Mente Cheia; Coração Farto” é o livro de estreia da autora Angell Carapunarla. Nesta coletânea de 68 páginas, a escritora derrama o coração no papel ao explorar sentimentos que transbordam, mesmo quando não encontram espaço para serem ditos em voz alta. Entre versos que tocam memórias, dores silenciosas e pequenos lampejos de esperança, Angell constrói um percurso íntimo sobre vulnerabilidade, autoconsciência e o peso de carregar mais do que se mostra ao mundo.

A obra nasce como um convite para que o leitor desacelere e reconheça suas próprias emoções. Aquelas que, muitas vezes, ficam guardadas no meio do caminho entre a mente que não para e o coração que insiste em se calar.

Os poemas

O livro é composto por poemas que Angell escreveu ao longo de diferentes fases da vida. Dessa forma, cada texto funciona como um registro emocional, refletindo as mudanças, os desafios e as descobertas que marcaram sua trajetória. Há versos que carregam a urgência da juventude, outros que revelam amadurecimento e alguns que surgem quase como sussurros, nascidos de momentos de silêncio e introspecção. Essa diversidade cria um mosaico sensível do que significa crescer, cair, recomeçar e seguir adiante.

A obra se abre com o poema “A minha vida muda hoje”, um manifesto íntimo sobre a necessidade de iniciar um novo ciclo e assumir as rédeas da própria história. Nele, Angell revisita a própria identidade, confrontando medos e reconhecendo a potência que existe na decisão de mudar. O texto não apenas apresenta a voz da autora, mas também estabelece o tom do livro: confessional, direto, corajoso e profundamente humano.

Ao longo das páginas, o leitor acompanha uma jornada emocional que transita entre força e fragilidade, entre a mente que transborda e o coração que busca equilíbrio. Os poemas dialogam entre si, traçando uma linha quase narrativa, ainda que feita de fragmentos e sensações. Amor, perda, ansiedade, esperança e autoconhecimento surgem não como temas isolados, mas como partes de um mesmo caminho. Um caminho que Angell percorre com honestidade e sem medo de mostrar as próprias cicatrizes.

Identificação

Logo na dedicatória, Angel expõe a dor que atravessou seus poemas mais melancólicos. Ela revela que esses sentimentos foram os piores que já viveu. Ainda assim, ela reconhece que muitos leitores podem ter passado por experiências parecidas. Nesse caso, Angel deseja que cada pessoa encontre ali não um espelho da dor, mas a certeza de que não enfrentou tudo sozinha.

Ao mesmo tempo, a autora também celebra os versos que nasceram da alegria. Esses poemas mostram respiros, recomeços e dias em que o coração finalmente encontra espaço para florescer. Assim, Angel abre caminho para que o leitor se identifique com a luz, não apenas com a sombra. Afinal, reconhecer a própria felicidade também fortalece e acolhe.

Por fim, Angel constrói uma ponte entre extremos. Seus poemas tristes abraçam quem precisa de consolo, enquanto os poemas felizes lembram que a vida continua possível. Dessa forma, o livro acolhe diferentes fases da existência e convida o leitor a se ver em todas elas. Nas quedas, nas curas e, sobretudo, nos pequenos instantes de esperança.

Impressões sobre o livro

Eu não tenho o hábito de ler poemas, e isso sempre me afastou um pouco do gênero. Assim, para minha surpresa, a leitura fluiu com leveza. Embora alguns poemas parecessem exigir mais profundidade, senti sinceridade em cada verso. Essa honestidade manteve meu interesse do começo ao fim.

O livro é curto, mas não é do tipo que se atravessa sem pausa. Cada poema pede um momento próprio. Eu precisei respirar, reler e deixar que algumas imagens assentassem. Aos poucos, percebi que o impacto está justamente na combinação de sinceridade e emoção, algo que funciona mesmo para quem não costuma navegar pela poesia.

Conforme a leitura avança, fica claro que Angell não escreve apenas para registrar sentimentos, mas também para compreendê-los. É como se cada verso fosse um gesto de cura, uma tentativa de organizar o caos interior e transformar o que dói em algo que, de alguma forma, ilumina. Assim, “Mente Cheia; Coração Farto” se torna não apenas um livro de poemas, mas também um espaço de acolhimento, onde quem lê se reconhece e, aos poucos, encontra companhia nas palavras que a autora deixou pelo caminho.

Imagem de capa: Amazon