Dividida em duas partes, Wandinha entrega boas reviravoltas, mas sofre com excessos de mistérios e participações pouco aproveitadas

A Netflix decidiu repetir a estratégia já usada em outros títulos de sucesso: lançar a 2ª temporada de Wandinha (Wednesday) em duas partes.

O resultado, no entanto, foi controverso. A primeira metade construiu tensão e mistérios interessantes, mas a pausa de um mês esfriou o entusiasmo dos fãs.

Quando a Parte 2 chegou, ela trouxe revelações, novos vilões e um desfecho satisfatório, mas deixou claro que a narrativa funcionaria melhor em uma temporada contínua ou até em um modelo de episódios semanais, que manteria o suspense mais vivo.

Gwendoline Christie retorna a Wandinha.
Jenna Ortega na série | Crédito: Bernard Walsh/Netflix

Segredos da família Addams e novos vilões em Nevermore

A trama retoma exatamente de onde paramos: Wednesday (Jenna Ortega) sobrevive à queda em Willow Hill, enquanto Tyler (Hunter Doohan) foge após assassinar seu mestre.

A partir daí, Nevermore volta a ser palco de conspirações, mortes e segredos de família. Embora a temporada apresente novos vilões, a falta de preparação na Parte 1 torna alguns deles menos impactantes, o que prejudica o peso das revelações.

Ainda assim, a essência permanece: uma jovem protagonista dividida entre sua investigação quase sherlockiana e os dilemas de pertencer a uma família tão excêntrica quanto lendária.

Um dos grandes temas que voltam a aparecer é a exploração do passado dos Addams. Morticia (Catherine Zeta-Jones) e Gomez (Luis Guzmán) ganham novos capítulos, conectados à identidade misteriosa da paciente interpretada por Frances O’Connor.

O movimento é ambíguo: por um lado, mergulhar na história da família é fascinante; por outro, a insistência em ligar todos os arcos relevantes aos Addams tira parte da originalidade da série.

O resultado é uma narrativa que, em certos momentos, lembra mais um drama adolescente do que a atmosfera macabra que fez de Wandinha um fenômeno.

Nova temporada de Wandinha
Lady Gaga chegou com mistério e música inédita | Crédito: Reprodução/IMDB

Participações especiais dividem opiniões em Wandinha

As participações especiais também chamaram atenção. Lady Gaga, anunciada com enorme expectativa, aparece como Rosaline Rotwood, uma figura sombria e misteriosa.

Embora sua atuação seja competente, o papel é breve e pouco necessário até o momento: a série seguiria sem prejuízo algum caso ela não estivesse no elenco.

Em contrapartida, Fred Armisen, que trouxe vida e humor ao icônico Tio Chico, surge apenas no último episódio, em uma cena curta que deixa um gosto de desperdício. Um personagem tão carismático merecia espaço maior para brilhar.

No entanto, a Parte 2 não é feita apenas de frustrações. Jenna Ortega segue impecável como a protagonista de humor ácido e olhar impassível, consolidando sua performance como o coração da série.

O destaque, contudo, vai para Emma Myers, que vive Enid, a colega de quarto de Wandinha. No sexto episódio, inspirado em Sexta-feira Muito Louca (2003), as duas trocam de papéis, permitindo que Ortega e Myers explorem novos registros. O resultado é um dos capítulos mais divertidos da temporada, que equilibra humor e estranheza com eficiência.

Review Wandinha
A Família Addams está mais presente nesta temporada | Crédito: Netflix/Divulgação

Tim Burton intensifica o clima sombrio

Tim Burton comandou metade dos episódios, incluindo os dois finais, e trouxe de volta sua marca registrada: cenários sombrios, personagens excêntricos e uma abordagem que não teme lidar com a morte e o bizarro.

Os episódios 7 e 8 amarram os arcos com um olhar mais sombrio, reforçando a identidade visual da série e deixando ganchos para a próxima temporada.

Ainda assim, o excesso de subtramas pesa contra a produção. Wandinha tenta ser, ao mesmo tempo, uma série de investigação, um drama adolescente e uma saga familiar.

A 1ª temporada conseguiu equilibrar melhor esses elementos, mas a segunda se inclina demais para o passado dos Addams, enfraquecendo o desenvolvimento da nova geração de alunos de Nevermore. A sensação é de que o roteiro se dispersa, criando reviravoltas que não foram preparadas de forma satisfatória.

Apesar dos problemas, a temporada consegue entregar momentos marcantes e manter o público envolvido. Há reviravoltas inesperadas, um desfecho que resolve bem os principais mistérios e, claro, novos ganchos que apontam para a 3ª temporada.

A crítica maior, no entanto, recai sobre a decisão de dividi-la em duas partes. A espera desnecessária entre blocos quebrou o ritmo da narrativa e diminuiu o impacto do suspense.

Vale a pena assistir a 2ª temporada de Wandinha?

Sim, vale. Embora a série sofra com excesso de subtramas, romances pouco relevantes e participações especiais mal aproveitadas, ela mantém sua identidade sombria, entrega boas atuações e garante um desfecho satisfatório.

Para quem se encantou com a primeira temporada, a segunda continua sendo um prato cheio, ainda que menos consistente. Os fãs encontrarão mistério, humor ácido e estética afiada, além de ganchos promissores para o futuro de Wandinha Addams.

Imagem de capa: Netflix/Divulgação