No conto Venha ver o pôr do sol, Lygia Fagundes Telles conduz o leitor por uma narrativa de expectativas bem alinhadas e tensões cuidadosamente construídas. A autora inicia a história com uma atmosfera melancólica e quase doce, criando a ilusão de um reencontro pacífico entre dois antigos amantes.

No entanto, à medida que a trama avança, a doçura inicial dá lugar a um suspense sombrio, guiado por passos calculados e frios. Com poucas páginas, Lygia rompe com a ideia do amor idealizado e revela sua face mais obscura, marcada por controle e ressentimento.

Impressões sobre o livro

Ler Venha ver o pôr do sol é atravessar uma narrativa breve, mas densa, onde tudo, cenário, silêncio e fala, alimenta o desconforto. A princípio, o conto sugere uma reconciliação. Contudo, logo se transforma em um mergulho psicológico no desejo de posse e na manipulação emocional.

O ritmo narrativo chama atenção. Começa lento, quase contemplativo, mas acelera quando o leitor, como Raquel (a personagem principal), percebe que algo está profundamente errado. Lygia conduz o leitor com precisão até a armadilha final, tal como Ricardo conduz Raquel, sem pressa, mas com intenções cada vez mais sinistras.

Além disso, o cenário, um cemitério abandonado e coberto pelo mato, atua como um personagem, a metáfora da obsessão e da morte simbólica de um relacionamento. A linguagem da autora é enxuta e precisa. Ela elimina excessos e constrói suspense com uma escrita refinada, que jamais apela para o exagero.

No desfecho, Lygia surpreende ao romper qualquer expectativa de leveza. Em seu lugar, apresenta um gesto cruel, silencioso e arrebatador. O conto afirma o poder da narrativa curta e a habilidade da autora de cruzar o real e o macabro com domínio absoluto.

“Venha ver o pôr do sol” aborda a obsessão, o desejo de controle e o ciúme que ultrapassa os limites da razão e da vida. Por fim, o que parecia um convite à beleza se revela armadilha. Assim, o título assume um tom de ironia é inesquecível.