial está presente no nosso dia a dia — seja em assistentes de voz, aplicativos de transporte ou de localização. Agora, ela também começa a ocupar um espaço maior nas telas de cinema, forçando Hollywood (e o mundo) a repensar o que é arte, autoria e emoção. Mas afinal, o que de fato está mudando? Descubra no texto abaixo!

Luz, câmera e novas regras no Oscar

Em abril, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas — responsável pelo Oscar — anunciou novas diretrizes: filmes que utilizam Inteligência Artificial continuam elegíveis às premiações, desde que a autoria humana permaneça central. As novas regras já entram em vigor na próxima cerimônia.

Recentemente, novos debates surgiram após o aparecimento da primeira “atriz” de IA a ganhar projeção mundial: Tilly Norwood. A criação é fruto da startup britânica Future Faces e foi gerada inteiramente por algoritmos de machine learning. A personagem estrelou comerciais e chegou a ser cogitada para um longa independente, o que gerou protestos do sindicato de atores norte-americano (SAG-AFTRA).

“Criatividade é — e deve continuar sendo — centrada em seres humanos”, declarou o sindicato em nota.
Mesmo assim, o movimento segue crescendo. Plataformas como a Synthesia já permitem criar atores digitais com voz e expressões realistas, utilizados em campanhas publicitárias e curtas. Estúdios também começam a adotar ferramentas de IA para refinar diálogos, dublagens e efeitos visuais, reduzindo custos de produção.

Por outro lado, o CEO da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, Bill Kramer, já afirmou em comunicado que “um filme feito 100% por IA, sem direção ou roteiro humano, dificilmente seria reconhecido”.

Set do futuro e presente

Nos bastidores, a IA já está em ação há algum tempo. Filmes recentes, como The Brutalist, utilizaram ferramentas de IA para aprimorar sotaques e mixagem de voz. Softwares de geração de cenários também ajudam a economizar semanas de produção, enquanto roteiristas experimentam chatbots para simular diálogos e criar personagens.

Ferramentas como Respeecher foram empregadas em Emilia Pérez, e Audio Shake, outra tecnologia baseada em IA, foi usada para separar a voz de Maria Callas de gravações da década de 1960, com o objetivo de reproduzi-la em sua cinebiografia, Maria.

Mas nem tudo são flores digitais. A greve de roteiristas e atores de 2023-2024 evidenciou o medo de substituição e a falta de transparência sobre como dados — incluindo vozes, rostos e performances — são utilizados para treinar sistemas.

Especialistas em ética digital defendem regras claras: “A IA pode ser uma parceira criativa, mas precisa de limites legais. Caso contrário, o talento vira apenas um dataset”, alerta a pesquisadora Marina Costa, da Universidade de São Paulo (USP).

E o cenário brasileiro?

No Brasil, o uso da IA no audiovisual ainda está em fase inicial, mas já se faz presente. Produtoras independentes testam modelos generativos para criar storyboards e pré-visualizações, enquanto estúdios de dublagem estudam sintetizar vozes de atores para projetos longos. A Agência Nacional do Cinema (Ancine) ainda não possui normas específicas, mas acompanha o tema.

Enquanto isso, festivais brasileiros começam a exibir curtas parcialmente gerados por IA, abrindo espaço para novas linguagens e debates sobre autoria e criatividade. Entre os destaques estão o Rio Art Innovation Fair & Festival (RAIFF), realizado no Rio de Janeiro em setembro de 2025; o CloudWalk Festival de Curtas com IA, em São Paulo, promovido pela CloudWalk Studios com apoio do Google; e o World AI Film Festival (WAIFF), programado para fevereiro de 2026 na FAAP, em São Paulo.

Esses eventos refletem o crescente interesse e a experimentação com inteligência artificial no audiovisual brasileiro, promovendo discussões sobre os limites da tecnologia na arte.

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