O Halloween é mais do que uma festa: é um espelho sombrio onde a humanidade se olha, ri do próprio medo e descobre prazer em ser mortal
Todo ano, quando outubro chega, algo muda no ar. As vitrines ficam laranjas, as pessoas começam a planejar fantasias, e até quem jura que “não liga pra isso” acaba comprando uma abóbora ou uma caveirinha de plástico. Mas o que faz o Halloween ser tão irresistível, mesmo num país tropical onde o calor não combina em nada com lençóis de fantasmas e chapéus de bruxa?
Então, a resposta, caro leitor assombrado, é simples. O Halloween é o grande ritual coletivo onde o medo deixa de ser opressor e vira celebração. E a gente ama sentir medo de mentirinha, é lógico.
O prazer do medo: por que gostamos de nos assustar

O questionamento sobre o porquê buscamos o medo é feito há séculos. O medo é uma emoção que, em tese, serve para nos proteger. Segundo estudos recentes, a resposta para isso está na forma como o cérebro lida com a incerteza. O medo controlado, que é aquele que sentimos ao ver um filme de terror ou entrar numa casa assombrada, ativa o mesmo sistema de alerta que nos mantém vivos, mas dentro de um ambiente seguro.
O pesquisador Mark Miller chama isso de “paradoxo do horror”. Nós somos programados a evitar o perigo, mas também sentimos prazer em simulá-lo. Já o psicólogo Coltan Scrivner, da Universidade Estadual do Arizona, identificou três tipos de fãs do terror: os viciados em adrenalina, que buscam a emoção física; os que curtem superar o medo, sentindo-se vitoriosos depois do susto; e os “copers sombrios“, que usam o terror como ferramenta para enfrentar a ansiedade da vida real.
Essas simulações do medo funcionam como um “treino emocional”. O cérebro, ao prever e controlar ameaças fictícias, aprimora sua capacidade de lidar com as reais. Dessa forma, ele reduz o estresse e aumenta a resiliência.
Em resumo, o terror é um laboratório psicológico. Ele acelera o coração, mas termina com uma vitória simbólica, trazendo o lembrete de que, mesmo diante do medo, seguimos no controle.
O Halloween e a liberdade de ser quem — ou o que — quisermos

Na vida cotidiana, controlamos gestos, emoções e até a forma como nos mostramos. No Halloween, esse autocontrole dá lugar à libertação. Por uma noite, o tímido pode virar um zumbi, o gestor de RH pode se transformar em um assassino em série e o estudante exausto encarna o verdadeiro “trabalhador morto-vivo”. E para os que não gostam dos monstros, podem se fantasiar de princesas, heróis ou até mesmo personalidades da ciência.
Mais do que uma festa, o Halloween é um ato performático de autodescoberta. É, no fundo, um carnaval macabro, uma explosão de liberdade com purpurina e sangue falso. E, ironicamente, é nesse flerte com a morte que muita gente se sente mais viva.
Nostalgia gótica, cultura pop e pertencimento
A celebração também desperta uma nostalgia doce e sombria. É o retorno às tardes vendo Abracadabra, O Estranho Mundo de Jack e outros clássicos que moldaram a imaginação de toda uma geração. Cada abóbora iluminada acende memórias de um medo inocente, aquele que fazia a gente se esconder debaixo do cobertor, mas com um sorriso no rosto. Alguns ainda hoje, quando apagam as luzes da casa, saem correndo para o quarto, com medo “do capeta” te pegar no caminho.
O Halloween é, em parte, uma homenagem ao terror da cultura pop. Personagens como Michael Myers, Freddy Krueger, Ghostface, Pennywise e Art, o Palhaço e Norman Bates voltam ao centro das atenções. São os nossos vilões de estimação. São os monstros que aprendemos a amar.

Além disso, há algo profundamente humano na maneira como o Halloween conecta pessoas. Crianças, adultos, artistas e fãs do terror se unem em torno de uma linguagem universal que é o medo divertido. Nos Estados Unidos, as ruas se enchem de luzes, doces e fantasias. No Brasil, o clima tropical transforma o terror em festa onde escolas, baladas e empresas entram na brincadeira, adaptando o medo ao jeitinho brasileiro. Tudo com muita cor, humor e um toque de irreverência.
Na internet, a festa é ainda maior: criadores de conteúdos e comunidades celebram juntos o estranho, o grotesco e o imaginativo. É o momento em que o “diferente” não é motivo de exclusão, mas de celebração. O Halloween une as pessoas, deixam elas mais livres, e isso é muito bom!
A festa que fala sobre a vida
Por baixo das fantasias e do sangue falso, o Halloween carrega uma verdade profunda que é sobre aceitar o medo e a morte. Paradoxalmente, é também um ato de celebração da vida. Afinal, o Halloween não é sobre morrer de medo, mas sim sobre rir dele. É sobre celebrar o estranho, o bizarro e o diferente. É o momento em que todos nós, de um jeito ou de outro, podemos ser monstros sem culpa.
E talvez seja exatamente por isso que o Halloween é tão amado. Porque, por uma noite, ele nos liberta das máscaras do dia a dia para que possamos usar as máscaras que realmente queremos. Até porque, a sociedade já nos impõe tantas máscaras, que às vezes nem sabemos mais quem somos…
Feliz Halloween, curtam seus amigos, se divirtam, e acima de tudo, celebrem a vida!
Foto de capa: ABC / Reprodução
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