Superstar resgata figuras da cultura televisiva dos anos 2000, mas sua liberdade criativa por vezes beira o caótico

Em um mar de produções convencionais, Superstar chega à Netflix com a promessa de fazer algo completamente diferente, e, em muitos sentidos, cumpre.

Criada por Nacho Vigalondo e produzida pelos aclamados Javier Ambrossi e Javier Calvo (também conhecidos como Los Javis), a minissérie espanhola mistura realismo mágico, ficção científica e melodrama pop para revisitar a era do “Tamarismo”, fenômeno midiático que marcou a televisão da Espanha na virada do milênio.

Ao longo de seis episódios, a série foca em Tamara, hoje Yurena, e figuras excêntricas como Leonardo Dantés, Tony Genil e Paco Porras, celebridades que habitaram talk shows sensacionalistas e viraram sinônimo de escárnio e adoração.

Review Superstar
Superstar é uma viagem alucinante e emotiva pelo passado midiático da Espanha | Foto: Reprodução/IMDB

Superstar: uma reconstrução fantástica e sensível de Yurena

A proposta de Superstar é clara: recontar essa história sob uma ótica mais humana e menos cínica. Para isso, a série mergulha na fantasia e transforma cada capítulo em um universo próprio, tanto visual quanto narrativo.

Essa abordagem ousada resulta em momentos brilhantes, o episódio final, por exemplo, traz um embate metafórico entre diferentes versões de Yurena em um multiverso simbólico e comovente.

Há também um esforço de empatia no tratamento das personagens, Ingrid García-Jonsson foge da caricatura ao interpretar a protagonista com sensibilidade, enquanto o restante do elenco entrega performances à altura do desafio.

Review minissérie Superstar
Superstar reconstrói um dos momentos mais marcantes da cultura pop espanhola | Foto: Reprodução/IMDB

Entre excessos e empatia: os riscos ao reinventar o passado

Contudo, a própria liberdade criativa que define a série é também o que a enfraquece. Em diversos momentos, Superstar se torna confusa, atropelada por suas próprias intenções experimentais.

A estrutura antológica, aliada ao excesso de referências visuais e à ausência de uma linha narrativa clara, pode afastar espectadores que buscam uma experiência mais coesa.

A série rejeita a linearidade com tanta veemência que, em certos trechos, perde força justamente por não oferecer ancoragem emocional suficiente.

Ainda assim, Superstar se destaca como um projeto único. Sua recusa em ser apenas um drama biográfico e seu desejo de reimaginar, e não apenas recordar, um momento histórico da cultura popular espanhola fazem dela uma obra relevante.

Não é uma produção fácil, nem sempre acessível, mas é provocadora e, acima de tudo, movida por uma sinceridade rara. A série não entrega verdades absolutas, mas propõe uma reinterpretação. E ao fazê-lo, oferece algo que a mídia da época negou a muitos de seus personagens reais: dignidade.

Imagem de capa: Reprodução/IMDB