A série aposta em clima de luxo e manipulação, mas demora a construir impacto e profundidade em seus personagen

Todos os episódios da primeira temporada de Malice, a nova série de suspense da Prime Video, já estão disponíveis. A produção combina uma trama de vingança com uma estética de sátira social ao estilo The White Lotus, focada em pessoas ricas e nem sempre fáceis de gostar.

Desde o início, já fica claro que há algo de errado com o aparentemente carismático tutor Adam (Jack Whitehall). A série abre com um flashback em que ele é detido por agentes alfandegários em um aeroporto dos Estados Unidos e confrontado com provas de que um destino terrível, ainda não explicado, recaiu sobre o patriarca da família Tanner, Jamie (David Duchovny). Assim, Malice parte da certeza de que Adam está envolvido em algo sério e está longe de ser apenas um convidado inofensivo.

Um começo lento, mas revelador

Criada e roteirizada por James Wood (The Great, Trying), a série reforça repetidamente a sensação de que Adam não é quem aparenta. A ação se passa inicialmente na ensolarada Grécia, onde os Tanner, Jamie, sua esposa Nat (Carice van Houten) e os filhos passam férias ao lado dos amigos londrinos Jules (Christine Adams) e Damien (Raza Jaffrey). Jules contrata Adam para dar aulas particulares à filha. Mas, assim que ele chega à casa de praia, começa a colocar em prática um plano meticuloso para desestabilizar a família.

De forma calculada, Adam envenena comidas, provoca a família com pequenas manipulações, flerta com Nat e prepara armadilhas que se fecham em ritmos diferentes, algumas rápidas, outras apenas no final da temporada. A construção desse clima de tensão é eficaz, embora o ritmo inicial seja mais lento do que o esperado para um thriller.

Malice, nova série do Prime Video se perde no ritmo

Jamie (David Duchovny e Adam (Jack Whitehall) dividem o protagonismo em Malice | Foto: Divulgação Prime Video

Vingança e dinâmica familiar

Jack Whitehall se destaca como Adam mesmo que o roteiro demore a revelar de fato os motivos por trás de sua sede de vingança, algo que só acontece no último episódio. A série sugere várias vezes que Jamie talvez mereça parte do que está por vir, como o próprio Adam insiste. Ainda assim, Duchovny interpreta o personagem como alguém mais arrogante e insensível do que propriamente monstruoso, o que reforça Adam como a figura verdadeiramente ameaçadora da trama.

Um ponto fraco é que Malice não se aprofunda tanto na perspectiva dos Tanner, o que limita o impacto das descobertas. Damien assume brevemente o papel de investigador do passado de Adam, mas sua linha narrativa é descartada antes de gerar qualquer revelação significativa. A série chega a introduzir uma suposta prisão de Adam na Tailândia, envolvendo um possível assassinato, mas abandona essa pista quase tão rápido quanto a apresenta.

As constantes mudanças de cenário, entre Grécia e Londres, também acabam tirando força da narrativa. Em vez de concentrar o suspense em uma única viagem que deu terrivelmente errado, a série se dispersa entre rotinas e deslocamentos que pouco acrescentam.

Nova série Malice do Prime Video
Adam desta destruir a família Tanner no decorrer dos seis episódios |Foto: Prime Video

Vale a pena ver Malice?

Para quem é muito fã de thrillers psicológicos, Malice tem seus atrativos, sobretudo nas atuações e no clima de tensão crescente. No entanto, a série sofre com um tom irregular, especialmente no início, e demora a engrenar. Às vezes se apresenta como uma sátira leve sobre a vida de ricos despreocupados, sustentada pelo humor ácido e pelo charme relaxado de Duchovny. Em outros momentos tenta abrir espaço para a crítica social, seguindo a linha de pessoas ricas sendo terríveis, mas sem profundidade suficiente para isso.

Com o sucesso de produções como The White Lotus e seus diversos derivados, o padrão para esse tipo de narrativa ficou mais alto e Malice não chega a inovar dentro do gênero. Embora Whitehall e Duchovny defendam bem seus papéis, seus personagens não ganham camadas suficientes para irem além do básico, o psicopata vingativo e o rico insensível.

Malice acaba funcionando como um entretenimento competente, porém previsível. Um thriller que cumpre seu papel como passatempo, mas que raramente surpreende, e que muitas vezes parece operar no piloto automático.

Imagem de capa: Divulgação Prime Video