Filmes e séries brasileiras que destacam personagens LGBT, promovendo visibilidade e fortalecendo a diversidade nas telas nacionais
Durante décadas, personagens LGBT foram ignorados, silenciados ou retratados estereotipadamente nas produções audiovisuais brasileiras. Mas, mesmo em tempos de censura e conservadorismo, algumas histórias romperam essa lógica.
Com o passar dos anos, filmes e séries passaram a abraçar a diversidade de forma mais aberta, realista e humana, contribuindo para a construção de um imaginário coletivo mais plural.
Ver pessoas LGBTQIAPN+ representadas nas telas com profundidade e dignidade não é apenas um ganho artístico, é uma afirmação política. São personagens que não refletem somente a realidade brasileira, mas que também moldam o futuro do audiovisual ao dar voz a quem por muito tempo não teve espaço.
Antes da virada do século: pioneiros da representatividade
Ainda nos anos 1980, o cinema nacional começou a dar tímidos passos em direção à visibilidade LGBT. Em A Dama do Lotação (1978), embora o foco estivesse em outras questões, personagens com sexualidade ambígua e papéis secundários levantaram debates importantes.
Já A Menina do Lado (1987), de Alberto Salvá, foi uma das primeiras produções brasileiras a abordar a homossexualidade de forma mais aberta. Nos anos 1990, algumas produções ganharam destaque pela abordagem direta da temática. O longa Do Começo ao Fim (2009) ficou conhecido por seu enredo polêmico, mas antes dele, filmes como Amor? (1993), Jenipapo (1995) e Dois Córregos (1999), de Carlos Reichenbach, já abordavam nuances da sexualidade com sensibilidade.
Na televisão, ainda sob muita censura, personagens como o estilista Rafa (Rodrigo Penna) em Anos Rebeldes (1992), embora discretos, ajudaram a iniciar conversas mais abertas sobre o tema.

Dos anos 2000 em diante: afetos no centro da narrativa
Com o avanço das discussões sobre direitos civis e identidade de gênero, a presença de personagens LGBT+ no centro das narrativas se intensificou.
No cinema, Madame Satã (2002), de Karim Aïnouz, é um marco. Inspirado na vida real de João Francisco dos Santos, um artista transformista negro e marginalizado do Rio de Janeiro dos anos 1930, o filme é uma potente declaração de resistência e identidade.
Outro destaque é Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014), de Daniel Ribeiro, que apresenta Leonardo (Ghilherme Lobo), um adolescente cego que descobre sua sexualidade enquanto aprende a se posicionar no mundo. A sutileza da narrativa e o tratamento respeitoso do tema tornaram o filme um símbolo da representatividade gay no cinema brasileiro.
Mais recentemente, produções como Manhãs de Setembro (2021), estrelada por Liniker no papel de Cassandra, uma mulher trans que tem sua vida revirada pela chegada inesperada de um filho, e Veneno (inspirada na série espanhola, mas com grande repercussão no Brasil), ampliaram ainda mais o espectro de personagens trans nas telas.
Na TV, a série Todxs Nós (HBO, 2020), protagonizada por Rafa (Aren Gallo), pessoa não-binária, explora temas como identidade, família e pertencimento. Já Segunda Chamada (Globoplay) trouxe à tona a vivência de estudantes trans em escolas públicas, com destaque para a personagem Natasha, vivida pela atriz e cantora Linn da Quebrada.

Personagens que não cabem em estereótipos
Outro personagem emblemático é Lunga, vivido por Silvero Pereira em Bacurau (2019). De gênero fluido e postura revolucionária, Lunga rompe com os padrões normativos de masculinidade e se torna símbolo da luta por justiça e autonomia.
Em De Repente Drag (2022), do Canal Brasil, Julião (Ruan do Vale) conhece Lohanny (Frimes) que denuncia um caso de tráfico de pessoas após participar do maior concurso de Drags do Nordeste.
Já em Alice Júnior (2019), a jovem Alice (Anne Mota) é uma youtuber trans que se recusa a aceitar invisibilidades, inclusive na escola, e brilha com leveza e coragem.
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Quando visibilidade também é afeto
A representação de personagens LGBTQIAPN+ no cinema e na TV brasileiras não é só uma questão de visibilidade, mas de afeto, identidade e pertencimento.
Quando um adolescente se vê em Leonardo, uma mulher trans se reconhece em Cassandra, ou uma pessoa queer se identifica com Rafa, essas histórias deixam de ser só ficção. Elas se tornam espelhos. E espelhos salvam.
Essas produções, ao tratarem com coragem e empatia as múltiplas formas de existir, contribuem para a construção de um país mais plural. Elas mostram que o audiovisual brasileiro começa, enfim, a refletir a diversidade presente fora das telas.
Imagem de Capa: TLA Releasing/Divulgação
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