Chegamos ao sexto episódio de Doctor Who, intitulado como “Ladino (Rouge)”. Que apresenta uma estética bem Bridgerton, mas com um enredo que parece destoar um pouco com que foi apresentado até aqui. Vamos ao nosso review do episódio.

Flertando com Bridgerton em uma narrativa simples e fabular, “Ladino (Rogue)” é, até o momento, o episódio mais fraco dessa temporada de Doctor Who. Num primeiro momento, parece um capítulo demasiadamente centrado em si mesmo e, talvez por isso, suas questões tenham tido dificuldade de ultrapassar as barreiras narrativas e ganhar qualidade no escopo da temporada.

No entanto, isso não é totalmente verdade. Narrativas isoladas nunca foram um problema para a série, embora viagens para o passado tenham tido uma performance aquém do desejado nos últimos anos. Dada a dificuldade de alinhar o propósito da temporada com a aventura. Outro ponto é fazer com que o texto contribua para a linha corrente da série, mas Ladino faz isso de forma orgânica com o retrato da misteriosa senhora que se parece com a vizinha de Ruby, personagem que tem aparecido, encarnando diversas mulheres, desde “A Imensidão Azul”.

Doctor Who ou Bridgerton Who?

Ladino e Doutor
Reprodução: Disney+

Apesar de trabalhar numa estrutura já conhecida, em Doctor Who, “Ladino (Rouge)” não possui uma boa construção em seu próprio universo. Apresentando duas novidades, o personagem de Jonathan Groff e a família de Chuldurs, que disputam atenção e conduzem a história para lados completamente diferentes, resultando em emoções e marcas que não dialogam. Tamanha disparidade enfraqueceu a trama consideravelmente em seu aspecto de chamariz dramático.

As aves humanoides cômicas, habitando confortavelmente o vale da estranheza, algo bem Disney das ideias, também não ajudaram a dar uma cara melhor ao texto de Kate Herron e Briony Redman. Acredito que tenham ficado bem em acessórios, máscaras e figurinos, mas suas figuras remetiam constantemente ao aspecto cartunesco de “Bebês do Espaço” e” O Som do Diabo“, só que mais bobo e sem propósito.

A produção parece ter orientado uma escrita de roteiro que trouxesse um pouco de desenvolvimento para essa encarnação do Doutor, e apesar de tudo, ao menos esse aspecto do episódio foi atingido. No entanto, não considero que uma representação amorosa assim, de cara, tenha sido uma boa ideia para o 15º Doutor nesse ponto da temporada inaugural.

Em outra época da série, quando o aspecto mais romântico tomou a série com o 11º Doutor, sua figura já estava bem estabelecida, permitindo foco e compreensão de suas características nesse processo. River Song também teve seu tempo de maturação antes de protagonizar o romance.

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1813: O auge da cultura pop

Doutor
Reprodução: Disney+

Ladino (Groff) é apresentado como uma figura misteriosa, mesclando uma versão desconhecida do Doutor com um Jack Harkness mais tímido. Estar caçando os Chuldur comprometeu seu estabelecimento como personagem, mas ainda assim, foi possível aproveitar o pouco que o roteiro forneceu.

A situação mudou quando o flerte inicial entre o caçador de recompensas e o Senhor do Tempo tomou o centro das atenções, aumentando o contraste entre temáticas. Gostaria de ver o primeiro beijo romântico do Doutor em outro homem numa aventura onde eu já conhecesse mais os dois personagens. E onde a minha atenção não estivesse dividida em outras variantes narrativas. Foi um momento icônico e histórico para a série, mas foi dramaticamente precipitado e não esteticamente bem capturado.

Faltando apenas dois episódios para o final da temporada, essa pausa em 1813 levanta perguntas sobre a figura interpretada por Susan Twist, o mistério da temporada parece mais interessante que a própria origem de Ruby. Sobre o futuro do 15º Doutor com Rogue, aquela mensagem final: “me encontre”; sugere futuros retornos do personagem e sobre a verdadeira identidade de Ruby.

Não posso deixar de mencionar o quanto Millie Gibson estava deslumbrante nesse episódio. Com uma adaptação de “Bad Guy”, de Billie Eilish, para orquestra e o Doutor colocando um anel de compromisso no dedo. O episódio não esteve à altura dos anteriores da temporada, mas ainda assim conseguiu manter a qualidade acima da média. Querendo ou não, é um ponto positivo.