Horror cósmico, delírio religioso e o fim do mundo visto de dentro

A literatura de horror brasileira ganha um novo e perturbador capítulo com O Apocalipse Amarelo 2: Os Imundos de Shub-Niggurath, segundo volume da série criada por Diego Aguiar Vieira. Surpreendentemente, após o impacto de Uma Torre para Cthulhu, vencedor do Prêmio Aberst Rubens Lucchetti de Melhor Narrativa Longa de Terror, o autor retorna em 2025 expandindo e radicalizando o universo que apresentou no ano anterior.

Se no primeiro livro o colapso do mundo era percebido pelas margens, agora o leitor é jogado diretamente no centro do caos. A narrativa acompanha personagens que tentam sobreviver a uma realidade esfacelada. Dentre eles temos Rafa que ainda atravessada pelo luto; Ícaro, lutando para manter a sanidade; Lúcia, criada dentro de um culto religioso; Malaquias, tentando proteger o que restou; e Juca, que insiste na lógica quando a própria realidade parece rejeitá-la. Sobre todos eles paira a figura inquietante de Kamog, “o sem pele”, criado, segundo o autor, para “radicalizar a própria perspectiva do leitor”.

De acordo com Vieira, o ponto de partida deste segundo volume foi justamente romper com o anterior.

Os Imundos de Shub-Niggurath não poderia ficar preso aos elementos de Uma Torre para Cthulhu. Eu queria ampliar o universo, sobretudo no escopo da religião: como as grandes crenças reagiriam ao descobrir que tudo que pregavam era mentira?”, afirma.

O Apocalipse Amarelo 2 Os Imundos de Shub-Niggurath
Crédito: AVEC Editora

Shub-Niggurath

A presença de Shub-Niggurath, entidade central do mythos lovecraftiano, ganha aqui uma leitura própria: não uma nuvem distante, mas uma força rizomática, que se espalha pelas ruínas do mundo levando caos, loucura e uma nova forma de consciência. O apocalipse, neste livro, é visceral. “Ele se sente na carne, nos ossos, no sangue que escorre das palavras”, define o autor.

Dessa forma, a escrita mistura horror cósmico, brutalismo literário e psicogeografia, área de estudo de Vieira. As influências passam de William Burroughs a Alan Moore, de Jorge Luis Borges a David Foster Wallace. Além disso, a paranoia estrutural de Thomas Pynchon, é citada como referência-chave. “Nem tudo tem explicação. O caos e a entropia se impõem de forma avassaladora”, comenta.

Crédito da capa: AVEC Editora