O texto contém spoiler!

Enquanto o fenômeno Round 6 continua a agregar números incríveis de telespectadores na Netflix, a plataforma lançou mais uma minissérie que, com um tom totalmente diferente, também explora a desigualdade social através daqueles que parecem condenados a viver oprimidos pelo sistema. Maid estreou no dia 1° de outubro e, desde então, tem figurado na lista das produções mais vistas pelos brasileiros. A série mostra a luta pela sobrevivência de uma jovem mãe para escapar da espiral da pobreza, um retrato profundamente comovente em meio à sua miséria. 

Segundo a sinopse oficial, a série acompanha Alex que “depois de deixar para trás um relacionamento abusivo e encontrar um emprego como faxineira, uma mulher luta para sustentar a filha e construir um futuro melhor”.

Foto: Divulgação/Netflix

Dinâmica Social

O que torna esta minissérie mais especial é que ela é baseada em uma história verdadeira (comovente). A escritora Stephanie Land publicou há alguns anos Empregada doméstica: trabalho árduo, baixo salário e vontade de sobreviver da mãe, que se tornou um dos livros mais vendidos nos Estados Unidos, listado como um best-seller pelo New York Times. No livro, ela contou como tinha sido sua vida, ganhando US $9 por hora limpando casas, enquanto tentava cuidar de sua filha recém-nascida. O livro é duro, muito mais duro do que a série, e não faz concessões. A mensagem meritocrática que se instalou na sociedade de “se você luta, você consegue” nem sempre é cumprida e promove constantemente a exclusão de setores da sociedade. Muitas vezes a recompensa não vem. 

Para encontrar um teto, Alex vai depender de benefícios sociais, que estão emaranhados por uma burocracia labiríntica. Nesse estado permanente de burocracia, e com o pouco dinheiro que ganhará com o trabalho de faxineira, é possível ver o que significa conviver com o medo de um imprevisto e apenas com o suficiente para sobreviver. Isso quando há sorte. 

É uma série com um objetivo claro: uma crítica sobre o sistema, que oferece redes de resgate a pessoas vulneráveis, mas muitas vezes, são inúteis ou pouco efetivas para os casos específicos que têm de enfrentar.

Foto: Divulgação/Netflix

Desenvolvimento dos personagens

Margaret Qualley, indicada ao Emmy por Fosse/Verdon, constrói uma das atuações dramáticas mais emocionantes do ano, que merece o reconhecimento dos prêmios em 2022, porque nos cativa desde sua primeira cena e carrega nos ombros o peso da narrativa com a mesma naturalidade com que Alex, sua personagem, carrega a Maddy (Rylea Nevaeh Whittet) no colo durante passeios.

Os personagens são bem escritos e se desenvolvem gradativamente ao longo dos 10 episódios.  O roteiro não se apressa em sua evolução, mas usa o tempo disponível de maneira útil. Por isso, tanto os supostos antagonistas, como a mãe Paula (Andie MacDowell), Sean (Nick Robinson) ou os personagens secundários, não têm personalidades muito marcantes que os classifiquem desde o início, mas passamos a amá-los, compreendê-los, odiá-los ou até mesmo sentir pena deles.

Maid não seria possível sem as interpretações de Andie MacDowell e Nick Robinson, ambos conseguem mostrar a fragilidade de seus personagens e detalham cada pequena parte de sua personalidade. Principalmente, Andie MacDowell, que apesar da excentricidade de Paula, consegue gerar empatia no espectador e nos faz entendê-la em todos os seus aspectos.

Luz e Sombra

A protagonista nasceu em uma casa que tinha uma mãe com uma doença mental não diagnosticada e um pai alcoólatra e abusivo. Um ciclo de traumas intergeracionais que também marca, duas décadas depois, o relacionamento de Alex com o pai de sua filha. Essa filha é o motor que mantém Alex viva e quando estão juntas, o amor incondicional, a ternura e a luz iluminam a tela. Um raio de esperança não deixa de estar presente em Maid, a série termina, mas sem dúvidas, um novo ciclo se inicia para Alex e Maddy.

Foto: Divulgação/Netflix

Matéria editada em 17/10/2023, às 21h56min