Um experimento digital que mistura terror psicológico, inteligência artificial e desespero humano em doses milimetricamente calculadas
Testamos o jogo de terror A.I.L.A do estúdio brasileiro Pulsatrix, responsável pelo aclamado Fobia. No game o jogador assume o papel de um beta tester, encarregado de testar jogos desenvolvidos por uma inteligência artificial.
Confesso que achei que estava preparado. Afinal, jogos de terror com IA já não são novidades, até que A.I.L.A. me mostrou que ainda há espaço para o verdadeiro medo. Desenvolvido por um estúdio independente com uma ousadia absurda, o game brinca com os limites da tecnologia, da consciência e da sanidade de quem joga.
Com lançamento para PS5, Xbox Series X/S e PC, A.I.L.A é um jogo de terror psicológico e imersivo que mistura realidades. Controlamos um desenvolvedor que recebe um misterioso kit de testes contendo a IA A.I.L.A, uma assistente capaz de reagir aos pensamentos e emoções do jogador. O clichê “jogo dentro do jogo” até aparece, mas a execução é tão intensa que a imersão é total.
Testamos o jogo no PC e no Playstation 5, eu percebi que A.I.L.A. não queria só me assustar. Ela queria me analisar. E, sinceramente? Conseguiu.
Um começo que já destrói sua sanidade

Você controla Samuel Silva, um testador de jogos que recebe um pacote misterioso da Sytekk contendo o novo kit da tecnologia AILA. No seu apartamento futurista (que parece mais seguro do que realmente é), Samuel começa a testar o sistema… e é aí que tudo desanda.
AILA não é só realista demais, ela é invasiva. Cada jogo gerado por ela se baseia nas preferências do jogador e molda a experiência de forma personalizada. O problema? Samuel começa a esquecer quem é após cada sessão. Isso jamais é um bom sinal.
A história parece tranquila no início, mas ganha tração rápida. Algumas viradas são previsíveis, mas outras acertam como um tapa. E o mais impressionante: cada jogo dentro de AILA é uma narrativa própria, que avança a trama geral ao mesmo tempo em que constrói mundos independentes muito bem amarrados.
E tem duas coisas que A.I.L.A faz impecavelmente. A primeira é jogar a culpa no jogador de maneira emocional, quase íntima. Já a segunda é expor o pesadelo de viver numa era onde a tecnologia sabe demais sobre nós.
Um terror ambicioso que nem sempre acompanha a própria ambição

“A.I.L.A”, chega misturando terror psicológico, metanarrativa e experimentos com inteligência artificial em uma proposta que, de cara, já entrega mais ousadia do que a maioria dos indies do gênero.
A primeira metade do jogo é, sem exagero, excelente. Atmosfera pesada, passagens memoráveis, uso inteligente de som e iluminação e aquela sensação deliciosa de “algo está errado e você ainda não sabe o quê”. É o tipo de terror que não precisa pular na sua frente para te incomodar. Porém, conforme a história avança, o ritmo perde força e algumas sequências começam a soar derivativas, como se o jogo estivesse repetindo ideias sem o mesmo impacto inicial. A ambição continua lá, mas a execução fica mais irregular.
Ainda assim, o mérito da criatividade é inegável. A.I.L.A usa suas referências como P.T. e Resident Evil, mas criando uma identidade própria, apoiada em um conceito que sustenta a narrativa e permite essa viagem por diferentes estilos de horror sem parecer colagem de inspirações.
O visual impressiona, o som sustenta e o gameplay tenta acompanhar

Tecnicamente, A.I.L.A é um salto significativo para o estúdio. A Unreal Engine 5 trabalha muito bem aqui, especialmente na iluminação e nos ambientes fechados, que ganham textura, sombra e profundidade. É um jogo bonito, mesmo quando está querendo te assustar e, às vezes, justamente por isso. O áudio, sempre crucial no terror psicológico, se destaca com efeitos que constroem tensão sem precisar de exageros.
O gameplay, porém, é onde o jogo tropeça. Ainda que os cenários variem bem e ofereçam puzzles interessantes, o combate carece de polimento. Respostas imprecisas, encontros mal equilibrados e alguns bugs técnicos fazem certas cenas perderem a força necessária. Nada que invalide a experiência, mas é impossível não sentir que, com alguns meses extras de refinamento, estaríamos falando de um jogo muito mais afiado.
PS5 vs PC: duas experiências parecidas na estética, mas muito diferentes no desempenho
A pergunta inevitável: qual versão vale mais a pena?
No PS5, a experiência é surpreendentemente estável. O jogo roda com fidelidade visual muito boa, framerate consistente e praticamente nenhum ajuste necessário. É uma versão “fechada”, otimizada para o hardware, e isso faz diferença para quem quer mergulhar no terror sem mexer em configurações ou enfrentar instabilidades. Lembrando que joguei em uma televisão 8k, de 65 polegadas, o que faz a imersão ficar maior ainda.
No PC, a história muda bastante e vai depender diretamente do seu setup. Em máquinas potentes, A.I.L.A brilha: 4K em alto framerate, visual no Ultra, uso competente de DLSS/FSR e uma nitidez que supera a versão de console. É, sem dúvida, a melhor maneira de jogar se você tem hardware de verdade. Porém, em PCs medianos, começam a surgir travamentos, stuttering e alguns bugs ocasionais, especialmente em áreas mais pesadas ou com muita iluminação dinâmica. O jogo escala muito bem para cima, mas precisa de ajustes manuais para rodar suavemente em configurações mais comuns. Testei em dois notebooks, um mediano e um com a configuração um pouco melhor. Deu para jogar nos dois, mas no mediano tive que deixar as configurações do game bem baixas para funcionar sem travamentos.
Em resumo, no PS5 a experiência é mais estável e sem dores de cabeça já no PC dá para chegar no potencial máximo, mas exige hardware e paciência.

Vale a pena jogar A.I.L.A?
A.I.L.A é um projeto corajoso, visualmente marcante e, em alguns momentos, brilhante. A primeira metade entrega um terror psicológico de altíssimo nível, e mesmo com a queda de ritmo posterior, o jogo mantém identidade e impacto. Tecnicamente, ele surpreende e, apesar das falhas, consolida a Pulsatrix como um estúdio brasileiro que não tem medo de pensar grande.
Se você quer estabilidade, vá de PS5. Se você quer o melhor visual possível e tem máquina para isso, vá de PC.
No fim das contas, A.I.L.A é uma experiência que merece ser jogada, especialmente por quem acompanha o terror com carinho. Poderia ser mais polido? Sem dúvida. Mas é exatamente esse tipo de ousadia que mantém o gênero vivo.
A.I.L.A disponível para PS5, Xbox Series X/S e PC.
Crédito da capa: Pulsatrix
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