Chegamos ao quinto episódio de Doctor Who, “Ponto e Bolha (Dot and Bubble)”, e assim alcançamos a reta final da primeira temporada do 15º Doutor. A série vem se tornando um enorme sucesso de público e ao mesmo tempo trabalhando com temas que agregam ao canône do universo whovian.
Vamos iniciar a review destacando a ausência do Doutor na maior parte de dois episódios consecutivos desta 2ª Nova Série. Nos bastidores, sabemos que o ator Ncuti Gatwa estava finalizando as gravações da temporada final de Sex Education. E sua agenda apertada resultou nos primeiros episódios da nova fase de Doctor Who sendo do tipo Doctor-lite. Para alguns espectadores, essa ausência prejudica a série, dificultando a conexão com o 15º Doutor.
No entanto, até o momento, Gatwa tem compensado bem sua ausência nesses dois episódios. Vale ressaltar que ele tem mais tempo de tela aqui do que em 73 Jardas. Além disso, as histórias dos episódios 4 e 5 foram escritas com grande cuidado, até mais que os capítulos iniciais da temporada, Bebês do Espaço e O Som do Diabo, garantindo que o Senhor do Tempo tivesse o impacto dramático necessário, que a trama e os demais personagens seguissem firmes sem ele, mantendo o público atento e interessado no desenrolar da história.
Uma crítica atual, mas totalmente disfarçada
“Ponto e Bolha (Dot and Bubble)” é mais um episódio que aborda “temas contemporâneos” com uma nova roupagem, incorporando aspectos estéticos e conceituais de Black Mirror e referências de Wall.E. O episódio trata de dependência tecnológica e a redescoberta da socialização fora das telas. Assim como “Boom” e “73 Jardas“, este episódio experimenta na forma e entrega um dos melhores finais da série desde 2005, com grande peso e significado dramático.
Escrito por Russell T. Davies, o roteiro é baseado em uma ideia proposta por ele a Moffat em 2010, que não foi realizada na época por limitações tecnológicas e orçamentárias. Agora, Davies explora o vício em telas, a troca da vida real pela virtual e a perda dos componentes humanos em favor do eletrônico. Ele extrapola a bolha azul, levando o público a refletir sobre questões mais sérias de maneira envolvente.
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As novas diretrizes de produção influenciaram claramente a abordagem de Davies, mas a mensagem foi transmitida de forma grandiosa e sem floreios. No episódio, o Doutor e Ruby tentam ajudar à distância uma jovem chamada Lindy Pepper-Bean (Callie Cooke), integrante de um grupo de jovens milionários em um “planeta de treinamento e lazer“. A narrativa evolui de uma simples sátira de “faria limers intergalácticos” para uma luta contra alienígenas semelhantes a lesmas super evoluídas, de maneira fluída e envolvente.
Davies manipula nossas emoções, nos fazendo torcer pelos personagens e desejar que se libertem de suas bolhas tecnológicas. Com um elenco bem escolhido, uma trilha sonora esplêndida e uma direção de fotografia marcada por tons claros e pastéis, a saga de Lindy nos cativa. Apesar de alguns diálogos deslocados e uma direção que poderia aproveitar melhor o espaço externo, o episódio é um exercício interessante e bem executado.
Uma hora a bolha estoura
Então, chegamos ao ato final. O Doutor e Ruby fazem com que algumas pessoas desliguem suas bolhas e sigam até um ponto que ele considera seguro. A segurança da cidade impede a materialização da TARDIS ou qualquer ação do Senhor do Tempo fora daquele subterrâneo não coberto pela vigilância local. Com pouco tempo disponível, já que as pessoas estavam sendo atacadas pelos invasores. O Doutor opta por atrair os internautas-escravos para um local seguro em vez de tentar resolver o problema de acesso total à cidade. Essa foi uma solução inteligente do roteiro, que também explica por que o Doutor não poderia ajudar os racistas e classistas depois que saíssem da área de proteção.
A manifestação de preconceito racial e de classe que Lindy e seus amigos dirigem contra o Doutor é atroz e enraivecedora. E assim, preparando o terreno para um dos finais mais impactantes do programa. O extremismo ideológico é retratado aqui em sua forma mais cruel. O Doutor, sendo a pessoa maravilhosa que é, ignora, ainda assim implora para que permitam que ele os ajude. Ao não permitir a diferença, a diversidade, e ao agir contra o que outro ser vivo poderia oferecer para o bem de todos, esses indivíduos causaram sua própria extinção. Que mensagem poderosa que “Ponto e Bolha (Dot and Bubble)”, traz em Doctor Who! Mas é aquilo: supremacista branco bom… é supremacista branco morto.
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