De Mocotó à Vagabanda, relembre as fases que definiram gerações, consolidaram personagens icônicos e transformaram Malhação em um fenômeno da TV brasileira

Por quase três décadas, Malhação funcionou como um radar do comportamento jovem no Brasil. A novela atravessou modas, crises, mudanças sociais e transformações culturais, sempre tentando dialogar com o público adolescente. Algumas temporadas, no entanto, ultrapassaram o entretenimento e viraram referência, seja pela criação de personagens marcantes, por tramas que refletiam o espírito da época ou pela união de elenco, música e narrativa de forma única.

Entre tantas fases, algumas se destacam por terem criado um impacto geracional que seguiu vivo mesmo anos depois. É o caso das temporadas que apresentaram nomes como André Marques, Sérgio Hondjakoff e Marjorie Estiano, responsáveis por alguns dos personagens mais lembrados de toda a história da novela. Essas temporadas também revelaram tendências, consolidaram formatos e influenciaram como a televisão retratava o universo adolescente.

A lista abaixo reúne as seis melhores temporadas de Malhação, analisando o que cada uma trouxe de especial, por que marcou época e quais foram os momentos que se tornaram parte da cultura pop brasileira.

A era de Mocotó e o início de um fenômeno – 1996–1997

André Marques em Malhação
Juliana Baroni e André Marques | Crédito: TV Globo/Divulgação

A segunda temporada de Malhação consolidou o formato iniciado em 1995 e apresentou ao público um dos personagens mais emblemáticos da novela: Mocotó, interpretado por André Marques. Ele não era protagonista, mas virou rapidamente o rosto da nova geração da série. Com humor, carisma e um comportamento que espelhava o adolescente dos anos 90, o personagem se transformou no centro das atenções e em um dos primeiros grandes ícones da TV jovem no país.

Além de Mocotó, essa fase ajudou a construir a identidade estética e narrativa de Malhação. O cenário, a dinâmica de grupos e a mistura entre humor e conflitos reais estabeleceram o tom do que viria a ser repetido por anos. Foi também um período de maior integração entre histórias paralelas, criando um ambiente onde romance, competição e amizade se misturavam com leveza.

Momentos marcantes incluem a rivalidade entre os alunos da academia, os triângulos amorosos que movimentavam a trama e o próprio desenvolvimento do Mocotó, que começava como figura cômica, mas ganhava camadas à medida que crescia. Essa temporada representa o momento em que Malhação deixou de ser uma aposta e se tornou um dos programas mais populares da Globo.

A consolidação do formato jovem e das tramas escolares – 1998–1999

Rodrigo Faro, Cássia Linhares e Márcio Garcia
Rodrigo Faro, Cássia Linhares e Márcio Garcia | Crédito: TV Globo/Reprodução

Esse período foi decisivo para estruturar o que se tornou o “modelo clássico” de Malhação. Depois de ajustes nos primeiros anos, a temporada de 1998–1999 consolidou o foco no ambiente escolar como cenário principal, destacando o dia a dia dos estudantes, seus romances, suas rivalidades esportivas e seus conflitos familiares.

Essa fase apresentou tramas mais densas, explorando temas como pressão por desempenho, bullying, diferenças econômicas e expectativas profissionais. Embora ainda tivesse leveza, a novela começava a refletir melhor a vida real dos adolescentes, o que fortaleceu a identificação com o público.

Momentos marcantes incluem disputas esportivas intensas, mudanças na equipe de professores, brigas por popularidade e romances que movimentaram a temporada inteira. Esse conjunto de elementos ajudou a colocar Malhação como um retrato da vida escolar brasileira, ganhando relevância e audiência.

A ascensão de Cabeção e o auge do humor adolescente – 2002-2003

Sérgio Hondjakoff em Malhação
Cauã Reymond e Sérgio Hondjakoff | Crédito: TV Globo/Divulgação

A temporada de 1999–2000 introduziu Cabeção, vivido por Sérgio Hondjakoff, que rapidamente se tornou outro fenômeno da novela. Com humor ingênuo e um comportamento atrapalhado, o personagem conquistou o público e marcou profundamente o imaginário da época. Cabeção se tornou tão popular que permaneceu por anos no elenco, algo raro em Malhação, que sempre funcionou com elencos rotativos.

