“Sob o Céu de Isaías”, de Vitor Kappel, lançado pela Editora Patuá, é uma obra sensível e profunda sobre juventude, solidão e as escolhas que moldam o caminho da vida. Ao longo das páginas, o autor mergulha nas descobertas da adolescência e nas marcas deixadas pelo amadurecimento, explorando temas como o papel da família, a busca por identidade, a honestidade, o bullying, o primeiro amor e todas as inquietações que acompanham o crescimento.
Com uma narrativa que desafia o tempo e se move entre passado e presente, o leitor é conduzido pelas memórias de Isaías, um protagonista que tenta compreender o próprio percurso: quem foi, quem se tornou e como seguir adiante. Entre reflexões íntimas e encontros que o transformam, Kappel constrói um retrato delicado sobre o processo de se reconhecer no mundo e aceitar a imperfeição de existir.
Sob o Céu de Isaías
A obra começa apresentando um jovem Isaías, que vive com os pais e estuda em uma escola católica. Enquanto a mãe tenta subir na carreira revendendo cosméticos, o pai atua como professor na mesma instituição onde o garoto estuda. Apesar da rotina aparentemente comum, a família está longe de ser estruturada. Isaías sente-se deslocado em todos os espaços que ocupa, dentro de casa, na escola e até consigo mesmo.
Na escola, é visto como o “nerd” da turma, sendo constantemente isolado pelos colegas, com exceção de Bernardo, o único que o trata com gentileza. No entanto, quando se trata de Bernardo, Isaías nutre sentimentos que vão muito além da amizade. Com o passar do tempo, o protagonista descobre que a situação familiar é ainda mais complexa do que imaginava. Seus pais escondem segredos capazes de mudar para sempre o rumo de suas vidas.
Moradores de uma pequena cidade do interior de São Paulo, eles sabem o peso das “más línguas” e tentam se proteger do julgamento alheio. Contudo, essa proteção se mostra impossível quando, logo após se tornar adulto, Isaías se vê diante de um dos infernos mais perigosos conhecidos pela humanidade.
Em uma jornada para provar sua inocência, Isaías deixa de ser o garoto sonhador e se transforma em um homem marcado pela dor, mas guiado pela honestidade e pelo desejo de entender o próprio destino. Mais sozinho do que nunca, ele percebe que crescer é, antes de tudo, aprender a enfrentar a verdade, mesmo quando ela ameaça tudo o que se é.
A narrativa
Com uma escrita poética e marcada pelo lirismo, Vitor Kappel constrói uma narrativa que ecoa a solidão de quem busca compreender o próprio lugar no mundo. Cada palavra parece escolhida para revelar o silêncio das emoções, os espaços entre o que se sente e o que se diz. O autor transforma a dor em poesia e o cotidiano em reflexão, permitindo que o leitor caminhe ao lado de Isaías não apenas como espectador, mas como alguém que também já enfrentou o peso de existir em meio à ausência.
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A solidão, aqui, não é apenas tema, é personagem. Ela permeia cada gesto, cada lembrança e cada escolha do protagonista. No lirismo da prosa, Kappel revela como o isolamento pode ser, ao mesmo tempo, ferida e abrigo: um território onde a dor se transforma em autoconhecimento. Assim, a obra se torna um retrato sensível sobre o amadurecimento, mostrando que, mesmo nos momentos mais escuros, há beleza em continuar buscando sentido.
Impressões sobre a obra
Por mais que o tema da obra tenha me prendido como leitora, em alguns momentos senti que o ritmo me escapava. A narrativa é densa, com poucos diálogos e um enredo que demora a se desenvolver, o que fez com que minha leitura se tornasse mais lenta do que eu esperava. Em certos trechos, senti o peso do cansaço. Não por desinteresse, mas porque a história exige entrega, atenção e fôlego.
Ainda assim, mesmo quando me perdi entre as páginas e precisei retomar o fôlego, reconheci a força da escrita e a beleza que se revela na calma. Foi uma experiência de altos e baixos: entre a curiosidade de entender Isaías e a necessidade de desacelerar para acompanhar seu tempo. O livro me testou como leitora, mas também me lembrou que algumas histórias pedem paciência para florescer.
Apesar do ritmo mais lento, há algo profundamente humano na maneira como o autor conduz a narrativa. As pausas, os silêncios e até a demora em certos acontecimentos parecem refletir a própria trajetória de Isaías. Esta é marcada por dúvidas, descobertas e pela solidão de crescer. Aos poucos, percebi que o livro não busca pressa, mas profundidade, e talvez seja justamente nesse compasso que mora sua beleza.
No fim, “Sob o Céu de Isaías” me deixou a sensação de ter acompanhado um processo, não apenas uma história. A leitura pode ser desafiadora, mas também é sensível, introspectiva e carregada de significados. Mesmo com seus momentos de lentidão, o livro me marcou pela honestidade com que retrata as dores da juventude e pelo esforço de seguir em frente quando o mundo parece desabar.
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Crédito: Reprodução