Uma Seattle infernal, um episódio meio cansado
O episódio “Dia Um” estabelece de forma intensa o tom de violência e desolação que Ellie e Dina enfrentarão na temporada. Desde a abertura, a série não demonstra qualquer receio em mergulhar no horror visceral e na brutalidade já presentes no material original do jogo The Last of Us Part II. Com uma abordagem corajosa e cinematográfica, o capítulo se destaca tanto na construção de mundo quanto no desenvolvimento emocional das protagonistas.
A narrativa se inicia com um prólogo ambientado anos antes da linha principal, apresentando o personagem Isaac (Jeffrey Wright), em sua versão live-action. O sargento da FEDRA assassina seus próprios companheiros, revelando sua real filiação à WLF, o grupo paramilitar do qual Abby faz parte nos jogos.

Apesar de breve, o segmento é eficaz ao apresentar um antagonista complexo e perigoso. Isaac incorpora o arquétipo do revolucionário que se transforma em tirano, típico de narrativas pós-apocalípticas. A atuação de Wright, como esperado, é poderosa, sua presença transmite frieza e um senso constante de ameaça.
Em sua segunda cena, Isaac protagoniza uma tortura brutal contra um membro dos Serafitas. A sequência é intensa, com um discurso metódico que evoca personagens como Hannibal Lecter. A performance é elevada pelo trabalho de Ryan Masson como a vítima, visceral, fanático e fiel à doutrina extrema de seu grupo religioso.
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Guerra, doutrinas e horrores humanos

O episódio reforça os horrores reais do mundo de The Last of Us, desde os uniformes carregados de símbolos autoritários até cultos que conduzem seus seguidores a atos impensáveis. “Dia Um” amplia a mitologia do universo da série, evidenciando o conflito crescente entre WLF e Serafitas, e contextualiza a jornada de vingança de Ellie dentro de algo muito maior.
O roteiro de Craig Mazin opta por uma estrutura que expande elementos do segundo jogo, com foco nas consequências de cada ação e nos diversos lados da guerra. A direção de Kate Herron e o design de produção trabalham juntos para oferecer um escopo ambicioso, digno de grandes produções televisivas, com locações que remetem diretamente ao estilo de fases dos games.
Um dos grandes destaques de “Dia Um” é como o episódio incorpora a linguagem de gameplay. A exploração de Ellie e Dina por uma Seattle em ruínas é repleta de pistas visuais e narrativas ambientais. A busca por suprimentos, o stealth diante da ameaça militar e o combate tenso evocam o ritmo e as sensações do jogo.
A sequência na estação de televisão, seguida pela fuga para o metrô, é exemplar. Com uma coreografia mistura tensão e horror, com iluminação estratégica e obstáculos claustrofóbicos. A ação se intensifica de forma orgânica, culminando em um confronto com uma horda de infectados. Mesmo cenas que poderiam parecer inverossímeis, como Bella Ramsey imobilizando um inimigo maior, são bem executadas dentro do contexto.
Intimidade e vínculo emocional entre Ellie e Dina

Apesar da brutalidade, o episódio reserva espaço para momentos de ternura. O relacionamento entre Ellie e Dina é aprofundado com sensibilidade. A cena em que Ellie toca “Take on Me”, do A-ha, emociona pela direção simbólica e pelo cuidado técnico. A iluminação e o cenário refletem a fragilidade do momento e a memória de Joel, reforçando o vínculo entre as personagens.
O episódio também aborda a gravidez de Dina, revelando nuances do relacionamento. Embora alguns diálogos soem abruptos ou até desconfortáveis, como o comentário sobre “ser pai”, o tom geral é íntimo e delicado. Isabela Merced se destaca com uma atuação expressiva e comovente, muitas vezes ofuscando Bella Ramsey, ainda que ambas ofereçam performances consistentes.
“Dia Um” é um episódio impactante e ambicioso, que mescla ação brutal, terror psicológico e drama emocional com grande competência técnica. A produção impressiona pelos efeitos práticos, pela direção precisa e pela expansão narrativa do universo da série. A introdução de Jeffrey Wright como Isaac adiciona uma nova camada de tensão e profundidade à história.
Mesmo com a ausência de personagens importantes como Abby e Tommy, o episódio cumpre seu papel como um divisor de águas na temporada. A série mostra fôlego para explorar a complexidade das facções e dos conflitos morais de forma madura e cinematográfica. Com um equilíbrio entre violência, emoção e construção de mundo, “Dia Um” é um capítulo essencial e promissor.
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