Essa fase apostou mais fortemente no humor e no carisma dos personagens masculinos, criando um clima leve e divertido que contrastava com temporadas mais dramáticas. Cabeção virou símbolo dessa abordagem mais descontraída, mas a temporada também trouxe histórias sobre amadurecimento, escolhas profissionais e primeiras decepções amorosas.

Momentos marcantes incluem o envolvimento do personagem em situações absurdas, como ser enganado por falsas oportunidades, fracassar em planos mirabolantes ou se apaixonar por personagens que não davam bola para ele. Esse conjunto de situações transformou Cabeção em um dos personagens mais queridos de todas as fases da novela.

Marjorie Estiano, a Vagabanda e a reinvenção de Malhação – 2003-2004

Temporadas marcantes de Malhação
Vagabanda | Crédito: Globoplay/Reprodução

A temporada de 2003–2004 é considerada por muitos fãs como a mais icônica da era moderna de Malhação. O motivo tem nome e sobrenome: Marjorie Estiano, que interpretou Natasha, vocalista da banda fictícia Vagabanda. Essa fase trouxe uma estética nova, mais rock, mais escolar e mais conectada com a juventude da época, marcando uma virada na linguagem da novela.

A Vagabanda se tornou um fenômeno cultural, com músicas cantadas pelo público, figurinos replicados pelos fãs e cenas que viralizaram muito antes das redes sociais. Natasha ganhou popularidade não apenas pela atitude forte, mas também por abordar temas como ambição, relações tóxicas e conflitos familiares, tudo isso enquanto mostrava talento musical real, já que Marjorie cantava de verdade.

Entre os momentos marcantes, os destaques incluem os shows da Vagabanda, os conflitos com o casal protagonista, Juliana Didone e Guilherme Berenguer, e as reviravoltas envolvendo a escola. A temporada também apresentou atores que se tornariam grandes nomes da TV, o que reforça sua relevância. Até hoje, ela é uma das mais lembradas nas redes sociais e considerada um divisor de águas na história da novela

Angelina, Bruno e Débora: conflitos que dominaram a audiência – 2007–2009

Malhação 2007
Nathalia Dill, Caio Castro e Sophie Charlotte | Crédito: TV Globo/Reprodução

A temporada de 2007–2009 marcou o retorno do drama como força central de Malhação. Com personagens como Angelina, Bruno e Débora, a trama explorou desigualdade social, maternidade na adolescência, rivalidades intensas e a busca por oportunidades em um ambiente escolar competitivo e cheio de preconceitos.

Angelina, interpretada por Sophie Charlotte, se destacou por enfrentar obstáculos que refletiam a realidade de muitos jovens brasileiros, como dificuldades financeiras e julgamentos constantes. Seu relacionamento com Bruno (Caio Castro) se tornou um dos pontos altos da temporada, alternando momentos de apoio e tensão.

Débora (Nathalia Dill), por outro lado, assumia o papel de antagonista clássica, representando os privilégios e o olhar elitista dentro da escola. Essa dinâmica tripla foi um dos motores da narrativa e gerou discussões intensas entre os fãs. Entre os momentos marcantes da temporada estão o concurso musical, a descoberta da gravidez e a rivalidade crescente entre as personagens.

Malhação ID e o novo formato para a era digital – 2009–2010

Malhação 2009
A temporada contou com Fiuk no papel do protagonista | Crédito: TV Globo/Divulgação

Com a temporada Malhação ID, a novela tentou se reinventar para um público que já consumia a internet de forma intensa. A trama trouxe uma pegada mais tecnológica, com redes sociais, blogs, música online e cultura jovem digital entrando no centro da narrativa. Foi uma mudança importante, já que a linguagem precisou acompanhar a transformação do comportamento adolescente.

O conceito de identidade (daí o “ID”) guiava os personagens, que buscavam entender quem eram, com quem queriam se relacionar e que tipo de futuro desejavam construir. Questões sobre carreira, criatividade, pertencimento e experimentação estavam presentes em quase todos os arcos narrativos.

Entre os momentos marcantes, estão os conflitos envolvendo fake news dentro da escola, batalhas musicais, decisões de carreira e dilemas sobre exposição online. Embora polêmica na época, essa temporada ganhou nova valorização com o passar dos anos, justamente por antecipar discussões que se tornaram centrais na vida dos jovens.

Imagem de capa: TV Globo/Reprodução