Publicado em 1986, “Forrest Gump”, de Winston Groom, apresenta um protagonista que desafia convenções. Forrest, se apresenta com um “QI de quase 70”, narra sua própria história com uma gramática peculiar e revela desde o início que sua visão de mundo é tão incomum quanto suas experiências.
Ao longo das páginas, ele se torna jogador de futebol americano, herói de guerra, astronauta, lutador de luta livre, músico, entre outras profissões. Essas passagens, embora divertidas, nem sempre conseguem prender o leitor.
O livro adota um estilo direto, quase telegráfico, que pode parecer monótono em certos momentos. Embora a linguagem tenha sido pensada para refletir a simplicidade do personagem, ela acaba se tornando repetitiva. Apesar disso, a proposta tem audácia. Groom cria um narrador inusitado, cuja inocência permite representar o absurdo da sociedade americana com crítica e até certa ironia.
Diferenças entre filme e livro
Quem conhece apenas o filme de 1994 pode se surpreender, e talvez se decepcionar, com o livro. A adaptação de Robert Zemeckis suaviza diversos aspectos da obra original. Enquanto o Forrest do cinema é gentil, puro e passivo diante dos eventos da vida, o Forrest do livro é mais rude e até rebelde.
Sua jornada é mais caótica e menos emocionante do que a representada nas telonas. Algumas passagens são completamente diferentes: ele vai ao espaço com um macaco e acaba morando entre canibais por um tempo. Esses episódios, apesar de criativos, soam quase absurdos demais para criar uma conexão afetiva com o leitor.
Outra grande diferença é no relacionamento de Jenny com Forrest. No filme, os personagens vivem encontros e desencontros durante a vida adulta, até que finalmente se juntam e tem um bebê. O casal é separado com a morte de Jenny e Forrest cria o filho sozinho. A história de amor entre os dois consegue ser ainda mais trágica no livro. Forrest descobre que ele é o pai do filho de Jenny, mas ela o deixa para criá-lo com outro homem.
Ainda outra divergência das duas obras é o tom usado. O livro aposta no humor nonsense e em uma crítica ácida ao ideal americano de sucesso. Já o filme prefere tocar o coração do público, com cenas icônicas como o “Run, Forrest, run!” e a célebre caixa de chocolates. Enquanto o longa conquista pela emoção, o livro propõe uma visão mais satírica e anárquica da sociedade.
Ainda vale a leitura?
A resposta depende do que se busca. Para quem deseja mergulhar em uma jornada caótica, cheia de reviravoltas improváveis, “Forrest Gump” é um prato cheio. É uma crítica disfarçada de comédia, uma paródia do sonho americano narrada por alguém que, teoricamente, não entende nada, mas que talvez compreenda tudo de um jeito próprio.
No entanto, a leitura exige paciência. O ritmo lento e a repetição podem desanimar leitores acostumados com narrativas mais sofisticadas. Ainda assim, há mérito no texto de Groom. Ele criou um personagem carismático e, apesar dos excessos, original.
O livro não possui o mesmo apelo emocional do filme, mas oferece um olhar alternativo sobre os Estados Unidos do século XX, um olhar genuinamente crítico. Vale ler, se for com as expectativas ajustadas e com a mente aberta para a história além do filme.
Leia mais: Resenha: “Gump & Co.”
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