No novo capítulo do “Druamverso”, Nelson Job conduz o leitor por uma jornada futurista marcada por emoção e identidade nacional

A obra “Pulsares”, de Nelson Job, leva o leitor para uma viagem de ficção científica com sotaque brasileiro. Apesar de passear por diversos lugares durante a narrativa, o livro é marcado por passagens que lembram o leitor do quão bom pode ser a familiaridade da literatura nacional.

Dessa forma, Nelson Job amplia os horizontes do chamado “Druamverso” – universo literário que também inclui seus livros Druam e Cânticos Andróginos –  com uma originalidade ainda mais marcante.

As pulsações na narrativa

Em Pulsares, o leitor é teletransportado para um futuro próximo e acompanha a história de Aion. Logo, o protagonista apresenta sua realidade: ele é capaz de desenvolver habilidades parapsíquicas, como telepatia e até mesmo materialização astral.

No início, acompanhamos Aion em uma pequena viagem. Seu objetivo inicial, como aprendemos conforme a narrativa segue, é recrutar outras pessoas que também sentem as pulsações cósmicas como ele. Assim, o autor também faz uma apresentação de universo conforme Aion responde às perguntas dos demais personagens – que estão descobrindo a realidade igual os leitores. De modo que em muitos momentos é como participar das reuniões e das conversas entre os personagens.

Ao decorrer do enredo, somos também apresentados às histórias de Yohan, Kyra, Mixa e Liv. Juntos, embarcam em uma missão para entender os pulsares cósmicos e deter os Darkstone –  grupo que busca reprimir as novas mudanças cósmicas para utilizar de forma autoritária. 

Dessa forma, as viagens dos personagens são descritas com uma riqueza de detalhes que transporta o leitor para cada cenário, sem recorrer a estereótipos. Mesmo quando os personagens se deslocam para fora do país, permanece evidente a marca da brasilidade. 

Viagem cósmica com personagens singulares 

Os personagens de Nelson Job ganham vida de maneira tão vívida que o leitor rapidamente reconhece suas personalidades excêntricas e únicas. Assim, essa construção cuidadosa cria um forte vínculo com o grupo.

Entre eles, Kyra se destaca como a mais jovem, com sua curiosidade e delicadeza que impulsiona a narrativa. Já Mixa apresenta uma história rica e uma personalidade profundamente desenvolvida, revelando camadas que se ampliam a cada capítulo. Além disso, também acompanhamos o desenvolvimento romântico do protagonista em meio ao cenário de distopia.

Como a situação cósmica é completamente nova para todos, o leitor se torna parte da jornada desde o início. Aprendemos junto com os personagens, tateando o desconhecido, até o momento em que estamos tão familiarizados com aquele universo quanto os próprios protagonistas. 

Durante as conversas, por exemplo, os personagens refletem sobre aspectos da cultura contemporânea, e citam grandes nomes da cultura brasileira, como Clarice Lispector. Dessa forma, os diálogos aproximam a narrativa do leitor, conectando o fantástico ao cotidiano e reforçando a identidade nacional que permeia toda a obra.

Além disso, o design do próprio livro acompanha a evolução da narrativa. Conforme os acontecimentos se intensificam, a disposição gráfica e os elementos visuais refletem as transformações do enredo, criando uma experiência de leitura que é também estética.

Impressões sobre o livro

Apesar de não ter muito contato com a ficção científica, a leitura me surpreendeu de forma muito positiva. O livro de Nelson Job consegue envolver mesmo quem não é acostumado ao gênero, equilibrando conceitos complexos com uma narrativa acessível e cativante.

O que mais me chamou atenção foi o cuidado do autor com a experiência do leitor. Ele explica termos específicos e introduz cada teoria física com naturalidade, sem tornar o texto técnico demais. 

Assim, foi possível se conectar com as histórias de todos os personagens – com carinho especial para a minha favorita, Kyra –, principalmente pela representatividade e construção de identidade não caírem em estereótipos. Tal conexão também ajudou bastante para conseguir acompanhar o cenário distópico.

Essa atenção aos detalhes cria uma leitura fluida, que desperta curiosidade e prazer em aprender com o livro. A combinação entre o conteúdo científico, a sensibilidade dos personagens e a linguagem envolvente faz com que o livro seja uma experiência completa – tanto intelectual quanto emocional.

Imagem de capa: Divulgação