Durante a madrugada do dia 23 para o 24 de julho, a plataforma online de jogos indie, conhecida como Itch.io, removeu de seu site todos os jogos adultos e NSFW de seu site.

Embora a remoção de um jogo ou outro seja comum em diversas plataformas, o que ocorreu com a Itch.io tem gerado muito discussão nas redes sociais, principalmente no exterior. Ademais, toda a confusão envolve não só a Itch.io, mas também empresas de operadoras de pagamentos, um jogo chamado “No Mercy” (Sem misericórdia) e uma ONG Australiana conhecida como Collective Shout (Coletivo Grito).

Créditos: Reprodução (Itch.io)

O QUE É A ITCH.IO?

Apesar de bem conhecida, principalmente do mundo dos jogos indie, muitos não ouviram falar do site. O Itch.io é um site focado, principalmente, no desenvolvimento e construção de comunidade de jogos, jogadores e desenvolvedores Indie. O site foi criado como um local para que aqueles que quisessem desenvolver os seus jogos, mas não tivessem como promovê-lo, usarem o site para isso.

Resumidamente, o site foi criado em 2013 e se tornou um lugar seguro para o crescimento de jogos indie. Claro, isso inclui jogos conhecidos como NSFW (Not Safe for Work) “Não seguro para Trabalho“, que são jogos que possuem conteúdos mais direcionados ao público adulto ou que possuam algum tema mais perturbador ou pesado. Da mesma forma, ele disponibiliza eventos de criação de jogos para a comunidade, conhecidos como Game Jams, o que também fez o site crescer.

Hoje, o Itch.io é uma das, se não, a maior comunidade de jogos indie do mundo, promovendo criação de novos jogos e atraindo novos jogadores. Entretanto, com a recente nova confusão em que eles acabaram entrando, isso pode colocar o futuro do site em risco. Por outro lado, pode sofrer e acabar se reestruturando como comunidade após algum tempo.

A COLLECTIVE SHOUT

a Collective Shout é uma ONG australiana sem fins lucrativos que trabalha contra a objetificação e sexualização da imagem da mulher e da criança na mídia, propaganda e na cultura popular.

Eles já se envolveram em diversas discussões com relação a vários tipo de indústria nos últimos anos. Principalmente contra a base de fãs mais “fervorosa” dessas indústrias. Eles foram os responsáveis, por exemplo, pela proibição de GTA V na Austrália em 2014. Bem como, mais recentemente, iniciou o movimento que fez a Steam e a Itch.io removerem diversos jogos de suas plataformas.

AS OPERADORAS DE PAGAMENTO

Agora, a peça que falta explicar é o papel das grandes operadoras de pagamento nisso tudo. O que tem gerado mais discussões e preocupações dentro desse contexto é o poder que essas operadoras, principalmente, mas não exclusivamente, a Visa e a Mastercard ganharam com isso e as possíveis e preocupantes repercussões.

Tudo começou quando a Collective Shout, entrou em contato com essas operadoras de pagamento, que fazem toda a gestão monetária de sites como Steam e Itch.io com uma carta aberta. Após isso, eles pediram para que essas operadoras fizessem o pedido de remoção de jogos que, de acordo com eles, tivessem conteúdo adulto e explícito e criaram algo como novas normas de termo de uso dessas operadoras.

Créditos: Reprodução (itch.io)

Dessa forma, a Steam acabou cedendo ao pedido dessas operadoras e retirou mais de 500 jogos adultos da plataforma. Lembrando que tudo teve início após denúncias sobre um jogo específico chamado de “No Mercy“, que já foi banido da Steam em diversos países.

De maneira idêntica, uma semana depois (na madrugada do dia 23/07 para o dia 24/07) A Itch.io também acabou sedendo aos mesmos pedidos. E por consequência, removendo, não só da plataforma, como também da biblioteca de quem havia adquirido, os jogos do site.

A EXPLOSÃO PÓS-ITCH.IO

Apesar de ter gerado certa discussão após a decisão da Steam, o assunto explodiu mesmo após a Itch.io ceder aos pedidos. Isso se dá, principalmente, pela maneira como eles o fizeram, já que removeram os jogos sem aviso prévio, e sem reembolsar ninguém que havia comprado os jogos.

Ao mesmo tempo, eles, durante a madrugada, lançaram uma nota, explicado toda a situação. Falando das Operadoras de pagamento e seus novos pedidos de termos de uso e o início da conversa deles a partir da Collective Shout. Com isso, diversos fãs e usuários da Itch.io se enraiveceram e choveram críticas a essas medidas nas redes sociais. Na maioria, por aqueles que não receberam reembolso pelos jogos retirados da sua biblioteca e pelos que se simpatizaram com eles. Assim como todos que acharam a ação uma “censura do jogos”.

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Após isso, toda a discussão sobre esses ocorridos na Steam e na Itch.io cresceu e, diversos vídeos e explicações na internet já surgiram. Muitas pessoas da comunidade gamer, por diversas razões e motivos, tem seus problemas com a Collective Shout. Apesar disso, parece haver uma união em dizer que os principais “vilões” dessa história são, de fato, as operadoras de pagamento.

A maior preocupação dos jogadores é que essas operadoras passem a ter controle do que possa ou não ser vendido nessas plataformas, e a censura que isso passaria a gerar devido ao monopólio dessas empresas.

Muitos jogadores têm certeza de que essa censura não pararia apenas nos jogos NSFW ou de conteúdo adulto. Mas que, colocando esse poder nas mãos das operadoras, seria questão de tempo até mais censuras e remoções ocorrerem, conforme a vontade dessas instituições.

