Após a calmaria estratégica do episódio anterior, a série entrega aqui seu momento mais devastador, emocionalmente complexo e narrativamente ousado
O sétimo episódio de Bem-vindos ao Derry se firma como uma obra-prima justamente por compreender o valor do contraste. A serenidade quase enganosa do episódio seis não era pausa, era preparação. Direção e roteiro conduzem o espectador até o ápice emocional da série, equilibrando drama, terror e construção de universo com uma precisão rara em produções derivadas de filmes ou livros.
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Esse equilíbrio é o que diferencia Bem-vindos ao Derry. Poucas séries conseguem condensar uma mitologia tão vasta em apenas oito episódios sem perder densidade, e menos ainda conseguem expandir esse universo sem diluí-lo. Aqui, tudo funciona porque a narrativa confia em seus personagens, entende o peso das escolhas e permite que o horror nasça da empatia, não apenas do susto.
A construção do vilão é parte essencial desse impacto. Pennywise não é tratado como um antagonista que surge apenas no clímax para ser derrotado. Ele atravessa todas as etapas da história, influencia decisões, molda destinos e carrega uma presença constante. Entendemos sua origem, suas motivações e, sobretudo, a separação entre a figura do palhaço e a entidade macabra que existe por trás da máscara. Essa distinção torna o terror mais simbólico, mais psicológico e muito mais perturbador.
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Dentro desse contexto, a morte de Rich se impõe como o momento mais forte da série até agora. Não apenas pelo choque, mas pela atmosfera construída em torno da perda. Rich era um personagem cativante, alguém que conquistou espaço com naturalidade, propósito e humanidade. Sua trajetória não era acessória, ela tinha sentido dentro da narrativa, e sua ausência reverbera em cada cena seguinte.
Uma série sem medo de matar seus protagonistas!
A série nunca teve medo de matar seus protagonistas. Desde o início, o horror da morte de crianças sempre foi parte da construção de Pennywise, um elemento que alimenta sua força e aprofunda seu simbolismo. No entanto, aqui há algo diferente. A morte de Rich carrega um peso emocional específico, porque ele se estabelece como um verdadeiro herói dentro da trama. Não um herói por acaso, mas alguém que escolhe agir, que entende seu papel e que paga um preço alto por isso.
Curiosamente, Rich conquista esse lugar de mocinho com mais facilidade do que muitos outros personagens que carregam esse arquétipo no universo de It. Mesmo diante de crianças que já conhecemos dos filmes e de novos protagonistas que também assumem funções heroicas, ele se destaca. O roteiro reconhece isso e explora essa dimensão com inteligência, concedendo a ele um espaço simbólico que vai além da simples função narrativa.

Ação e emoção comandam esse episódio
A batalha entre as crianças e Pennywise ganha ainda mais força a partir dessa perda. Cada gesto passa a carregar luto, medo e responsabilidade. As crianças desta série demonstram uma profundidade emocional mais complexa do que as versões cinematográficas. Os filmes funcionam muito bem, mas a série permite ir além, justamente por estar em construção. Aqui, entendemos por que essas crianças foram escolhidas e por que elas sustentam o protagonismo que recebem.
E é justamente nesse episódio que se encontra uma das cenas de terror mais interessantes das séries atualmente. Quando Pennywise liga para Will, que o confronta e acaba despertando a ira mais absoluta do palhaço assassino. Uma cena que mistura medo e terror, e uma atuação magistral tanto de Blake Cameron James, o Will, como de Bill Skarsgård. Essa cena vai ficar na memória.
Dick Hallorann também segue como um dos grandes destaques pra mim de toda a série. Mesmo não sendo o protagonista declarado, ele assume um papel central, ganhando camadas, história própria e conexões simbólicas com outras obras de Stephen King, especialmente O Iluminado. Diferente de versões anteriores, ele deixa de ser figura funcional e passa a ser pilar dramático.
O sucesso crescente de Bem-vindos ao Derry se explica por essa coragem narrativa. A série cresce a cada semana porque não subestima o público. Ela amadurece, aprofunda seus temas e assume riscos reais, algo cada vez mais raro em produções do gênero. Essa ascensão orgânica transforma a série em algo maior do que um derivado, ela se consolida como uma obra que entende o horror não apenas como medo, mas como perda, escolha e consequência.
Foto de Capa: Brooke Palmer/HBO
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