Hoje é o Dia do Vendedor de Livros, uma data que nos leva a refletir sobre o mercado editorial no Brasil. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, houve uma queda de quase sete milhões de leitores no país. O estudo aponta que, considerando apenas livros inteiros lidos nos três meses anteriores à pesquisa, apenas 27% dos brasileiros se identificam como leitores.

Esses números são alarmantes, especialmente em um cenário onde a tecnologia tornou a literatura mais acessível. São inúmeras as contas nas redes sociais que promovem livros e autores. As Bienais do Livro do Rio de Janeiro e de São Paulo seguem lotadas e cada vez mais adaptações literárias conquistam espaço na televisão e no cinema. Mesmo assim, os índices de leitura continuam caindo. O que está acontecendo?

O Mercado editorial brasileiro

De acordo com Carina, fundadora da Editora Galuba, três grandes desafios afetam diretamente quem vende livros no Brasil: distribuição, preço e pirataria. Ela explica que a distribuição é um dos principais entraves, pois levar o livro até o leitor não é uma tarefa simples. Mesmo no ambiente digital, a concentração do mercado na Amazon limita as opções de distribuição para as editoras menores.

A questão do preço também é um fator crítico. O custo de produção de um livro físico é alto, e pequenas editoras, que trabalham com baixas tiragens, não têm margem para negociar com gráficas. O valor de capa dos livros impacta diretamente a decisão de compra dos leitores. Para contornar essa questão, a Editora Galuba mantém seus livros digitais com preços acessíveis, sempre abaixo de R$15,00, e oferece títulos pelo Kindle Unlimited.

Mesmo com essa estratégia, a pirataria continua sendo um grande problema para o setor. Segundo Carina, é exaustivo lidar com pedidos e compartilhamentos ilegais de PDFs nas redes sociais da editora, e não há uma forma precisa de mensurar o impacto financeiro causado pela pirataria de livros. Como grande parte da receita da editora vem da venda de e-books, a disseminação ilegal desses conteúdos representa uma ameaça real à continuidade do trabalho da empresa.

A venda de livros no Brasil

Quando questionada sobre a dificuldade de vender livros no Brasil, Carina afirma que sempre foi um desafio. Ainda assim, hoje a margem de lucro dos livros é tão pequena que limita as possibilidades de marketing. Se o preço de capa for aumentado para compensar essa margem, o leitor deixa de comprar. Para quem está começando agora no mercado editorial, ela alerta que não é um caminho fácil e viver exclusivamente de uma editora é bastante difícil. A tarefa se torna ainda mais complicada sem uma base consolidada de leitores ou uma plataforma de divulgação.

Para Carina, é essencial que novos editores vejam a publicação e a venda de livros como apenas uma parte do faturamento e analisem outras formas de monetização para manter a empresa financeiramente viável. Ela reforça que mercado editorial não tem muito dinheiro circulando e o tempo de retorno do investimento costuma ser alto. Por isso, antes de investir em uma nova editora, é essencial estudar o mercado, acompanhar as tendências e encontrar formas de se diferenciar.

Impressões sobre a literatura

O mercado editorial brasileiro enfrenta desafios que vão além da queda no número de leitores. O acesso à literatura ainda não é totalmente democrático, e o preço dos livros físicos pode ser um obstáculo para muitos. Embora os formatos digitais ofereçam uma alternativa mais acessível, a conectividade ainda é uma barreira para parte da população. Tal fato mantém a leitura distante de muitas pessoas.

A literatura sempre desempenhou um papel fundamental na disseminação do conhecimento. O hábito da leitura contribui para o desenvolvimento da escrita e da comunicação, ferramentas essenciais para o convívio em sociedade. Com os avanços tecnológicos e a crescente digitalização do entretenimento, surgem questionamentos acerca do espaço dos livros no cotidiano e de como a sociedade se comportará em um mundo com cada vez menos leitores.

Por fim, esse fato nos leva a questionar: as pessoas estão lendo menos porque a tecnologia reduziu o espaço da literatura ou porque a rotina exaustiva da vida moderna, marcada por longas jornadas de trabalho e pouco tempo livre, não permite que grande parte da população possa se dedicar à leitura?