REPERCUSSÕES ATÉ O MOMENTO

A Steam parece não ter gerado muito barulho, provavelmente pelo tamanho que a plataforma possui. Mas pode-se inferir que os jogos removidos da Steam, talvez não fossem muito bem vistos/jogados pela maioria esmagadora dos usuários, que talvez já não concordassem com os conteúdos de tais jogos. Mas é difícil dizer ao certo.

Por outro lado, a Itch.io se colocou no meio de um furacão. Removendo os jogos sem aviso, e não devolvendo o dinheiro para quem os possuia, diversos fãs ficaram bravos com a situação. Além disso, a resposta da plataforma, envolvendo a Visa, a Mastercard e a Collective Shout, só colocou ainda mais combustível nessa fogueira.

Outra grande preocupação, é o poder que essas operadoras receberam com esses feitos. Nenhum fã de jogos demonstrou ser a favor de empresas julgarem o que pode ou não ter nos jogos de cada plataforma. Mesmo que o pedido tenho vindo da Collective Shout, a facilidade das operadoras de realizarem estas decisões, quase arbitrariamente, é bem preocupante.

Itch.io e Steam e novas normas da Visa e Mastercard / Créditos: Reprodução

O MEDO DA CENSURA

Os jogadores sentem esse medo, principalmente pelo fato que de a Collective Shout já demonstrou interesse em querer derrubar jogos, como Detroit: Become Human. Alegando que o jogo mostra e influência abuso infantil e violência contra a mulher. O que a maioria esmagadora dos jogadores tende a discordar.

Outro fator também é, que o perfil de uma das fundadoras da Collective Shout, de certa forma “defende” o filme “Cuties” da Netflix, que sofreu muitas críticas por ser um filme onde há a “sexualização de crianças”. O perfil disse que o filme, apesar de mostrar isso, o mostra de maneira a criticar tal ato, não o apoiando. O que vai ao contrário do mesmo perfil, que também criticou o filme no ano do lançamento.

Se esse é o caso, muitos usuários e jogadores se perguntam, então o porquê querem ir atrás de Detroit: Become Human, se o jogo também critica o que a Collective Shout diz propagar? É com essa preocupação e o poder de decisão em mãos que preocupa muitos sobre o possível uso da censura. Não só para jogos adultos, mas para qualquer jogo, ou mídia, que quiserem ou, no caso, decidirem que não querem.

O OUTRO LADO DA BRIGA

Como qualquer outra briga na internet, há também os jogadores que, ao invés de criticar, por exemplo, a Collective Shout, pelas suas ações, atacam diretamente as pessoas envolvidas. Indo diretamente nos perfis pessoais das líderes da ONG e as ameaçando com ofensas horríveis. Ofensas que, muitas vezes, referen-se aos conteúdos presentes nos jogos que foram pedidos a remoção. De certa forma, apenas fortalecendo o lado da “censura”.

Como o assunto acabou explodindo, e “censura” sempre acaba se tornando pauta na indústria, muitos começam a ir atrás de informações legais sobre censura, monopólio ou abuso de autoridade, como tem feito vários jogadores e usuários de Itch.io e Steam nessa última semana.

Quem cuida desses assuntos, legalmente, provavelmente não consome jogos ou sequer entende da indústria. Portanto, xingar e atacar quem você acha estar errado não ajudaria em nada, caso a situação escalasse para âmbitos legais. Pelo contrário, só pioraria a situação para, nesse caso, jogadores e usuários dessas plataformas. Dando razão, para os representantes legais. às operadoras de pagamento.

JAPÃO RESPONDE

Debates sobre a censura, não só nos jogos, mas também em diversas mídias, não é algo novo, mas com os últimos acontecimentos do mundo, é um debate que vem se aflorando cada vez mais.

O que pode levar essa discussão para frente, pode ser o fato de que a Collective Shout, recentemente, tentou censurar, de maneira geral os animes, mangás e jogos baseados neles na Austrália. A Comissão Japonesa de Comércio Justo (JFTC) respondeu aos pedidos das operadoras, dizendo que iria sancionar essas mesmas empresas, principalmente a Visa. Entretanto a Visa apresentou novos planos e as sanções nem foram aplicadas.

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Com isso um dos políticos locais (Zenko Kurishita) acabou conhecendo mais sobre a Collective Shout, se posicionando contra a censura na indústria do entreterimento de dizendo que iria começar a ir atrás de mais informações sobre. O que pode vir a gerar ainda mais conflitos nesse sentido.

IMPRESSÕES FINAIS

O assunto estourou após o ocorrido com a Itch.io na última madrugada, então ainda é muito cedo para tirar mais conclusões. Mas a preocupação dos jogadores com a censura é o principal tema das dessas conversas na internet.

Os jogadores também tentaram conversar sobre a Itch.io arranjar novos ou reformular suas fontes de pagamento. Para que eles, dessa forma, não ficassem a mercê da Visa e da Mastercard. Além disso, houve conversas sobre apoiar um projeto de lei, nos EUA, que prevê a proibição de bancos e das operadoras de pagamento de excederem sua autoridade e regular os “locais” onde atuam. Nesse caso, eles perderiam o poder de exigir essas mudanças de termos de uso do usuário e de “censurar” as plataformas.

O medo em relação a isso cresceu ainda mais após a Itch.io lançar uma nota sobre como “burlar”, de certa fora, o sistema de pagamentos e “lutar” contra as operadoras de pagamento. Mas o post foi apagado algumas horas depois, provavelmente por pressão dessas empresas.

Por fim, é esperar para ver como a comunidade gamer, o itch.io, as operadoras e a Collective Shout irão prosseguir. Para quem quiser ler a declaração da Itch.io sobre a remoção de conteúdo, ela está disponível no site oficial deles.