Um ponto de ruptura, em há tantos problemas de percurso
O título deste episódio soa irônico diante dos problemas que ele apresenta. “Convergência” deveria ser um capítulo, em The Last of Us, que unifica os diversos elementos narrativos da temporada, mas o resultado é um episódio atropelado e decepcionante.
O segmento envolvendo Jesse e Ellie, por exemplo, é condensado em poucos minutos, marcados mais por diálogos moralistas do que por desenvolvimento significativo. Ainda que, desta vez, o roteiro permita a Ellie reagir, o tratamento do seu arco continua problemático. Sua dificuldade em lidar com determinadas situações compromete tanto o carisma da personagem, alimentando críticas injustas à atuação de Bella Ramsey, quanto a eficiência das cenas de ação.
Além disso, o excesso de trama comprimido em apenas uma hora confirma o maior temor, um final de temporada apressado. A narrativa apresenta material suficiente para ser desdobrada em pelo menos três episódios, mas tudo é condensado em um ritmo acelerado que prejudica o impacto emocional.
Um início promissor, mas insuficiente
Apesar dessas falhas, o início do episódio no teatro funciona bem. O drama entre Ellie e Dina mantém sua força, especialmente na cena em que Ellie revela os atos de Joel em Salt Lake City. A adaptação desse momento é sensível, melancólica e respeita o tom reflexivo e moralmente ambíguo do material original. Trata-se de um exemplo claro da qualidade que a série demonstrou ao longo da temporada, ao abordar a perda da inocência de Ellie e sua inserção gradual em um ciclo de vingança, um clichê, mas ainda assim bem executado.
O pequeno conflito com Jesse insinua a tensão que culminaria mais adiante. Fiquei particularmente curioso sobre como seria a adaptação do bloco em que ambos exploram Seattle em busca de Tommy.

Infelizmente, é neste ponto que os problemas de “Convergência” se intensificam. A narrativa desperdiça o potencial dramático e estético do cenário de Seattle, sem grandes set-pieces e mais uma vez sem a presença dos infectados. O que poderia ser um episódio completo, centrado na busca de Ellie e Jesse por Tommy, acaba reduzido a um segmento breve e pouco memorável.
A mesma pressa se repete nos demais blocos narrativos, a cena de Ellie no mar, a captura na floresta, o confronto com Mel e Owen no aquário, e a sequência final no teatro. Todas são tratadas com velocidade excessiva, prejudicando o desenvolvimento dos personagens e a construção de tensão. É evidente que a intenção dos roteiristas era encerrar a temporada com a introdução de Abby, preparando o terreno para a próxima fase da narrativa, mas a falta de organização comprometeu o resultado. A impressão que fica é de que a limitação orçamentária impediu a expansão necessária para contar essa história com a profundidade merecida.
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A pressa afeta o envolvimento emocional
Essa estrutura fragmentada e apressada afeta diretamente o envolvimento do público. Não há tempo para que a audiência absorva a tensão das passagens mais importantes, como a travessia por Seattle, o acidente de barco ou a captura pelos Serafitas. Além disso, falta o elemento de gameplay que a série havia reproduzido com tanta competência anteriormente, bem como o desenvolvimento de personagens coadjuvantes e a presença dos infectados.
Ellie, que deveria brilhar como protagonista de ação e aventura, acaba mais uma vez ofuscada, e isso não é responsabilidade de Bella Ramsey, cuja atuação permanece consistente, mas sim das escolhas narrativas. A mistura apressada de núcleos, já problemática em episódios anteriores como “Através do Vale”, atinge aqui seu ponto mais crítico.

Ainda assim, o episódio possui méritos importantes. A temporada, apesar de suas imperfeições, entregou grandes momentos e uma adaptação eficiente dos melhores elementos do segundo jogo, incluindo seus temas centrais. Particularmente, acredito que a série poderia ter alterado alguns aspectos da trama, como a ausência de Abby na primeira metade, mas reconheço que a jornada até aqui foi sólida.
Destaco também a perturbadora sequência em que Ellie mata Owen e Mel. A cena, ainda mais cruel que no jogo, ganha intensidade adicional com o diálogo entre Ellie e uma mãe desesperada para proteger o próprio filho. Esse momento reforça o arco de egoísmo e vingança de Ellie, culminando com a brutal cena final no teatro, marcada pela morte de Jesse e pelo retorno impactante de Abby.
Um final apressado, mas com boas expectativas
Porém, mesmo com essas qualidades pontuais, “Convergência” não alcança o clímax que o segundo ano de The Last of Us merecia. A abordagem fragmentada prejudica tanto o desenvolvimento narrativo quanto a direção dramática, que soa apressada e incapaz de proporcionar à audiência o tempo necessário para assimilar as despedidas mais marcantes, como a morte de Owen e Mel, que poderia ter encerrado o episódio de forma mais impactante.
O episódio deixa uma sensação de subutilização de cenários, personagens e set-pieces (quem ainda lembra de Isaac?). A decisão de condensar a temporada em apenas sete episódios roubou da audiência a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento completo das diversas tramas apresentadas. Ter mais episódios, nove ou dez, certamente teria beneficiado a narrativa.
Apesar da decepção, “Convergência” mantém o tom sombrio e reflexivo do universo de The Last of Us, entrega alguns momentos dramáticos relevantes e estabelece, com clareza, o início do arco de Abby para a próxima temporada. Resta agora torcer para que, no próximo ano, a série consiga dosar melhor sua estrutura e ritmo, fazendo jus à complexidade emocional e narrativa do material original.
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