A atriz faz sua estreia na direção com um documentário íntimo e comovente sobre Jayne Mansfield, sua mãe, desvendando segredos familiares e traumas silenciados


Quando Mariska Hargitay decidiu dirigir seu primeiro documentário, ela escolheu um tema que há muito evitava: a própria mãe.

Em My Mom Jayne, disponível na Max, a atriz conhecida por interpretar Olivia Benson em Law & Order: Unidade de Vítimas Especiais revisita a vida e o legado de Jayne Mansfield, estrela de Hollywood que morreu tragicamente em um acidente de carro quando Mariska tinha apenas três anos.

O documentário sobre Jayne Mansfield não busca glamourizar a história, mas sim humanizar a figura que foi reduzida a um sex symbol nas décadas de 1950 e 1960.

“Durante muitos anos, eu evitei pensar na minha mãe. Só agora percebo o quanto precisava conhecê-la, não a estrela, mas a mulher”, diz Mariska logo no início do documentário.

Jayne Mansfield
Jayne Mansfield diante das câmeras: símbolo de glamour e estereótipos | Foto: Reprodução/IMDB

Mariska Hargitay encara o passado e reconstrói a história de Jayne Mansfield

Essa busca não é solitária. Ao lado dos três irmãos mais velhos, a atriz conduz conversas íntimas e dolorosas, tecendo uma narrativa que mescla memória, trauma, identidade e reconciliação.

Por ser a mais nova, Mariska quase não tem lembranças da mãe. Já os irmãos mais velhos carregam recordações fortes e emocionantes, algumas inéditas até para ela.

Um dos momentos mais marcantes é a reconstituição do acidente que matou Mansfield e duas outras pessoas. Mariska, que estava no banco de trás do carro, ficou presa sob o assento. Foi resgatada apenas porque seu irmão acordou a caminho do hospital e perguntou por ela.

A atriz revisita o trauma com maturidade e ternura. “A ausência e a sombra de minha mãe moldaram minha relação com as memórias que tenho dela”.

Mariska e Mickey Hargitay
Mariska e seu pai, Mickey Hargitay | Foto: Reprodução/IMDB

O lado oculto de Jayne Mansfield revelado por Mariska Hargitay

My Mom Jayne também expõe o conflito entre a Jayne Mansfield pública e a pessoa real. O empresário da atriz, revela que Mansfield “copiava Marilyn Monroe” a pedido dos estúdios. Era uma exigência comercial.

Jayne falava cinco idiomas, tinha um QI alto e tocava piano e violino. Mas, para os olhos do público, cultivava a imagem de uma “loira burra”.

Um dos filhos de Jayne, disse que quando ela quis se desvincular desse estereótipo, começou a perder papéis. Além disso, ele confessou que ficava incomodado com a atuação da mãe. “Sempre que ouvia aquela voz, eu fingia que não era ela”.

Ao fugir da estrutura tradicional dos documentários biográficos, Mariska aposta na escuta familiar. É um filme conduzido por afetos e lacunas.

Mais do que explicar quem foi Jayne Mansfield, My Mom Jayne procura entender como sua imagem influenciou os filhos, e especialmente a filha Mariska, que ficou com mais perguntas do que respostas. A ausência virou identidade. A busca, reconexão.

Mariska Hargitay reconstrói Jayne Mansfield em documentário emocionante
Mariska e seu pai biológico, Nelson Sardelli | Foto: Reprodução/IMDB

A Jornada de Mariska para reescrever sua história familiar

O filme também revela uma das passagens mais íntimas da trajetória da atriz: Mickey Hargitay (1926–2006), o fisiculturista que a criou com dedicação e a quem ela se refere com carinho como “meu campeão”, não era seu pai biológico.

A descoberta veio durante a faculdade, após ouvir rumores persistentes sobre sua origem. Movida pelo desejo de compreender sua história, Mariska investigou e chegou à verdade: seu pai biológico é o cantor brasileiro Nelson Sardelli. Anos depois, ela decidiu procurá-lo e teve a iniciativa de conhecer Sardelli e suas filhas.

Apesar da complexidade emocional envolvida, a relação entre Mickey e Sardelli foi marcada por respeito mútuo. Sardelli reconheceu o papel de Mickey na criação de Mariska e, com discrição, nunca tentou ocupar o espaço de pai, preservando assim os vínculos afetivos já estabelecidos.

Nascido no Brasil, Nelson Sardelli construiu sua carreira como cantor e comediante no efervescente circuito de shows de Las Vegas, durante os anos 1960.

Ao longo da vida, manteve relacionamentos com celebridades hollywoodianas, mas preferiu se manter longe dos holofotes. Agora, décadas depois, seu nome retorna ao centro das atenções como peça-chave na reconstrução da identidade de Mariska Hargitay.

O desfecho do documentário sobre Jayne Mansfield é especialmente comovente. Após rever fotos, vídeos, objetos e escutar as vozes que cercavam Jayne, Mariska parece, enfim, encontrar paz. Em um gesto simbólico, ela encerra o filme dizendo:

“Eu te amo. Eu sinto sua falta”

Mais do que um retrato da mãe, My Mom Jayne é uma carta aberta sobre identidade, perda, legado e reconciliação. É também o testemunho sensível de uma filha que passou a vida tentando lembrar, e, no fim, conseguiu conhecer.

Imagem de capa: Reprodução/IMDB