O episódio 7 da série Chespirito: Sem Querer, Querendo marca um dos momentos mais densos e emocionalmente carregados da produção. Acompanhamos a expansão definitiva do sucesso de Bolaños pela América Latina, consolidando Chaves e Chapolin como fenômenos culturais que atravessaram as fronteiras do México e se tornaram parte do imaginário de diversos países sul-americanos. A viagem do elenco pela América do Sul funciona como pano de fundo para o avanço dos conflitos internos, que ganham força à medida que o roteiro se aproxima da realidade com mais coragem.

Drama pessoal e os bastidores em crise

O relacionamento entre Roberto Gómez Bolaños e Florinda Meza (na série como Margarita Ruiz) finalmente ganha contornos claros. O episódio abandona a sutileza dos anteriores e passa a mostrar de forma direta o envolvimento entre os dois, com cenas de aproximação e clima romântico cada vez mais explícito. A série não traz nenhuma informação inédita sobre o caso, uma vez que o próprio Bolaños, em várias entrevistas, já havia admitido a infidelidade e relatado como procurou Florinda por anos até o início do relacionamento.

Florinda também já havia revelado em entrevistas que resistiu ao envolvimento por respeito aos filhos e à esposa de Roberto. Ainda assim, o episódio opta por tratar o romance de forma intensificada e fora de uma cronologia clara, evidenciando mais o drama do que a precisão histórica. Mesmo com esse recurso narrativo, a figura de Bolaños continua sendo protegida, pelos sinais de remorso e pesar que tentam equilibrar a imagem do artista com a do homem.

Pablo Cruz em Sem Querer Querendo - Divulgação MAX
Pablo Cruz em Sem Querer Querendo – Divulgação HBO MAX

Mas os bastidores estão longe de serem tão leves…

Enquanto o relacionamento dos dois avança, os bastidores ficam cada vez mais tensos. Margarita, começa a ser vista com antipatia pelos colegas de elenco, que a acusam de mandar demais nos bastidores, com a conivência de Bolaños. O desconforto do grupo se torna um ruído constante, especialmente com Mariano, o diretor que acompanhou Bolaños desde o início da jornada como Chaves. Além disso, esse conflito contribui para aumentar a sensação de desintegração da equipe, que já vinha sendo construída nos episódios anteriores.

Outro aspecto importante do episódio é a inclusão da relação entre María Antonieta de las Nieves e Graciela, esposa de Bolaños. Essa aproximação é tratada com respeito e delicadeza, e se alinha ao que María relatou em sua autobiografia, reconhecendo Graciela como uma mulher forte e digna de admiração, mesmo diante das circunstâncias dolorosas que a cercavam.

Mais uma vez, o figurino e a ambientação de época merecem destaque. A direção de arte mostra cuidado em cada detalhe, desde roupas e penteados até objetos de cena e paletas de cores, contribuindo para uma imersão visual que eleva a qualidade da produção. Esses elementos reforçam a ambientação nostálgica, sem abrir mão do acabamento contemporâneo que a série entrega.

Acapulco anuncia o fim de uma era

O episódio também revisita um dos momentos mais emblemáticos da história de Chaves: a viagem para Acapulco. A reencenação da cena na praia emociona o público por sua força simbólica, que guarda esse episódio como um dos mais marcantes da infância. O retorno a Acapulco funciona quase como um aviso. Estamos chegando ao ápice emocional da história, e com ele, ao começo do fim do grupo mais importante da televisão mexicana.

Por fim, com ritmo mais firme e uma narrativa mais segura, o episódio 7 é um dos mais impactantes da série até agora. Consegue comover, provocar reflexão e preparar o terreno para a inevitável ruptura que se aproxima. É o ponto em que a glória começa a se chocar com a realidade, e o riso dá espaço ao silêncio dos bastidores.