Com novos desafios e efeitos mais robustos, “Percy Jackson e o Mar de Monstros” aposta em amadurecimento emocional e visual

A segunda temporada de “Percy Jackson e os Olimpianos” chega ao Disney+ buscando reafirmar a força da franquia e, ao mesmo tempo, estabelecer uma nova etapa na jornada do semideus. A produção se apoia na mistura de aventura, fantasia e drama juvenil para adaptar “O Mar de Monstros“, segundo livro da saga de Rick Riordan.

A ideia central deste review é analisar como os dois primeiros episódios funcionam como um relançamento. Mais maduro, mais técnico e mais emocional, para a série, reforçando principalmente a evolução do elenco e o salto de qualidade nos efeitos especiais.

Primeiras impressões - "Percy Jackson e o Mar de Monstros"
Walker Scobell como Percy Jackson | Crédito: David Bukach/Disney

Percy Jackson volta mais tenso e ágil

Desde os minutos iniciais, a sensação é de que a narrativa se reposiciona. A volta ao Acampamento Meio-Sangue não acontece como mera retomada; funciona quase como um “soft reboot” que reorganiza o mundo, introduz novas dinâmicas e estabelece ameaças mais claras.

Assim, Percy (Walker Scobell) e Annabeth (Leah Sava Jeffries) reencontram um ambiente em crise: Grover (Aryan Simhadri) está desaparecido, a árvore de Thalia foi envenenada e uma presença autoritária, Tântalo (Timothy Simons), assume o comando do acampamento. Paralelamente, Percy descobre Tyson, seu meio-irmão ciclope, interpretado por Daniel Diemer.

Essa abertura compacta e direta prepara o espectador para uma temporada mais ágil. Além disso, o roteiro aposta na concisão: contextualiza novos elementos, reapresenta personagens e aciona o conflito principal sem depender de longas recapitulações. A estratégia funciona porque respeita tanto os leitores quanto quem chega agora, equilibrando expectativas e mantendo o ritmo da aventura.

Daniel Diemer como Tyson
Daniel Diemer como Tyson | Crédito: David Bukach/Disney

Protagonistas mais maduros reforçam 2ª temporada

A partir daí, o foco recai sobre o amadurecimento do trio principal. Walker Scobell volta mais seguro, com maior domínio do tom de Percy. Sua interpretação transita entre a ironia adolescente, o peso da responsabilidade e uma crescente dureza emocional. Esse Percy parece ter entendido que não é mais possível reagir ao caos apenas com humor, a maturidade chega de forma abrupta, especialmente após confirmar que Tyson é realmente seu irmão biológico.

Leah Sava Jeffries também retorna com mais profundidade. Sua Annabeth lembra uma veterana precoce, marcada por traumas que nunca foram devidamente tratados. A produção deixa claras as camadas de exaustão e alerta constante que moldam a personagem. Ao mesmo tempo, Jeffries reforça a parceria com Scobell, construindo uma dinâmica que reforça o vínculo afetivo dos dois, mesmo em momentos de conflito.

Aryan Simhadri da vida a um Groover que mantém sua função emocional na narrativa. O desaparecimento do personagem funciona como motor da jornada e como lembrança de que a amizade entre ele e Percy continua sendo um dos pilares da adaptação. Ainda que o foco dos dois primeiros episódios recaia mais sobre Percy e Annabeth, o impacto emocional de Grover permanece forte, especialmente nos sonhos proféticos que anunciam seu perigo iminente.

Daniel Diemer entrega uma interpretação sensível como Tyson. Embora o arco inicial pareça um pouco raso e sua timidez dificulte a leitura emocional do personagem, Diemer demonstra boa capacidade expressiva. A limitação visual do ciclope, marcada pelo uso de efeitos digitais, não impede que o ator encontre nuances corporais que humanizam Tyson.

Leah Sava Jeffries é Annabeth
Leah Sava Jeffries é Annabeth | Crédito: David Bukach/Disney

Coadjuvantes fortes impulsionam nova fase da série

A direção aposta em cenas mais ambiciosas, como a corrida de bigas, filmada ao longo de 30 dias, segundo Dan Shotz, um dos produtores executivos. A sequência impressiona pela combinação de movimentos reais, cavalos em cena e integração cuidadosa de computação gráfica. É um momento que evidencia como a série encontrou uma forma de equilibrar fantasia visual com credibilidade física.

O texto também encontra força nos coadjuvantes. Timothy Simons entrega um Tântalo inquietante, oscilando entre humor sombrio e ameaça constante. Já Lin-Manuel Miranda, como Hermes, oferece uma das melhores participação na série até agora, construindo uma cena de virada emocional poderosa quando menciona Luke na cena da praia. Esses momentos ampliam a densidade dramática da temporada.

Por outro lado, ainda existem pontos a ajustar. A introdução antecipada do arco da Grande Profecia gera tensão desnecessária entre Percy e Annabeth. A dinâmica entre eles soa forçada em certos trechos, prejudicando parte da naturalidade que marcou a primeira temporada.

Ainda assim, o saldo geral é claramente positivo. A série demonstra ambição técnica, amadurecimento emocional e respeito ao material original. Ao mesmo tempo, se permite reformular aspectos narrativos quando necessário, sem descaracterizar os personagens.

Vale a pena assistir “Percy Jackson e o Mar de Monstros”?

Sim. Os dois primeiros episódios oferecem uma combinação eficiente de aventura, emoção e evolução técnica. A temporada abre espaço para aprofundar personagens, revisitar conflitos e apresentar novos desafios, enquanto reforça o amadurecimento do elenco e a melhora sensível dos efeitos especiais.

Mesmo com alguns ajustes pendentes, a segunda temporada da saga “Percy Jackson e os Olimpianos” se firma como uma adaptação que cresce junto de seus protagonistas, e que ainda tem muito a entregar nesta jornada pelo Mar de Monstros.

Imagem de capa: David Bukach/Disney