As filhas das mães que morrem“, de Maia Melo, é uma obra profunda e tocante que fala sobre o luto, a dor da perda e o difícil processo de se reencontrar em meio à solidão e à culpa. Com poemas carregados de emoção, os versos revelam os sentimentos mais íntimos da autora enquanto ela atravessava o luto pela morte da mãe. É um livro sobre ausência, memória e a tentativa de ressignificar a dor através da escrita.

Ao longo das 178 páginas, Maia Melo abre o coração ao compartilhar os momentos finais ao lado da mãe, as experiências que viveram juntas e o impacto avassalador do pós-morte. Ela expõe de forma sincera e delicada como é possível continuar vivendo mesmo quando a figura materna não está mais presente. Essa jornada de luto, escrita em forma de poesia contemporânea, convida o leitor a refletir sobre a própria relação com a mãe e com a ideia da morte.

As filhas das mães que morrem

O livro se inicia com a frase marcante: “ela morreu no dia 11 de setembro de 2018”. A partir daí, a leitura se desenvolve a partir das experiências de Maia ao acompanhar sua mãe no hospital e tudo o que aconteceu após sua partida. Em algumas páginas, a autora se entrega em palavras intensas e densas. Em outras, uma única frase curta revela que, em vez de sangrar no papel, ela sangrava por dentro. É essa alternância que dá ritmo e força à leitura, tornando a dor ainda mais palpável.

Dividida em seis partes (sondas, a dor, o medo, a raiva, o perdão e últimas linhas) a obra convida o leitor a acompanhar a trajetória emocional de Maia até alcançar algum nível de aceitação. Cada parte representa uma etapa do luto, com suas contradições, revoltas e silêncios. Um dos pontos mais impactantes do livro é a revelação de que a mãe de Maia sempre deixou claro que não queria ser mãe. Esse sentimento de rejeição atravessa toda a narrativa, tornando o luto ainda mais complexo e carregado de camadas. A autora escreve não só sobre a perda da mãe, mas também sobre a perda da possibilidade de ter sido desejada por ela.

Impressões sobre o livro

Este não é um livro fácil de ser lido. A leitura incomoda, fere, emociona e é impossível não se colocar no lugar da autora. Ao longo das páginas, pensei na minha própria mãe, que também perdeu a dela de forma cruel. O livro me fez enxergá-la como filha, algo que nem sempre consigo fazer com clareza, afinal, para mim, ela é a minha mãe.

Fiquei imaginando como eu me sentiria se estivesse no lugar de Maia. Será que teria forças para transformar esse sofrimento em palavras com tanta potência, tanta força, tanta lucidez? “As filhas das mães que morrem é um livro” pequeno no tamanho, mas gigante em sensibilidade. É uma leitura que exige atenção, entrega e empatia. Cada verso conversa diretamente com a alma do leitor, e é praticamente impossível chegar até o fim sem se emocionar.

Terminei e fiquei olhando para o nada, absorvendo tudo o que li. Sem dúvida, foi um dos livros mais difíceis que já li. Sem dúvida, foi um dos melhores livros que já li.