“Sem Querer, Querendo” escancara as disputas por trás do mito

O quinto episódio da série Chespirito, da Max, aprofunda ainda mais os bastidores de um dos maiores fenômenos da televisão latino-americana. Nessa altura, a narrativa começa a deixar de lado o encantamento infantil para mergulhar em disputas de poder, egos feridos e jogos de bastidores que moldaram a trajetória de Roberto Gómez Bolaños, tanto como artista quanto como empresário da própria imagem.

De um lado para o outro na TV Mexicana

Um dos destaques do episódio é a disputa entre as emissoras mexicanas pelo direito de exibir os programas “Chaves e Chapolin“. A série mostra como o sucesso de Bolaños ultrapassou o entretenimento, influenciando diretamente a economia da comunicação no México e balançando estruturas até então inquestionáveis. É um momento em que a série faz questão de destacar a grandiosidade do criador, não apenas como um comediante genial, mas como uma peça-chave no mercado televisivo. Para nós brasileiros, a série já chegou pronta, mas para os mexicanos, eles acompanharam a criação degrau a degrau, e pelo menos em certa medida, Sem Querer, Querendo, acaba dando luz para assuntos que nós não tínhamos noção.

Ao mesmo tempo, o episódio não poupa a intimidade de Bolaños. A deterioração de seu casamento é tratada com uma certa dureza, especialmente ao mostrar como a relação com Florinda Meza (a Dona Florinda) foi se intensificando e deixando marcas em seu relacionamento anterior. Há aqui um tom quase confessional e, ao mesmo tempo, controverso, que pode incomodar quem esperava uma abordagem mais equilibrada. Ao mesmo tempo, pode incomodar também para quem acompanha a vida dele a mais tempo, e esperava detalhes mais sórdidos e íntimos, tema que a série até o momento não avançou.

Foto: Divulgação MAX

Produção que revolucionou

Outro ponto forte do episódio é mostrar como a produção dos programas de Bolãnos foi evoluindo tecnicamente. A introdução de CGI e chroma key marcou uma mudança de paradigma para a TV mexicana, e a série acertou ao destacar como os atores também foram fundamentais nesse processo. Não eram apenas coadjuvantes, mas peças centrais na engrenagem do sucesso. Claro, também fica muito evidente que o pilar central era sim Roberto, inclusive, deixando claro que era dono dos personagens. Essa questão é um dos maiores problemas entre o criador e Carlos Villagrán.

Esse aspecto segue chamando atenção negativamente, o retrato de Carlos Villagrán, o eterno Kiko. A série insiste em colocá-lo como o antagonista da história, um personagem egoísta, mimado e conspirador. Essa abordagem vai na contramão do que muitos relatos históricos e colegas de elenco dizem sobre ele. Como ele é retratado, escancara o viés da narrativa, algo que fica ainda mais evidente ao lembrarmos que a produção tem a assinatura dos filhos de Bolaños. Ou seja, é uma versão da história contada por quem herdou o legado e a mágoa. Villagrán em uma entrevista recente disse que está produzindo um livro autobiográfico, e talvez possamos entender seu ponto de vista para o mesmo assunto, e finalmente poder comparar as versões.

Esse episódio manteve o ritmo envolvente da série, com reconstituições bem produzidas e um clima de bastidor que prende. Mas também reforça que Chespirito não é uma biografia neutra. É um ponto de vista. Uma homenagem marcada tanto pelo afeto quanto pelas cicatrizes.

Calendário de estreias: 

Ep 5: 3 de julho — Quem Ri Por Último 
Ep 6: 10 de julho 
Ep 7: 17 de julho 
Ep 8: 24 de julho 

SEM QUERER QUERENDO é uma produção da Warner Bros. Discovery, em parceria com a THR3 Media e a Perro Azul.