“O Morro dos Ventos Uivantes”, único romance de Emily Brontë, é uma das obras mais presentes na memória dos leitores e um verdadeiro clássico do romantismo. É uma história de amor, vingança, mágoa e ódio, com a trajetória de um protagonista controverso e humano, que se desenrola no cenário misterioso e fantástico de Yorkshire, na Inglaterra.
É em meio ao charme sombrio das charnecas que se desenrola a história destrutiva de Heathcliff. A história começa com o Sr. Lockwood, um homem que se torna inquilino de uma velha casa de propriedade do Sr. Heathcliff, o Morro dos Ventos Uivantes, uma figura que, desde sua chegada, se torna alvo de sua curiosidade.
O inquilino conhece os familiares de Heathcliff, sua nora Cathy, o jovem Hareton e a governanta Nelly. O comportamento avesso e frio da família assusta Lockwood, até que a governanta Nelly passa a contar ao homem toda a história de Heathcliff.
Alerta de Spoiler
O início: Heathcliff e a família Earnshaw
O patriarca Sr. Earnshaw, dono do Morro dos Ventos Uivantes, adota Heathcliff, um menino de rua. Com o decorrer dos anos, Heathcliff e sua irmã adotiva Catherine desenvolvem um laço profundo e de certa forma selvagem.
Após a morte do pai, Hindley, o irmão de Catherine, passa a tratá-lo como empregado, uma vez que odiava o jovem por ciúmes de seu pai. Catherine, agora uma bela jovem, vê a oportunidade de ascender socialmente ao se casar com o vizinho Edgar Linton.
Dessa forma, mesmo amando Heathcliff, Catherine se casa com Linton, provocando sofrimento no jovem que foge antes mesmo do casamento.
O Retorno de Heathcliff
Heathcliff retorna três anos depois, rico e sofisticado, determinado a se vingar de todos que o humilharam e o separaram de sua amada. A vingança de Heathcliff busca atingir Hindley, que leva à falência e toma a propriedade no Morro dos Ventos Uivantes.
Ele se casa com Isabella Linton, irmã de Edgar, e, tratando-a cruelmente, busca se vingar do homem e indiretamente de sua amada que o abandonou. No entanto, Catherine morre ao dar à luz sua filha, também chamada Catherine (Cathy), deixando Heathcliff em um desespero atormentado e vingativo.
A causa da morte da Catherine está diretamente relacionada ao desgaste físico e emocional que ela sofreu ao longo da gravidez. Isso é resultado de seus conflitos internos, uma vez que está comprometida com a família e com Edgar, mas continua sentindo um sentimento profundo por Heathcliff.
A Segunda Geração
Desse modo, a obra segue uma estrutura de drama familiar clássica, uma vez que a segunda parte da história segue os filhos da primeira geração. Heathcliff e Isabella têm um filho, Linton Heathcliff, um jovem absolutamente doentio e assustador. Já Hareton Earnshaw é o filho de Hindley. Jovem mal-educado e analfabeto, uma vez que Heathcliff o usou como forma de se vingar de Hindley pelo péssimo tratamento que recebia na juventude.
Cathy Linton, uma jovem muito parecida com a mãe e dedicada ao pai, casa-se com Linton, após uma manipulação de Heathcliff, como forma dele se tornar dono dos bens das duas famílias. Linton Heathcliff morre logo após o casamento, e Heathcliff torna-se senhor de ambas as propriedades.
No decorrer dos anos, Heathcliff vive obcecado pela memória de Catherine. Até que após causar a infelicidade de todos, morre, completamente solitário, na verdade o que ele queria. Um final inesperado é que Cathy Linton e Hareton Earnshaw se apaixonam e planejam se casar, restaurando a esperança de felicidade.
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Impressões sobre o livro
Um clássico da literatura, é impossível que “O Morro dos Ventos Uivantes” não fique no imaginário de quem o lê. Explorando desigualdades sociais, destino, obsessão e a natureza destrutiva do ciúme e da vingança, o livro provoca no leitor sentimentos contraditórios.
É impossível não sentir pena de Heathcliff no início da obra. No entanto, o egoísmo e a crueldade do personagem no decorrer da obra o transformam em um vilão. Ele manipula e destrói Isabella, Cathy e Edgar, que diretamente não são responsáveis por seu sofrimento. Além disso, não parece demonstrar sentimentos pelo filho, que parece ser apenas mais uma peça no seu jogo.
Catherine também é uma personagem complexa, uma vez que o abandonou para se casar com Edgar Linton, que poderia lhe dar uma vida mais confortável. Porém, ao sofrer com a infelicidade, desperta empatia no leitor. É importante lembrar que Emily Brontë relatava a situação das mulheres na época. Talvez se casar com Edgar tenha sido a forma de conseguir uma vida melhor.
Algo impressionante na obra é como, no decorrer da obra, a melancolia e a infelicidade de Heathcliff, assim como o clima sombrio do Morro dos Ventos Uivantes, parecem atingir todos os personagens. Do mesmo modo, a descrição com riqueza de detalhes permite ao leitor criar um cenário verossímil na nossa cabeça.
Personagens complexos
Heathcliff e Catherine são geralmente descritos como anti-heróis. Ou seja, protagonistas que não possuem virtudes, ideais ou ética como os heróis tradicionais. Portanto, são falhos, cheios de contradições e motivações egoístas.
Em nenhum momento, a autora parece querer que o leitor goste, principalmente de Heathcliff. Pelo contrário, o personagem tem cada vez mais atitudes questionáveis que demonstram nenhum tipo de redenção.
Mas até onde podemos culpar os outros pelo nosso sofrimento? Heathcliff talvez seja o personagem vingativo que tenha inaugurado a clássica moral: muitas vezes, quando você quer vingança, arrisca tornar-se pior que a pessoa que lhe fez mal. E ainda assim, não alcança a felicidade, ou qualquer sentimento positivo.
Emily Brontë acerta em trazer personagens com sentimentos complexos e sombrios, com os quais podemos identificar situações cotidianas. Talvez por isso “O Morro dos Ventos Uivantes” seja um clássico atemporal.
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