Filme sobre uma das vozes mais importantes da literatura brasileira inicia gravações em novembro e será estrelado por Maria Gal, com direção de Jeferson De

A obra Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, de Carolina Maria de Jesus (1914-1977), ganhará sua primeira adaptação para o cinema. O longa, intitulado provisoriamente Carolina – Quarto de Despejo, tem direção de Jeferson De, roteiro de Maíra Oliveira e produção de Clélia Bessa.

A equipe começará as filmagens em 1º de novembro nos estúdios Quanta Rio, que irão se transformar em uma recriação da Favela do Canindé dos anos 1950, cenário central da narrativa original. O projeto é uma realização da Move Maria, Raccord Produções e Buda Filmes, com coprodução da Globo Filmes.

A atriz Maria Gal (Câncer com Ascendente em Virgem) interpreta Carolina Maria de Jesus, autora e protagonista da história. A produção também conta com Raphael Logam, Fábio Assunção, Clayton Nascimento, Liza Del Dala, Carla Cristina, Ju Colombo, Jack Berraquero, Alan Rocha e Thawan Lucas.

Quarto de Despejo vai virar filme
Mesa com livros na leitura do roteiro do filme | Foto: Mariana Vianna/Divulgação

Da favela do Canindé ao reconhecimento mundial

Publicado em 1960, “Quarto de Despejo” reúne os diários escritos por Carolina Maria de Jesus entre 1955 e 1960. Esse foi o período em que ela viveu como catadora de papel na periferia de São Paulo.

Ao longo das páginas, a autora descreve, de forma direta e observadora, o cotidiano na favela, as dificuldades constantes para sustentar os filhos e, sobretudo, as desigualdades sociais enfrentadas diariamente.

Dessa maneira, sua escrita se tornou um registro histórico e social que ultrapassa o relato pessoal, revelando as contradições da vida urbana e a luta pela sobrevivência. Apesar de ter estudado apenas por dois anos, Carolina conquistou um espaço inédito na literatura brasileira.

Com o passar do tempo, sua obra foi traduzida para 14 idiomas e ultrapassou a marca de um milhão de exemplares vendidos, consolidando-se como uma das mais importantes vozes femininas do país. Além disso, “Quarto de Despejo” marcou um ponto de virada na representação das periferias brasileiras na literatura, dando visibilidade a uma realidade pouco retratada até então.

Assim, Carolina Maria de Jesus tornou-se a primeira mulher negra brasileira a alcançar reconhecimento internacional com uma obra literária. Seu legado permanece relevante, não apenas pela força documental de seus escritos, mas também pela contribuição à compreensão das desigualdades sociais e da potência da escrita como instrumento de transformação.

Um retrato histórico em nova linguagem

O longa busca ampliar o alcance da história de Carolina, apresentando sua trajetória a novas gerações e explorando o impacto social de seu relato. A adaptação pretende abordar não apenas as dificuldades enfrentadas pela autora, mas também seu olhar crítico sobre a pobreza urbana e sua relação com a escrita como instrumento de sobrevivência e resistência.

O projeto marca o reencontro do cinema nacional com uma das narrativas mais significativas do século XX. Para Jeferson De, a proposta é resgatar a relevância histórica de Quarto de Despejo. Isso, além de reforçar a importância de Carolina Maria de Jesus no contexto cultural brasileiro.

Imagem de capa: Mariana Vianna/Divulgação