Livro “Exu-Mulher e o matriarcado nagô” será tema da Escola de Samba Pérola Negra. Com esse enredo inédito, o livro vencedor do Jabuti Acadêmico 2024, mergulha no papel do matriarcado nas religiões afro-brasileiras e na representatividade feminina de Exu.

Assim, a obra escrita por Claudia Alexandre servirá como base para o desfile, que acontece no dia 22 de fevereiro, às 23h30, pelo Grupo de Acesso 2, no Sambódromo do Anhembi.

A escola de samba possui conta ativa no instagram, onde informou sobre o tema. Confira:

Sobre a obra

Claudia Alexandre traz um debate inédito para o estudo das tradições e religiosidades afro-brasileiras sobre o controverso orixá Exu. Assim, a obra é baseada na premiada tese de doutorado da autora – eleita Melhor Tese do Ano pelo Programa de Ciência da Religião da PUC-SP.

Na Iorubalândia, alguns grupos realizam rituais específicos nos quais figuras de Exu – masculina e feminina – evidenciam as diferenças anatômicas do par. Enquanto ele tem falo desproporcional, apito e gorro, ela tem seios e vulva demarcados e à mostra. Logo, as imagens possuem penteados alongados, uma marca da identidade do orixá.

Nesse sentido, em certos lugares, Exu é cultuado exclusivamente por mulheres e está associado à fertilidade, à fecundidade e à maternidade. Na cosmogonia iorubá, Olodumarê constituíra Exu com os dois princípios. Na formação dos candomblés de tradição iorubá-nagô, o racismo religioso ganha centralidade a partir da figura de Exu. Além disso, reivindica seu lado feminino, algo pouco explorado na literatura.

Exu sofreu duas grandes transformações na travessia atlântica: foi masculinizado e demonizado. Na África Ocidental, suas representações ambíguas são amplamente conhecidas, diferentemente da forma como chegou aos terreiros brasileiros.

Por fim, chama atenção o fato de que a figura feminina de Exu, além de não ter sido introduzida nas representações do orixá no Brasil, é desconhecida em algumas casas e assunto silenciado nos terreiros mais tradicionais.