“Casa de Barro Branco e Areia” de Genedilson Monteiro, é um dos livros mais emocionantes que já li. O filho, abandonado pelo pai, sofre pelo recente falecimento da mãe. Ele lida com o luto, e com a sensação de ficar sozinho. Porém, o inesperado acontece, e o protagonista recebe uma ligação dizendo que seu pai está internado com um problema de saúde. 

Ao reencontrá-lo, o pai não fala nada relativo ao abandono, pelo contrário, age normalmente. O personagem então descobre mais sobre a vida do homem, e, ao mesmo tempo que esse encontro desperta lembranças boas e ruins, ele se sente assustado frente aquele desconhecido. Devido à doença do homem, o filho passa a cuidar dele, e eles se mudam para uma casa, afastada de tudo. 

Apesar do ressentimento, e de todas as perguntas e dúvidas existentes, eles pouco conversam. O silêncio fala mais do que tudo entre eles. Esse é um ponto importante da forma como o autor escreve a narrativa. É perceptível a tensão, mágoa e ressentimento entre os dois personagens. 

Quando o pai morre, ele se sente sozinho de verdade, e dessa forma, percebe que apesar da distância, o pai ainda estava ali. Agora ele está realmente solitário. No entanto, um caderno deixado pelo pai, pode ajudá-lo a compreender melhor os motivos que levaram ao afastamento do pai, assim como traz lembranças emocionantes. Além disso, a amizade com um beija-flor poeta, ajuda o personagem a superar a tristeza.

Impressões sobre o livro

Como lidamos com o abandono? Quem já sofreu algum tipo de abandono materno ou paterno, afirma que isso deixa marcas profundas. A maior lição de “Casa de Barro Branco e Areia” talvez seja a importância do perdão. Ao cuidar do pai doente, o protagonista precisa lidar com uma série de sentimentos. 

Mas talvez o mais admirável é que o filho não abre mão de garantir o melhor cuidado para o idoso. O pai, apesar da distância, convida o filho para viver com ele, o que leva a diversos questionamentos de porque ele fez isso. No entanto, como essas razões não são totalmente compreendidas, observamos pelo olhar do protagonista. 

Dessa forma, o autor expressa de forma realista o silêncio que existe entre pai e filho, assim como todos os sentimentos que o personagem carrega. No final, a lição talvez seja que as boas lembranças são a maior riqueza, diante da solidão que nos abate ao perder pessoas queridas.

 Para mim, a maior riqueza do livro é que apesar dos desafios e da trajetória triste, todos nós podemos nos identificar com o protagonista. Como lidar com a tristeza e com os ressentimentos diante das perdas? Como transformar as lembranças em memórias alegres? Além disso, a liricidade e a fantasia na figura do beija-flor, tornam a obra ainda mais emocionante. 

Os versos no decorrer da obra, também fazem a leitura mais fluida e dinâmica. Para finalizar, deixo os versos que mais me tocaram. Fica a minha sugestão de leitura de “Casa de Barro Branco e Areia”, para que cada leitor escolha o seu:

Porta não é útil;

A quem não tem onde ir;

Por isso se fecha.

Sobre o autor

Genedilson Ferreira Monteiro nasceu em Campina Grande (PB) e formou-se em jornalismo pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Desde jovem, demonstrou interesse por literatura e poesia. Ele escreveu os seus primeiros versos ainda no ensino médio. Trabalhou por alguns anos como assessor de imprensa e colaborou com veículos de comunicação em sua cidade. 

Atualmente vive na capital, João Pessoa, onde é servidor do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba. Em 2022, durante a  26⁠ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, publicou um conto e uma poesia em coletâneas da Lura Editorial. Em outubro de 2025, estará presente na Bienal do Livro de Pernambuco com “Casa de Barro Branco e Areia”.