Chegamos ao fim de Chespirito: Sem Querer, Querendo e, com ele, também ao fim da linha para o casamento de Roberto Gómez Bolaños com Graciela Fernández. A expectativa de que a série fosse, enfim, encarar esse momento com a profundidade e o respeito necessários acaba frustrada. O roteiro, que nos fez percorrer sete episódios recheados de nuances e conflitos mal resolvidos, opta por finalizar os arcos mais importantes com pressa e pouca coragem.
Desde o início, a série sustentou duas grandes frentes narrativas. A primeira era a construção do império criativo de Bolaños. A segunda, e talvez mais delicada, era sua relação extraconjugal com Florinda Meza e o impacto disso em sua vida pessoal e profissional. Ao longo da temporada, o roteiro parecia moldar a narrativa com certo cuidado, amenizando o peso do envolvimento entre Roberto e Margarita Ruiz.

No entanto, ao chegar ao desfecho, não há espaço digno para encerrar esse capítulo. O episódio final corre para concluir a história, com cenas que mais sugerem do que afirmam, mais limpam a imagem de seu protagonista do que realmente encaram suas contradições.
O mesmo acontece com o destino de Carlos Villagrán. Apresentado durante toda a série como uma figura antagonista, movida por vaidade e ressentimento, Villagrán termina sua participação sem o desenvolvimento necessário. O roteiro menciona os processos e a saída de Quico do programa, mas ignora um fato importante e facilmente dramatizável: sua ida para a Venezuela, onde formaria uma parceria com Ramón Valdés em um novo projeto. O que poderia ser um bom encerramento para a trajetória dos dois, se resume a uma cena sensível entre Ramón e Bolaños que, infelizmente, não leva a lugar algum.

A margem da própria história
Maria Antonieta de las Nieves também termina a série do mesmo modo como esteve nela o tempo todo: à margem. Uma das personagens mais importantes do universo de Chaves e Chapolin, é retratada quase como figurante de luxo, usada apenas para reforçar o aspecto emotivo ou nostálgico da trama. Edgar Vivar segue o mesmo caminho. Ambos são tratados com carinho, mas sem nenhum protagonismo. É uma escolha que, embora compreensível dentro da lógica interna da série, empobrece a representação do grupo como um todo.
Ainda assim, o episódio final não é desprovido de méritos. Na emoção, ele acerta. As homenagens prestadas à obra de Bolaños são bonitas, com trechos de seus filmes, menções à sua filantropia e recriações visuais que resgatam o lado lúdico que sempre guiou seu trabalho. Esses momentos funcionam como uma despedida suave, construída mais com afeto do que com verdade.
Um final …
No balanço geral, a série cumpre parte de sua proposta. Homenageia o personagem e protege seu criador. O problema está justamente aí. Quando tenta ser biográfica, esbarra em fantasias convenientes. Quando ousa tocar em feridas, se omite antes de ir fundo. O resultado é uma série grandiosa no visual, com ótima direção de arte e reconstrução de época, mas com um roteiro fraco, atuações pouco inspiradas e escolhas narrativas que confundem quem não conhece a história real. Quem assiste sem referências pode tomar como verdade um enredo montado para preservar legados, e não para esclarecê-los.
Chespirito: Sem Querer, Querendo é bonita, nostálgica e bem-intencionada. Mas falta a ela o que sobrava em seu protagonista: coragem. Coragem para rir de si, para encarar as falhas, para transformar as dores em algo memorável. Como diria o próprio Chaves, foi “sem querer, querendo” que a série nos emocionou. Mas, talvez, pudesse ter ido além.
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